Programa dificulta bolsa a estudantes de Humanas Publicada em
Atualizada em 26/11/12 11h19m
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Segundo o novo edital do programa federal Ciência Sem Fronteiras (CsF), estudantes de diversos cursos da área das Ciências Humanas, como Publicidade, Artes Plásticas, Cinema e Jornalismo, foram vetados de tentar as bolsas de intercâmbio oferecidas pelo programa. Ao todo, pelo menos 24 cursos foram excluídos. A justificativa apresentada para explicar tal ação foi de que, no Brasil, os cursos das Ciências Humanas não apresentam lacunas a serem preenchidas através de estudo complementar em universidades do exterior. Já os cursos das Ciências Exatas, Engenharias e áreas tecnológicas teriam essa demanda.

A submissão do Brasil às demandas do mercado estrangeiro pode ser um dos fatores que explicam as prioridades elencadas pelo CsF. Isso é o que pensa o presidente da Sedufsm e diretor do ANDES-SN, Rondon de Castro. “Não basta formarmos mão de obra especializada, temos que criar mão de obra especializada em ciência e tecnologia estrangeira. Para a universidade brasileira, não cabe desenvolver ciência, no xadrez do mercado internacional, mas consumir a tecnologia importada. Se vê o porquê das áreas prioritárias. As próprias universidades estrangeiras desenvolvem programas próprios para os latino-americanos, que passam ao largo da pesquisa, mas apenas para repassar a tecnologia via royalties. A lógica, trazida à baila pelo deslumbramento de estudar no exterior, é mandar estudantes para absorverem a tecnologia já pronta, adequada para atender às empresas estrangeiras que se interessem em se instalar no Brasil (ou já estão instaladas)”, argumenta Rondon.

No programa há uma área denominada Indústria Criativa, que já beneficiou 1.114 estudantes de Humanas. No entanto, com o novo edital, a definição dessa área foi alterada, de modo a não ser considerada tão abrangente. “A primeira definição tinha ficado muito frouxa e pessoas de áreas similares acharam que podiam ser incluídas [...] A ênfase continua sendo as áreas tecnológicas”, disse o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães.

Revolta

As alterações no CsF não foram bem recebidas por estudantes brasileiros, que já criaram um grupo no Facebook intitulado “Ciência Com Fronteiras”, contando com 700 membros. Os estudantes mobilizados vêm de áreas humanas, como de habilitações que integram o curso de Comunicação Social, que apostavam na chance e se preparavam para a seleção.

"Historicamente, as Ciências Humanas foram muito mais beneficiadas pelas universidades públicas, por isso muita gente se formou nesses cursos", explica a consultora em educação Ilona Becskeházy. "Agora o governo está sendo estratégico, priorizando a área que precisa de mais retorno - tecnologia e inovação”.

Já Rondon critica a lógica que atrai os estudantes de destaque a permanecer no exterior, desenvolvendo pesquisa para estrangeiros. “Os próprios especialistas aceitam que o caminho ideal (mas menos politiqueiro e demagógico), seria trazer ao país cientistas para ministrarem aulas nas universidades, para um universo maior de estudantes e com menos custos. As áreas privilegiadas são de tecnologia por causa disso... as de humanas, dentro do espírito de captação de recursos para os projetos, são deficitárias, logo, não atendem à demanda de mercado”, diz o professor.

Texto: Bruna Homrich (estagiária) com informações de Estadão
Foto: Agência Brasil
Edição: Fritz Nunes (Jornalista)