Sedufsm debate mídia e a falta de democracia no país SVG: calendario Publicada em 25/11/13 18h04m
SVG: atualizacao Atualizada em 04/12/13 15h45m
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Seminário aconteceu nos dias 22 e 23 de novembro

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Pedro Pomar durante o debate na Sedufsm

O Seminário ‘Mídia e Democracia’, promovido pela Sedufsm nos últimos dias 22 e 23 – sexta-feira e sábado –, evidenciou debates importantes a serem feitos quando o assunto é regulamentação da mídia ou descentralização dos veículos de comunicação. Tais temáticas permearam, especialmente, a mesa realizada na sexta-feira, intitulada ‘Jornalismo e transformação social’, com o editor da Revista Adusp, Pedro Pomar, o repórter especial do jornal ‘Zero Hora’, Carlos Wagner, e a jornalista da Assufsm e da revista ‘O Viés’, Nathália Drey Costa, sob a coordenação do jornalista da Sedufsm, Fritz Nunes. Instigados a contribuírem com um dos assuntos mais palpitantes da atualidade, os debatedores procuraram abordar a necessidade da democratização dos meios de comunicação para diversas esferas da vida social.

E uma das primeiras constatações de Pedro Pomar foi exatamente a de que, para os trabalhadores e povos marginalizados do país, falta democracia em todos os âmbitos. “Democracia existe da classe média para cima. Da classe média para baixo é Polícia Militar”, diz, ressaltando que a origem dessa realidade é a extrema concentração de renda, riqueza e propriedade. Então, o oligopólio que controla a comunicação no país é mais uma expressão dessa divisão da sociedade em classes sociais. Trazendo o conceito de ‘hegemonia’ do italiano Antonio Gramsci, que trata da dominação pelo consenso, o jornalista lembrou que a mídia no Brasil pode ser dividida em três setores: a privada, ou hegemônica; a alternativa, ou contra-hegemônica; e a pública, aqui entendida como aquela de propriedade e controle estatal (como a TV Brasil e as tevês educativas).

A fim de explicitar com clareza a quem serve a comunicação produzida pelos grupos dominantes, Pomar fez uma breve recapitulação da atuação desses veículos no regime ditatorial brasileiro (1964-1985). Já no golpe, os grandes jornais e rádios – a televisão ainda se desenvolvia no país – estimularam o golpe militar; e, como se não bastasse, também cumpriram um papel decisivo na sustentação do regime, constatação exemplificada com a intensa propaganda favorável ao Plano Real – programa econômico neoliberal implantado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, centrado na privatização de empresas estatais e no arrocho salarial. “A ditadura financiou e criou condições para que grandes conglomerados de comunicação fossem criados”, salientou o jornalista da Adusp, explicando que, embora no Brasil possamos falar de um oligopólio da mídia, essas grandes empresas costuram alianças internas a fim de sustentar a condição de dominação, além de constituírem, também, laços com empresas regionais, o que amplifica sua atuação.

O lucro

Apenas para ilustrar o debate em questão, Pomar apresentou uma planilha sobre o faturamento de alguns dos maiores grupos de comunicação do país no ano de 2006, chamando atenção, portanto, para o fato de estarem desatualizados: Organizações Globo: R$ 6,8 bilhões (receita bruta da Globopar, holding do grupo); SBT, de Sílvio Santos: R$ 3,2 bilhões; Grupo Abril: R$ 2,66 bilhões; e, no Rio Grande do Sul, o grupo RBS faturou R$ 889 milhões. Ao total, a RBS tem 18 emissoras de televisão aberta e 26 emissoras de rádio, além dos veículos impressos, dos canais na internet e das atividades de marketing. Uma informação trazida pelo debatedor foi de que em Santa Catarina o Ministério Público está processando a empresa por monopólio da mídia impressa. Em 2013, a RBS passou à frente do Grupo Estado, consolidando-se como um dos maiores grupos de comunicação do país.

Contudo, a atuação do oligopólio não é meramente econômica, mas também política, de forma que, na atualidade, esses grupos assumiram a posição de principais atores políticos do Brasil. “O oligopólio se constituiu como um partido de oposição à agenda dos movimentos sociais e dos governos progressistas da América Latina”, avalia Pomar. Ele ainda faz um paralelo com a situação da mídia nos Estados Unidos, onde, caso não cumpram seu papel social previsto em lei, as empresas de TV têm as concessões cassadas.

Em meio a todo esse contexto, a atuação do jornalista fica extremamente cerceada, pois, se no cerne de sua profissão está a possibilidade de contribuir para a transformação social, sua atividade é controlada pelos patrões. Esses, explica Pomar, estão travando uma luta contra o diploma e a regulamentação da mídia, além de, no cotidiano do trabalho, tentarem controlar e domesticar a formação do jornalista.

Repórter aprende na rua

Carlos Wagner, repórter especial do jornal Zero Hora, acredita que é saindo às ruas que o jornalista aprende a arte da profissão. “O grande professor é a realidade”, afirma, trazendo um pouco de suas experiências com o Brasil do ‘oeste’, da fronteira, hoje não representado na grande mídia. Ele diz que em toda cidade do interior a internet vem sendo utilizada como veículo de difusão de informação, visto que muitos jornais não chegam a esses locais. “O governo tinha que mandar jornalistas para o interior”, propõe Wagner, fazendo uma referência ao programa ‘Mais Médicos’, que deslocou profissionais de medicina para cidades interioranas do país. Para o debatedor, é necessário que as universidades direcionem seus currículos para uma formação mais humanista dos profissionais de jornalismo, uma vez que as diretrizes estariam demasiadamente tecnicistas.

Wagner, que foi enviado especial a Santa Maria na cobertura da tragédia da boate Kiss, em janeiro deste ano, avalia que as instituições vêm demonstrando frieza frente ao sofrimento do povo, que cobra explicações. “Em Santa Maria há 242 razões para se fazer jornalismo diferente da forma como se faz hoje”, opina o repórter, questionando sobre que mudanças a Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm) absorveu com todo esse processo. “A universidade não convocou debate sobre a Kiss”, opina.

Mídia e o quinto poder

Na conformação da política brasileira, a mídia consolidou-se como o quarto poder, aquele a quem competiria a fiscalização dos outros três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Entretanto, ninguém exerce a função de fiscalizar, também, esse quarto poder. Para Nathália Costa, então, faz-se necessária a criação de um quinto poder, esse com papel de criticar e regulamentar a mídia. “Regulamentar não é censura, é garantir que as minorias sejam ouvidas. A comunicação deve ser vista como um direito, mas, hoje, virou produto”, diz a jornalista, frisando que os grandes veículos de mídia tratam a população como consumidora.

“A sociedade é formada em cima de diferenças, mas essas diferenças não estão representadas na mídia”, pontua a debatedora, trazendo resultado de uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo para exemplificar o que vêm pensando os brasileiros no que tange à comunicação no país: sete em cada dez pessoas não sabem que os veículos de comunicação são, na verdade, concessões públicas. Além disso, outras respostas evidenciaram que as mulheres não se veem representadas na mídia. O controle social é necessário, então, pois “tudo que é público gera responsabilidade”, explica Nathália, avaliando que, quando os veículos não publicam notícias que irão ferir seus interesses privados, a informação deixa de atender ao interesse público.

Quando se fala na necessidade de democratizar os meios de comunicação social, não se está defendendo, diz Nathália, que uma única mídia possa contemplar todas as nuances da sociedade. É preciso, pois, garantir a pluralidade de meios, a fim de que a comunidade de um bairro, por exemplo, possa editar seu próprio jornal, cujo posicionamento pode se distanciar das ideias de objetividade e imparcialidade pregadas pelos grandes manuais de redação. Ou seja, naquele periódico, a comunidade pode, sim, projetar seus problemas e propor soluções para resolvê-los. A situação que se apresenta, hoje, entretanto, é de grandes dificuldades para a produção desses veículos alternativos.

Criticando as teorias de recepção que ora classificam a população como mera consumidora da informação produzida, ora como manipulada e sem condições de se contrapor ao que recebe, a jornalista analisa que os receptores podem, sim, recusar a comunicação, e provas disso foram dadas nas manifestações de junho pelo país. Para Nathália, as pessoas têm formas de responder a isso tudo, entretanto o problema reside na falta de acesso aos meios para darem vazão a tais respostas.

Mídia alternativa

“A mídia alternativa não consegue se estabilizar porque o dinheiro público é ainda destinado às grandes empresas. Assim, outros meios não conseguem disputar”, avalia Nathália, que integra a revista ‘O Viés’, publicação eletrônica alternativa de Santa Maria. Numa consulta à Constituição Brasileira de 1988, é possível ver que a Carta proíbe oligopólios, mas esses seguem existindo e contribuindo para o desenvolvimento dos mesmos veículos de sempre.

Como propostas para balizarem a luta em defesa da democratização da comunicação, a jornalista apresenta quatro pontos fundamentais: fortalecimento de veículos alternativos já existentes e fomentação à criação de novos; ataque aos conglomerados; pressão sobre o Estado e debate com a sociedade. “A população ainda não sabe que também pode ser produtora de comunicação. É preciso que se reivindique a comunicação tanto quanto se reivindicam direitos como saúde e educação, hoje também precarizados e privatizados”, conclui.

É necessário, defende Pomar, que sindicatos e movimentos sociais se unifiquem em torno da criação de veículos de comunicação com maior potencial de alcance, pois, da forma como a imprensa alternativa atua hoje, não consegue fazer frente aos ataques da mídia hegemônica.

Formação acadêmica

Para Nathália Costa, a formação de jornalismo nas universidades brasileiras está precária, contudo atende a exigências do próprio mercado de trabalho. “O superficial perpassa todos os níveis de nossa formação. O mercado não quer que as pessoas reflitam”, diz a jornalista.

Pomar critica a aplicação de métodos empresariais nas universidades. “O mercado procura dirigir a formação do jornalista e, em grande parte, consegue”, avalia, dando exemplos da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da USP, que contempla, no currículo de jornalismo, três ou quatro disciplinas oferecidas diretamente por empresas de comunicação.

O jornalista da Adusp também criticou as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Jornalismo aprovadas pelo MEC, que não mencionam a situação dos oligopólios e das empresas privadas, tendo, ainda, criticado a Teoria Crítica dos Meios e efetivado a separação da habilitação de Jornalismo do curso de Comunicação Social.

Caminhos da profissão

O segundo e último dia do seminário sobre ‘Mídia e Democracia’, ocorreu na manhã do sábado, 23, com a presença dos jornalistas Carlos Wagner (Zero Hora), Pedro Pomar (Adusp) e Luiz Roese (A Razão/Portal Terra). A atividade em formato de oficina apresentou o tema ‘Os caminhos do Jornalismo Investigativo’, e foi coordenada pelo professor Humberto Gabbi Zanatta, secretário geral da Sedufsm.

Roese e Pomar citaram diversos caminhos para se fazer uma reportagem investigativa, como a importância de ter um bom relacionamento com as fontes, a coleta de materiais, a consulta de documentos e pesquisas em sites como o Diário Oficial da União. “É importante cultivar as fontes, e conquistar a confiança das fontes não é fazer a matéria do jeito que ‘elas’ querem, mas sim sendo correto e ético, trabalhando com a verdade, pois isso acaba conquistando a confiança das fontes”, lembra o repórter de A Razão.

Além de indicarem as possibilidades de produzir matérias investigativas, os jornalistas enfatizaram que todo o jornalismo por si só, já é investigativo, visto que não há como noticiar sem antes investigar. O jornalismo investigativo tornou-se uma convenção da profissão, associada a denúncias e escândalos, algo que nas palavras de Wagner, “é um produto que atrai o leitor”. Um produto que custa caro. Segundo o correspondente da Zero Hora, o processo de investigação é demorado e caro, “por isso que só as grandes empresas fazem”, analisa Wagner.

A manhã de oficina se transformou em um bate-papo, e os que estavam presentes interagiam com perguntas. Entre as questões levantadas, a insegurança de trabalhar nesta área, relacionada aos perigos da profissão, tanto para os que trabalham em grandes veículos como para os que atuam na mídia alternativa.

A atividade ainda norteou o dia o dia de trabalho de Pomar, Wagner e Roese. O primeiro comentou como é coordenar a apuração da revista da Adusp, publicação quadrimestral da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, que tem entre suas pautas mais importantes a investigação acerca das fundações universitárias. “Em algumas universidades constatamos até casos de polícia, pois essas fundações, ditas de apoio, são na verdade constituídas para agir como parasitas da universidade pública. Já é um trabalho de dez anos investigando essas fundações em todo o país”, explana Pomar. As experiências dos repórteres da Zero Hora e de A Razão também foram explanadas, bem como as diferenças de trabalhar em cada empresa e as peculiaridades, apontadas por Roese, de trabalhar no interior.

Texto: Bruna Homrich e Carina Carvalho (estagiárias)
Fotos: Renato Seerig e Bruna Homrich
Edição: Fritz Nunes (Jornalista)
Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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