Debate avalia efeitos das mobilizações de junho
Publicada em
22/10/13 16h31m
Atualizada em
22/10/13 16h51m
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Evento, que aconteceu na Sedufsm, foi iniciativa do PSTU e da Anel
As perspectivas que nos foram legadas das mobilizações de junho deste ano foram tema de debates na noite da última sexta-feira, 18, no auditório da Sedufsm. A atividade, proposta pelo PSTU de Santa Maria e Aliança Nacional dos Estudantes Livres (Anel), contou com a participação do professor do departamento de História da Ufsm e ex-presidente da Sedufsm, Diorge Konrad, do professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Douglas Alves, e do estudante de Engenharia Química da Ufsm, Juliano Gomes. Cerca de vinte pessoas assistiram e participaram do debate, que trouxe diferentes análises sobre as últimas lutas nacionais e, de forma mais ampla, sobre as movimentações protagonizadas pela classe trabalhadora nos mais diferentes cenários políticos que já se apresentaram.
Douglas Alves, que também é diretor do ANDES-SN na seção sindical da UFFS em Erechim, explicou que, num primeiro momento, as grandes manifestações tiveram um caráter espontâneo – animadas por jovens que, em sua maioria (75%), nunca tinham ido às ruas -, mas, a partir da repressão violenta, houve a aglutinação de amplos setores da sociedade. No decorrer do processo de junho, outras características ainda se somaram às mobilizações, como a interiorização – não mais se restringindo às grandes capitais – e a descentralização – saindo dos grandes centros e indo para as periferias das cidades. Para o docente, o dia 11 de julho, data convocada pelas centrais sindicais para marcar a inserção organizada da classe trabalhadora nas manifestações, teve importância substancial.
Alves avalia que o mês de junho abriu uma nova situação política, onde qualquer conflito pontual é amplificado e levado a um patamar superior. Como exemplo ele cita as greves que aconteceram após junho – como as dos bancários e ecetistas -, cujas repercussões foram maiores que as observadas nos mesmos movimentos paredistas em outros anos. Ainda em sua análise, as manifestações tendem a ganhar mais apoio popular. O professor finaliza lembrando que o ano de 2014 reserva grandes acontecimentos que podem gerar conflitos e enfrentamentos, como a Copa do Mundo e as eleições.
Criticando o romantismo revolucionário tão imerso no peito de alguns antigos militantes da esquerda, que elogiam o passado e não creem no presente, Diorge Konrad traz algumas contribuições, principalmente, sobre o papel central dos trabalhadores nas manifestações contemporâneas. Konrad cita um artigo escrito pelo historiador Eric Hobsbawm em 2011, quando, entusiasmado com os protestos da primavera árabe, o estudioso analisou que o proletariado saía de cena e quem aparecia eram os novos sujeitos sociais. Para o docente, não se trata de desconhecer a valorosa participação desses novos atores – e aí cita movimentos como os de gênero e sexualidade -, mas de entender que esses se somam a algo mais amplo, que é o componente de classe na abordagem. “Os movimentos espontâneos em rede são essenciais, mas não substituem o papel das entidades tradicionais pela transformação social”, saliente.
Fazendo referência ao rechaço encontrado, em alguns momentos, por partidos e organizações de classe nas manifestações de junho, o professor lembra luta árdua que já se deu em nosso país pela legalização dos partidos de esquerda. “As classes dominantes têm horror a povo na rua”, diz, analisando que o atual momento é importante, pois tira os movimentos de um certo marasmo que os atingia, entretanto, para ele, tais movimentações, se não pautadas pela organização popular, tendem a ser temporárias.
Falso pacto
O estudante Juliano Gomes, do coletivo ‘Outros Outubros Virão’, pondera que o mês de junho possibilitou quebrar a ideia falaciosa de que a população estava contente com o pacto social, refletido nas políticas sociais focais, implementado pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O resultado do projeto democrático e popular, colocado em prática pela gestão petista, gerou, na análise do estudante, o apassivamento da classe trabalhadora brasileira. Reflexo disso foi a defesa, encampada pelos trabalhadores, de pautas pequeno-burguesas, como a reforma política e o combate à corrupção.
Gomes ainda avalia a formação de um senso comum conservador que tende a negar tudo que identifique o último ciclo de lutas no país, tanto o oportunismo social-democrata quanto as ferramentas desenvolvidas pelos trabalhadores em sua luta – como partidos, sindicatos, bandeiras, etc. O estudante ainda comentou uma nota publicada nos últimos dias em portais brasileiros: o banco Itaú e a Ambev procuraram a presidente Dilma Rousseff para demonstrar sua preocupação com as manifestações em 2014. Frente a isso, a presidente teria acalmado os empresários, garantindo que faria de tudo para que os megaeventos ocorressem com tranquilidade.
Texto e foto: Bruna Homrich (estagiária)
Edição: Fritz Nunes (Jornalista)
Assessoria de Imprensa da Sedufsm