20 de novembro e os seus significados SVG: calendario Publicada em 20/11/12 18h23m
SVG: atualizacao Atualizada em 20/11/12 18h28m
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Ativistas opinam sobre a questão da consciência negra

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Material de divulgação da 24ª Semana Municipal da Consciência Negra

Diversos estados e municípios realizam atividades nesta terça-feira, 20, a fim de rememorar a morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares e maior expoente do movimento negro na história do país. Mas, a data, estabelecida através de um projeto de lei em 9 de janeiro de 2003, hoje também serve à reflexão acerca das conquistas, dificuldades e necessidades de superação que competem aos negros, historicamente alijados do acesso a direitos básicos. Em Santa Maria, as atividades lembrando a data iniciaram no dia 13 de novembro, na 24ª Semana Municipal da Consciência Negra.

A professora aposentada, escritora e ativista, Maria Rita Py Dutra, falou à Sedufsm sobre a importância do 20 de novembro e ainda opinou em relação à temas como cotas e o racismo entranhado na sociedade brasileira. O ex-vereador José Carlos Silva também foi ouvido e lembrou o período em que setores empresariais de Santa Maria se mobilizaram e conseguiram barrar os efeitos de um projeto aprovado na Câmara de Vereadores, que instituía o feriado do dia 20 de novembro.

Para a professora e militante do movimento negro, Maria Rita Py Dutra, a importância de rememorar Zumbi se dá em aspectos como o da formação da identidade dos negros, sua auto-afirmação e o reconhecimento nos feitos que marcaram a história do país. Maria diz que os negros não se enxergam na sociedade e nos mecanismos que essa desenvolve, como, por exemplo, nos meios de comunicação. “Onde estão os negros? Não estão como apresentadores de televisão, não estão nos telejornais, não estão nas propagandas. Todas as mulheres negras compram fraldas, você já viu uma propaganda de fralda com criança negra?”, exemplifica.

Maria Rita, que também é escritora de livros infantis e atua junto a mulheres negras catadoras, desenvolve, em Santa Maria, um projeto denominado “Ayo, o Guerreiro vai à Escola: esta escola é parceira rumo a uma sociedade livre do racismo e do preconceito”, da organização OCA Brasil. Ela explica que a ideia é passar em diversas escolas da cidade, principalmente as localizadas na periferia, disseminando aspectos da cultura negra. Érico Veríssimo, Walter Jobim, Chácara das Flores e Marista Santa Marta foram alguns dos colégios já visitados.

“Eu, enquanto negra e ativista do movimento negro, escolhi como missão trabalhar com a construção de uma sociedade mais humana, mais justa, em que tiremos o negro dessa situação de invisibilidade. E para fazermos isso temos de contar a nossa história, tanto para os negros quanto para os brancos”, defende. Para ela, é com pesar que ainda se mostra possível comparar os níveis alcançados e possíveis aos brancos, com o que se considera de direito dos negros.

Acrescenta Maria Rita que “precisamos de juízes negros para que o ladrão de galinha branco e o ladrão de galinha negro possam ter a mesma pena. Precisamos de médicos e enfermeiras negros para que as mulheres negras não morram no parto (pois os médicos pensam que as negras são fortes, então não dão a devida atenção). As nossas crianças negras são as que mais morrem, ainda que tenha diminuído o índice de mortalidade infantil negra”, constata Maria.

Negros e universidade

Quanto à situação dos negros na universidade, Maria Rita explica que, vencida uma batalha, que foi a de garantir a implementação das cotas raciais nas instituições federais de ensino, vêm outras necessidades pelas quais se fazem necessárias a mobilização. Ela problematiza a permanência do estudante cotista que ingressa no ensino superior e defende que esse deva ter prioridades, como passagem, alimentação, bolsa para ter acesso a xerox e livros, casa do estudante universitário.

Além disso, a professora diz que é necessária a discussão acerca do modelo de universidade e se serve ou não aos interesses da população negra. “Nós queremos que os cursos saiam dessa visão eurocêntrica, acadêmica, clássica, conservadora. Nós precisamos que esse aluno cotista, ao sair da universidade, seja cada vez mais comprometido com os negros. Para isso, esse estudante precisa se enxergar dentro da universidade”, argumenta Maria, que também diz existirem diversos sociólogos e escritores negros menosprezados pela academia brasileira.
“Temos que questionar o tipo de universidade que queremos, que história queremos contar, com que literatura queremos trabalhar. Os professores têm de olhar para os autores negros. A academia é muito branca”, diz.

Empresários rejeitaram Zumbi

José Carlos Silva, ex-vereador suplente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Santa Maria, tentou implementar em Santa Maria o que já existe em outras cidades do país: o feriado de 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Entretanto, não foram poucos os obstáculos que se colocaram frente ao seu projeto, que acabou sendo encoberto por uma cortina de fumaça, conforme diz o próprio autor.

O projeto de autoria de Silva foi aprovado no dia 13 de novembro de 2003 e, após, sancionado pelo então prefeito, Valdeci Oliveira, estabelecia o feriado a partir do ano seguinte. No entanto, houve uma mobilização do setor empresarial da cidade, que recorreu ao Judiciário, que por sua vez suspendeu o feriado. Conforme jornais da época, a direção do CDL chegou a afirmar que estariam querendo transformar o mês de novembro em um ‘novo fevereiro’, com apenas 23 dias.

“Na verdade, o projeto era para que, neste dia 20 de novembro, pudéssemos refletir sobre onde estão localizados os negros na sociedade, se estão conseguindo se firmar como atores nos espaços públicos e demais esferas do poder. Mas houve uma forte pressão do setor econômico da cidade, que alegou prejuízos do projeto para a economia municipal”, disse o ex-vereador, explicando que a proposta era legítima e possuía jurisprudência, mas que não foi levada adiante depois que o judiciário a barrou.

Texto: Bruna Homrich (estagiária)
Edição: Fritz R. Nunes (Jornalista da SEDUFSM)

 

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