Resultados da ‘Guerra ao Terror’ foram pífios SVG: calendario Publicada em 16/08/11 18h07m
SVG: atualizacao Atualizada em 16/08/11 21h29m
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Análise é de jornalista que cobriu os conflitos do Afeganistão e do Iraque

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Após os atentados de 11 de setembro de 2001, quando aviões foram lançados contra as torres gêmeas, em Nova York, e contra outros símbolos norte-americanos, o governo de George W. Bush empreendeu o que foi chamado de “Guerra ao Terror”. Primeiro, a invasão militar do Afeganistão (ainda em 2001) e depois o Iraque, no início de 2003. A justificativa foi de que esses dois países abrigavam terroristas que eram uma ameaça aos Estados Unidos. Passados 10 anos, qual o resultado de toda essa política? Para o jornalista de Zero Hora (grupo RBS), Luiz Antônio Araújo, 44 anos, que participou da cobertura das guerras do Afeganistão e do Iraque, os resultados da “guerra ao terror” foram pífios.

Araújo, que é autor também da obra “Binladenistão” (lançada em 2009), ressalta que valeu a pena “para a indústria armamentista e algumas empreiteiras que abocanharam a reconstrução desses países”. O escritor, que lança em breve um novo livro – Guerra do Afeganistão, a imprensa brasileira foi e viu-, participa em Santa Maria, na próxima segunda, 22 de agosto, às 19h, do Cultura na SEDUFSM proposto para debater os reflexos do 11 de setembro. Luiz Antônio e o professor da UFSM, Rondon de Castro, analisam o papel da imprensa na cobertura dessas guerras, à luz do documentário “A guerra que você não vê”, de John Pilger, que será exibido a partir das 19h, na sede do sindicato (André Marques, 665). O tema da 48ª edição do Cultura na SEDUFSM prossegue na segunda, 29 de agosto, às 19h, com a palestra do professor de História da USP, Osvaldo Coggiola, que abordará “O terrorismo e os reflexos do 11 de setembro”.


Acompanhe a seguir a entrevista concedida ao site SEDUFSM pelo jornalista Luiz Antônio Araújo:

P- Passados 10 anos dos atentados de 11 de setembro, qual o balanço que se pode fazer dos reflexos desse episódio para o planeta?

R- O 11 de Setembro foi uma atrocidade na qual morreram mais de 3 mil pessoas, incluindo três brasileiros, a imensa maioria delas sem qualquer relação política ou profissional nem compromisso com a condução dos assuntos externos dos Estados Unidos. Foi um crime bárbaro, comparável a tantos na inútil história do terrorismo, e serviu de pretexto para duas guerras, no Afeganistão e, indiretamente, no Iraque. Ponto. Mas é evidente que o 11 de Setembro não foi um raio em céu azul. Se quisermos entendê-lo, teremos de investigar a história do Oriente Médio e da Ásia Central no final do século 20, especialmente depois do fim da União Soviética e da Guerra Fria. É isso que tento fazer em meu livro "Binladenistão - Um Repórter Brasileiro na Região mais Perigosa do Mundo". Quanto aos seus reflexos, foram desastrosos para toda a humanidade. Afirmar que a manutenção de 100 mil soldados americanos no Afeganistão para defender um governo corrupto como o de Hamid Karzai se justifica por propósitos humanitários e democráticos é uma piada de mau gosto e um insulto à memória dos mais de 1,6 mil homens das forças armadas americanas que perderam a vida lá, incluindo um brasileiro, Raphael Arruda, de apenas 21 anos. A própria secretária de Estado, Hillary Clinton, chamou o Afeganistão de "narcoestado" em 2009 (ela certamente estava pensando nas ligações da família Karzai com o narconegócio). E não podemos esquecer que o Paquistão, outro aliado de primeira hora dos EUA, foi o porto seguro de Osama bin Laden durante 10 anos. O escritor Tariq Ali descreveu em seu livro "O Duelo" (Record, 2010) um diálogo com um conhecido seu nas forças armadas paquistanesas que, perguntado sobre por que não entregavam Bin Laden, responde: "Por que iríamos matar a galinha dos ovos de ouro?". Enfim, como escrevi em "Binladenistão", não é possível pensar numa saída para essa situação sem uma profunda revisão das atitudes e políticas dos EUA para toda a região nos últimos 20 anos.

P- Após os ataques de 11 de setembro, os Estados Unidos e seus aliados, empreenderam uma política denominada de “Guerra ao Terror”, que se caracterizou pela invasão de países como Afeganistão e, posteriormente, o Iraque. Pela tua experiência de cobertura desses conflitos, a estratégia estadunidense foi exitosa?

R- Os resultados foram pífios. Do ponto de vista dos negócios, valeu a pena para a indústria armamentista e algumas empreiteiras que abocanharam a reconstrução desses países (vale lembrar que o Afeganistão, segundo recente reportagem de Zero Hora, tem a mesma extensão de rodovias asfaltadas que o Rio Grande do Sul, o que só se explica pela importância de boas estradas para as tropas de ocupação). Isso ocorreu, obviamente, a um custo humano e político insustentável. Os EUA, país cada vez mais afundado na maior crise econômica desde 1929, gastam 2,2 bilhões de dólares por semana para se manter no Afeganistão. Por mais que o presidente Obama fale em "guerra de necessidade", é difícil explicar para um funcionário público de Wisconsin por que ele tem de ficar sem salário enquanto há dinheiro para ocupar um país miserável e distante. A guerra do Afeganistão é a mais longa da história das intervenções dos EUA, maior do que as campanhas do México, das Filipinas, de Cuba, da Coreia, do Vietnã. Ainda hoje os soldados americanos dizem "Lembrem-se do Álamo", mas é improvável que alguém diga no futuro "Lembrem-se de Wardak", onde os talibãs derrubaram um helicóptero da Isaf (força da Otan), fazendo 38 mortos, 30 deles americanos. Aliás, o próprio governo Obama já abandonou há muito tempo a expressão "guerra global ao terror". É uma expressão que faz lembrar o "Sacro Império Romano", que não era sacro, nem império, nem romano. A guerra de Bush (que Obama herdou e, em certo sentido, aprofundou, ainda que tenha lhe mudado o nome) não era guerra, nem global, nem ao terror.

P- Percebes alguma relação entre a política norte-americana para o Oriente Médio e as recentes revoluções em países árabes?

R- Sem dúvida. A maioria dos ditadores e governantes corruptos de países árabes postos contra a parede pela chamada Primavera Árabe é de aliados dos EUA. O enviado dos EUA ao Egito durante a crise disse que Mubarak deveria continuar no cargo. Kadafi chegou a dizer que, se dependesse dele, Obama ficaria no governo dos EUA para sempre. A exceção é o ditador sírio, Bashir al-Asad, mas isso também é relativo, porque Asad pai apoiou firmemente o lado americano na primeira Guerra do Iraque. Não vimos muitas cenas de bandeiras americanas queimadas durante a Primavera Árabe como vemos na América Latina, por exemplo. Isso é algo que exige uma explicação. Mas o fato é que não houve melhor amigo dos EUA no Oriente Médio, depois de Israel, do que Mubarak.

P- Dizem que em uma guerra, a primeira a morrer é a verdade. Como avalias, de uma forma geral, a cobertura da imprensa em relação aos conflitos do Afeganistão e do Iraque?

R- Creio que, de uma maneira geral, a imprensa, especialmente a americana, foi vítima da narrativa oficial de que estávamos vivendo uma guerra contra o terror, o mal, os bandidos da Al Qaeda e de Saddam Hussein. Houve colegas que chegaram a aparecer armados em frente às câmeras nos EUA. A imprensa também comprou a versão de que Saddam tinha armas de destruição em massa. Houve, por outro lado, as honrosas exceções que não deixaram de fazer seu trabalho. Refiro-me a Seymour Hersh, Robert Fisk, Dana Priest, Jane Mayer e um punhado de outros. Creio que a imprensa brasileira, sempre que conseguiu ter enviados e apuração independente na região, também cumpriu sua missão. É o que pretendo mostrar no meu próximo livro.

Texto: Fritz R. Nunes
Foto: Arquivo pessoal do jornalista
Assessoria de Impr. da SEDUFSM

 

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