Professor elogia protestos na Medicina SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 12/09/11 17h49m
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Edson Morais diz que estudantes saíram da alienação

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Morais critica "pacto entre docentes", que evita mudanças substanciais

Um movimento “grandioso”, que jamais tivera qualquer coisa parecida na história do curso de Medicina da UFSM. Assim qualificou os recentes protestos de estudantes daquele curso, o professor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia, que já foi coordenador do mestrado em Medicina (1994-96) e também diretor do Centro de Ciências da Saúde (1990-94), Edson Nunes de Morais. Para ele, finalmente os acadêmicos saíram de décadas de “mesmice e alienação”. Contudo, ele é pessimista quanto a resultados. Morais acredita em um movimento para fazer com que reivindicações como o cumprimento de horários por parte de alguns professores acabem num estágio de acomodação. Acompanhe a seguir o depoimento em resposta a duas questões encaminhadas ao professor:

Pergunta - Qual o significado desse protesto dos estudantes de Medicina?

Resposta- Primeiramente, devo dizer que não lembro, nos meus mais de 40 anos de UFSM (como aluno e professor – 1964-2011), de uma manifestação de estudantes de medicina desta magnitude. Portanto, por si só esse protesto se define como histórico na instituição: simplesmente grandioso. O Curso de Medicina deverá reservar lugar especial para o segmento discente a partir do fenômeno por todos presenciados. O Brasil ficou sabendo, o mundo ficou sabendo. Manifestações do exterior foram emitidas. Tenho amigos de outros países que por e-mails, me perguntavam se meus alunos estavam pegando em armas (ficavam sabendo ao acessar minha conta no facebook). Respondia-lhes orgulhoso que ainda não, mas que se o fizessem seria com carinho, sempre. O significado do protesto, como perguntas, pode ser dividido em várias linhas de raciocínio. Depende de qual linha podemos abordar. Por exemplo, qual o significado para os professores do curso? Pouco, para a maioria, pois a alienação política dos docentes da medicina não é de hoje.

Vem desde os tempos de minha graduação. Vou mais longe, acredito que a maioria entende que os alunos fizeram uma baderna irresponsável e merecem punição exemplar. Podem até não verbalizar sobre isso, mas é no que acreditam, podes ter certeza. Para os dirigentes, não os da administração central que estão de alguma forma, acostumados com outros movimentos em diversos setores da universidade, coordenação e chefias de departamentos, tenho para mim que devem estar preocupados (mas não muito), pois por certo jamais esperariam um movimento como o que foi realizado. Eu próprio, se me dissessem que isto iria ocorrer, responderia que “não acredito”, pois a história da qual fui testemunha por toda a minha vida, no máximo me mostrou algum grau de politização do estudante de medicina nos idos dos anos 80. E só.

Assim que, particularmente exultei (pois nunca aceitei o establishment) com tudo que acompanhei pela imprensa e pela internet, especialmente pelo facebook, onde tenho centenas de estudante como “amigos”. Ali as postagens me deixavam literalmente estarrecido, não acreditando no que lia. Para poucos estudantes com quem falei, disse que “finalmente os estudantes de medicina saíram da mesmice e da alienação que os envolveu por longas décadas, e que estavam todos de parabéns independentemente dos resultados do movimento”. Disse-lhes mais: “que poderiam ir para as manifestações públicas e não precisavam estar na minha aula”, pois talvez a UFSM nunca mais iria presenciar fenômeno estudantil de um curso, desta natureza e eles eram seus protagonistas. E verdadeiramente é o que sempre pensei e continuo pensando. Entendo que cabeça do estudante não é uma folha em branco em que o professor escreve o que quiser. Sempre estimulei meus alunos a perguntarem para os seus professores, depois de cada afirmativa destes, por quê, para que, para quem etc. Questionar sempre e com fundamento, é claro. A universidade, universitas, pressupõe isso, a verbalização das idéias e a sua colocação à discussão. Argumente-se sempre, em qualquer instância, em frente a qualquer comando acadêmico. É proibido proibir. Isso é “LIBERDADE ACADÊMICA”, e seu realizar é a “ESSÊNCIA DA UNIVERSIDADE”. Por tudo isso, acredito que o significado do movimento dos meus alunos na UFSM pode ter uma leitura hoje, outra amanhã e quem sabe, outra num futuro ainda não previsível. Isto é espetacular, no meu entender. Para terminar, este fato, para mim, foi o mais significativo das últimas décadas ocorrido na instituição.

Qualquer semelhança ou comparação com outros movimentos não pode ser feita, pois greves, paralisações, tomada da reitoria, etc., liderados pelo DCE, é de outra magnitude, é do conjunto das lideranças estudantis da universidade. Aqui é de um curso que tradicionalmente seus alunos já se sentem “doutores” logo que chegam do vestibular. Ou seja, baderna, desordem, provocações, etc.. é coisa para outros estudantes, não os de medicina. A mim me parece que as coisas estão mudando, e para melhor, e que nosso estudante agora pode se considerar parte de um segmento verdadeiramente universitário, e estão prontos para assumir comandos importantes no movimento estudantil de Santa Maria e além. Entendo que aprenderam muito e eu só tenho que me parabenizar com os moleques. É o que me parece neste quesito.

P - Qual o impacto dessas críticas, por exemplo, quanto ao descumprimento de horário de trabalho, junto ao curso?

R- Na minha opinião, nenhum impacto na prática deve ocorrer. Reuniões daqui e dali tendo como pauta o movimento dos alunos da medicina, etc. Alguns professores identificados com as acusações dos estudantes deverão dar um jeito para que tudo permaneça como sempre esteve. Atitudes imediatas poderão ser tomadas, mas com resultado inexpressivo, e vida média de curta duração. Raríssimos são os médicos professores que cumprem sua carga horária contratual.

O HUSM é quase totalmente desprovido de assistência prestada por professores médicos. Alguns chegam ao absurdo de dizer que somente dão aulas, pois não é sua tarefa atender doentes. Isto é tarefa para médicos contratados, para os que não são “professores”. Quanto aos horários? Ora, quem vem mais ao campus deve vir não mais do que 3 ou 4 dos 10 turnos semanais (manhã e tarde de segunda a sexta-feira). É o famoso “pacto” entre os docentes. E ainda assim por pouco tempo, jamais turno completo. Os professores “cumpridores” de horários o fazem não porque está escrito que devem fazer, mas porque são universitários na sua essência. Seu trabalho não tem hora, dia, feriado ou final de semana. Trabalham porque gostam. Poucos são os que conheço e assim se identificam. Sempre defendi o indefensável legalmente, até agora: não se deveria cobrar horários do servidor, mas sim tarefas. Por exemplo, sou um notívago. Se observares essa mensagem está sendo escrita às 4h da madrugada. É o meu biorritmo. Minha produção intelectual é noturna. De dia eu tiro para outras coisas não “menos” importantes, mas em segundo plano para mim, por exemplo, dar aulas, discutir casos clínicos, participar de reuniões científicas, esbravejar com colegas e às vezes com alunos. É da minha índole. Com relação aos comandos, a coordenação do curso é quem mais vai sentir a repercussão política das manifestações estudantis.

Da mesma maneira, as coisas deverão se acomodar com o tempo e tudo cai no esquecimento. É a história que deverá apenas se repetir. A coordenação não tem ingerência administrativa junto aos departamentos didáticos. Deveria ter, na minha opinão, mas isso remete ao tempo da Faculdade de Medicina, onde me formei. O Diretor cobrava dos professores. Hoje, e há muito tempo com a departamentalização, quem deve se incumbir dessa tarefa são os chefes dos departamentos. Dos chefes de departamentos quem cobra é o Diretor do Centro de Ensino, o CCS. Mas essa é uma tarefa não muito fácil, pois todos têm seus interesses. Compreende-se assim a dificuldade entre as partes. A coordenação do curso tem dificuldade em prover professores para ministrarem certas disciplinas do Curso. Por exemplo, no meu departamento, de Ginecologia e Obstetrícia vários são os professores que ministram aulas que não as da especialidade, no currículo do curso. Os docentes são obrigados a ministrar essas aulas? Não. A coordenadora apenas os convidou ao que eles concordaram, sem qualquer obrigatoriedade. O currículo da medicina vive muito disso, da “boa” vontade de alguns docentes. A pergunta que deve ser feita é quando o governo irá disponibilizar recursos para contratação de novos docentes. Finalmente, e agradecendo a oportunidade de me manifestar, devo dizer que todos deverão ganhar com o movimento dos estudantes de medicina.

Não tenho dúvidas quanto a isso. Não deverá ser uma questão de se sair na “caça às bruxas”, porque ninguém é completamente isento, mesmo os alunos; que não deverá ser um “atire a primeira pedra” os que não têm qualquer dívida; enfim, alunos e professores devem sentar, discutir, rever posições, se for o caso, e especialmente rediscutir o currículo do curso de medicina.

Entendo que a coordenação deveria chamar uma grande Assembléia Geral do Curso, alunos e professores para uma grande catarse, para iniciar. Pedras e farpas para todos os lados, se necessário for. Mas com o objetivo único de acrescentar. A coordenadora, Dra. Léris, deve administrar a troca de “amabilidades” entre as partes. Depois com cautela e inteligência, convocar o conjunto de professores e alunos, para rediscutir o currículo, pois entendo que deve ser reavaliado com a urgência possível, afinal algumas turmas já se formaram com este modelo e, portanto, já começa a ficar obsoleto. Certamente muito pode ser melhorado. É bom lembrar que os alunos, até onde eu sei, não cobraram produção científica de seus professores. Por quê? Nem os alunos sabem ou têm noção do que trata o assunto, e principalmente o que significa. O que é lamentável. Mas isso é assunto para outro debate.

Entrevista a Fritz R. Nunes
Foto: Arquivo/SEDUFSM
Assessoria de Impr. da SEDUFSM

 

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