Professor da UFSM prevê "anos de recessão" SVG: calendario Publicada em 13/10/11 17h09m
SVG: atualizacao Atualizada em 14/10/11 15h45m
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Ricardo Rondinel opina sobre a crise econômica mundial

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Professor Ricardo Rondinel diz que a crise é mais do que econômica

Uma gigantesca crise econômica assola o mundo desde o ano de 2008, e sua ameaça de chegar forte ao Brasil parece cada vez mais perto. Além de econômica, a crise também tem imbricações sociais e ambientais. É uma crise do sistema. Caíram ditaduras no norte da África e no Oriente Médio. Países da Europa Ocidental veem enormes manifestações, tidas há pouco tempo como coisas de um passado remoto. Ruas do centro nervoso do capitalismo financeiro são ocupadas em plena Nova Iorque. Há tempos o mundo não ficava tão em polvorosa como nos dias de hoje.

Para entender melhor a situação, conversamos com o professor Ricardo Rondinel, do departamento de ciências econômicas da UFSM e ex-presidente da SEDUFSM. Para Rondinel a crise não é só financeira, é uma crise decorrente das contradições do sistema capitalista. O professor também acredita que diversos países viverão alguns anos de recessão, por conta da diminuição do estado durante a era neoliberal de privatização. Confira abaixo um pouco da opinião de Ricardo Rondinel sobre a crise econômica.

A origem da crise européia

A mídia nos mostra que há uma crise nos PIIGS (sigla em inglês para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha). Na verdade, vivemos uma continuação da crise de 2008, uma crise financeira. Os motivos dessa crise são as contradições do capitalismo. Com a globalização, a formação da União Européia e o lançamento do Euro, os países da Europa funcionam agora com um país só.

Mas, com a formação da União Européia os países mais desenvolvidos - França e Alemanha - foram os mais beneficiados, principalmente a Alemanha. Houve um processo de concentração da indústria dentro da União Européia e o país mais beneficiado foi a Alemanha. Com a implantação do Euro, a indústria alemã passou a dominar na Europa. Os outros países passaram a serem meros fornecedores de matérias primas, de serviços ou de turismo para os alemães.

Em plena crise, o saldo de comércio exterior (exportações e importações) é positivo somente na Alemanha. Nos últimos 12 meses (de junho de 2010 a julho de 2011) a balança comercial (exportações menos importações de bens) da Alemanha teve um superávit de 228 bilhões de dólares. Em contraposição, houve déficits em Portugal (-25 bi), na Itália (-49 bi), na Grécia (-26 bi), na Espanha (-64bi), e ainda na França (-120 bi) e no Reino Unido (-144 bi).

Déficits orçamentários

O outro problema são os déficits orçamentários impulsionados pela crise de endividamento, que existe desde os anos 1980. A pior situação é do Japão, mas ele não sofre tanto. Primeiro, porque tem reservas internacionais. Segundo porque tem taxas de juros muitas baixas, próximas a zero. E terceiro, porque tem superávit nas contas externas. Logo vem a Grécia, Itália e Portugal, muito endividados. O menor endividamento é o da Alemanha. Do ponto de vista do déficit público, a Grécia e Portugal apresentam grandes déficits, em face do elevado endividamento (ver gráfico 1). De outro lado a Alemanha é um país com grandes superávits no setor público.

A crise dos países da Europa é continuação da crise internacional de 2008. É uma crise que tem a ver com o modelo da expansão do consumo baseado no endividamento externo. Como o déficit público elevado aumentou o endividamento, as taxas de juros dos títulos da dívida pública de longo prazo tiveram que subir (ver gráfico 2). A Grécia hoje paga o que não pode, e nem pagará pagar, por isso entrou em default (calote) e teve que ser socorrida pelo FMI e Sistema Monetário da Europa.

Financeirização da economia

Vivemos uma crise financeira de um modelo de capitalismo, no qual o comando é do capital fictício, do capital financeiro. Hoje há uma financeirização da economia, onde o comando é do capital parasitário, do capital rentista. O remédio é mesmo de sempre. Corte de gastos, aumento de impostos, corte dos salários dos trabalhadores, corte de gastos sociais. Aos trabalhadores não resta mais nada, senão lutar por seus direitos. Ir para as ruas e defender seus direitos, assim como os capitalistas financeiros defendem os seus.

Mas essa crise não é só financeira. Há uma crise no emprego, no qual cada vez se emprega menos (ver gráfico 3). Isso gera menos mercado para as mercadorias produzidas pelas empresas, e isso realimenta a crise. A taxa de desemprego na Espanha, na Grécia e na Irlanda dobrou de 2008 a 2011. Enquanto isso, na Alemanha até houve uma queda no desemprego.

Há também uma luta constante entre capital produtivo e capital financeiro, ou seja, entre os que vivem de lucros e os rentistas (que vivem de juros). Na medida em que o trabalho se encareceu, o capital produtivo saiu dos países mais desenvolvidos para as chamadas economias emergentes. Nesses países, a mão-de-obra é mais barata, as condições de exploração são melhores e os mercados estão em expansão. A indústria manufatureira abandonou os Estados Unidos o Reino Unido e Japão e foi para as economias emergentes.

Os países da Europa não têm como se ajustar hoje. Os déficits públicos são elevados, os déficits externos também, além de que suas reservas internacionais são insignificantes. A China é país que tem as maiores reservas, mas que estão aplicadas em títulos do Tesouro dos EUA (ver gráfico 4).

Além do problema do emprego, a crise se alastra para o meio ambiente. Há uma crise ambiental global. A natureza não está agüentando mais o ritmo de expansão do consumo desenfreado. Há uma crise na saúde mundial, pois os governos com tamanho diminuído não têm dinheiro para financiar os caros equipamentos e remédios inventados a cada dia pelas grandes corporações multinacionais. Estados endividados, sem recursos para investir. Esse é o dilema do capitalismo, incentivar o consumismo com endividamento, que leva à falência dos governos e à necessidade de fazê-lo para a economia crescer e aumentar a acumulação de capital. Virão alguns anos de recessão.

Texto: Fritz R. Nunes e Mathias Rodrigues (estagiário)
Gráficos: Ricardo Rondinel
Foto: Arquivo SEDUFSM
Ass. de Imprensa da SEDUFSM

 

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