Autor de “Marighella” defende cadeia para torturadores SVG: calendario Publicada em 09/04/14 16h29m
SVG: atualizacao Atualizada em 11/04/14 00h29m
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Jornalista que biografou o guerrilheiro fala sobre 50 anos do Golpe

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Mário Magalhães, biógrafo de Carlos Marighella, durante entrevista na Sedufsm, em 2013

Debater sobre os 50 anos do Golpe de 1964 é discutir o passado apenas na forma, mas em termos de conteúdo, a discussão se refere ao futuro, ou seja, como pensar a construção de um país efetivamente democrático. A opinião é do jornalista carioca Mário Magalhães, 50 anos, autor do livro “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo”, prêmio Jabuti de literatura em 2013, que narra a trajetória do militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), assassinado em 1969 pela ditadura militar.

Para Magalhães, que atualmente possui um blog de jornalismo postado no Portal Uol, as recentes aparições de militares dando conta sobre torturas e assassinatos durante o regime, deveriam servir para que a sociedade cobrasse o fim da impunidade daqueles que violaram os direitos humanos. Na análise do jornalista, a regra deveria ser “torturador bom é torturador preso”. Acompanhe a seguir a entrevista, concedida por e-mail, de Mário Magalhães, que em 2013 esteve em Santa Maria a convite da Sedufsm para uma palestra sobre o seu livro.

P - Mário, as últimas semanas foram de rememorações relacionadas aos 50 anos do Golpe de 1964. Na tua avaliação, qual a importância de lembrar um golpe que levou a uma ditadura de mais de duas décadas no país?

R- Na forma, discutimos o passado. No conteúdo, o futuro do país que queremos construir. No fundo, os mesmos interesses sociais que se confrontaram há meio século se mantêm em choque. O cenário é diferente, mas os atores, na essência, são os mesmos.

P - Os recentes casos de militares que resolveram contar o que sabem sobre os casos de prisões de tortura, como foi o do coronel Paulo Malhães, podem significar que estamos próximos no país a acertar contas com o passado autoritário?

R- O maior impacto do depoimento do coronel reformado Paulo Malhães é que ele chancelou relatos de opositores que passaram pelos cárceres e sobreviveram ao horror da ditadura. Agora, nem as viúvas da ditadura, dessas que também negam o Holocausto dos judeus na Segunda Guerra, podem falar em invenção. Diante dos depoimentos de militares sobre a barbárie, impõe-se a pergunta: o que o coronel Malhães e seus sócios em violações dos direitos humanos, inclusive no alto da hierarquia das Forças Armadas e da ditadura, estão fazendo fora da cadeia? Espero que o noticiário das últimas semanas contribua para dar fim à impunidade que busca se eternizar. Torturador “bom” é torturador preso.

P - Como avalias as tentativas de reeditar na forma de marchas, como em 1964, a volta do regime militar?

R - As viúvas da ditadura fazem barulho, mas são ultraminoritárias. Não existe um só candidato a cargo majoritário em eleição que defenda a ditadura. Somente candidatos proporcionais, que representam nichos de intolerância. As novas marchas da família demonstraram isso: só apareceu meia-dúzia de gatos pingados histéricos, paranoicos e antidemocráticos.

P- Em debates com a participação de militares da reserva sobre a ditadura militar, alguns costumam dizer que o que ocorreu no Brasil foi uma “guerra” entre o governo militar e os opositores, qualificados como terroristas. Na tua concepção, como se pode interpretar esse tipo de visão?

R- Houve um massacre, com violação dos direitos humanos. Nem na lei oficial da ditadura havia permissão para prender sem mandado, torturar, executar e desaparecer com corpos. As leis da guerra asseguram a integridade física de prisioneiros capturados, o que a ditadura não assegurou aqui. A ditadura foi instituída por meio de armas, rasgando a Constituição de 1946 e depondo, em 1964, o presidente constitucional João Goulart. A oposição, não somente a armada, foi perseguida e violentada por um governo avesso à democracia e ilegítimo.

P - Para alguns desses militares, Carlos Marighella foi um terrorista e assassino. Na condição de biógrafo, como analisas esse tipo de discurso, que não se referem apenas a Marighella, mas a Lamarca e outros?

R- É um discurso legítimo, concordando ou não com ele. Sou partidário da liberdade de expressão. Quem não é são as viúvas da ditadura, um tempo em que se podia ser morto e sumido por manifestar o pensamento. Na condição de biógrafo, não escrevi um panfleto pró-Marighella ou um libelo contra ele. Não tive a veleidade de julgá-lo. Fiz o que cabe a um repórter: contei o que ele fez, disse e, na medida do possível, pensou, para que cada leitor forme seu próprio juízo. Noto que muitos detratores de Carlos Marighella nem conhecem a história dele, confundem-no com outros personagens. Deveriam ler a biografia, para ter mais elementos para opinar, ainda que seja contra Marighella. Reitero: é legítimo amar ou odiar Marighella, o impossível é ficar indiferente à vida frenética que ele teve.

P- A TV Brasil, na semana que passou, produziu muitos programas sobre o golpe de 1964, inclusive com depoimentos de militares que se posicionaram contra a ditadura. Qual a importância dos meios de comunicação abordarem fatos desse período?

R- Enorme. Esses 50 anos do golpe são um marco. Pela primeira vez, o conjunto do jornalismo chamou o golpe de golpe, e não de movimento militar ou revolução. A ditadura foi descrita como ditadura, e não como regime militar ou regime civil-militar. Reportagens da TV Brasil, bem como de outras emissoras, foram importantes, considerando as que foram fieis aos fatos de meio século atrás.

P - A recente decisão das pastas militares de abrirem o que teriam sido centros de tortura para investigação representaria um avanço nos trabalhos da Comissão da Verdade?

R - É histórico que as Forças Armadas decidam formalmente investigar a barbárie dentro de suas dependências. Mas se a investigação é para valer ou não só saberemos ao conhecer as conclusões a serem divulgadas pelo Ministério da Defesa.

Entrevista a Fritz R. Nunes

Foto: Arquivo/Sedufsm

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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