Medo ajuda a explicar golpe de 64, afirma historiador SVG: calendario Publicada em 26/06/14 17h56m
SVG: atualizacao Atualizada em 26/06/14 18h04m
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Carlos Fico fez palestra na UFSM nesta quinta, 26 de junho

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Fico vê traço marcante de autoritarismo na sociedade brasileira

O medo explicaria o golpe de 1964, que derrubou o governo constitucionalmente eleito de João Goulart, o Jango. O medo de perder privilégios, o temor de uma elite social de pagar a conta em função das injustiças sociais seculares existentes no país. E essa temeridade pelos avanços dos excluídos para um sistema que os inclua socialmente ainda seria uma marca atual da sociedade brasileira. A reflexão é de Carlos Fico, professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisador da Capes, e que lançou recentemente o livro “Golpe de 1964, momentos decisivos”. Ele participou de uma conferência na UFSM, na manhã desta quinta, 26, a convite do Programa de Pós-graduação em História da instituição.

Para o historiador, que compartilha do conceito de que o golpe foi civil militar, é preciso superar a visão de que a sociedade brasileira foi vítima em todo esse processo e de que o ocorrido em 1º de abril de 1964 foi um ato inaugural. No entendimento de Fico, está claro após os historiadores terem se debruçado sobre a documentação do período, que o golpe é civil militar porque setores importantes da sociedade, além dos militares, como empresários, igreja e imprensa, ajudaram a engendrar a derrubada de Jango. E não é inaugural porque ele já vinha sendo construído há bastante tempo, como bem demonstra a tentativa de evitar que Jango assumisse, em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros.

Carlos Fico compara esse discurso de que apenas os militares deram o golpe, que foram os algozes da maioria da população, a outras situações que ocorrem em “eventos traumáticos”, qualificando essa postura como uma tentativa de construir “memórias confortáveis” ou “apaziguadoras”. Ele exemplificou com a situação francesa no pós-guerra. Segundo ele, apesar de a França ter sido colaboradora do Nazismo, houve após o fim da Segunda Guerra a construção de uma memória que mostrasse do país apenas aqueles que resistiram ao jugo alemão, abstraindo o colaboracionismo aos nazistas.

Autoritarismo

Na leitura da sociedade brasileira feita pelo professor Carlos Fico, a marca do autoritarismo está muito presente. O historiador ressalta que, em meio à crise política vivenciada pelo governo Jango, em nenhum momento se fala em destituição do presidente pela via institucional, ou seja, por meio de um processo de impeachment. A solução buscada, que foi o golpe, é justamente a expressão desse viés autoritário da sociedade.

Transição

O golpe de 1964 tinha uma perspectiva de intervenção breve, tanto que havia eleição presidencial marcada para 1965. Contudo, essa brevidade não se confirmou e o regime acabou se transformando em uma ditadura que se prolongou por duas décadas. Segundo Carlos Fico, somente em 1974, a partir da crise do petróleo e das dificuldades políticas conjunturais, é que os pensadores do regime, entre eles o General Golbery do Couto e Silva, Ernesto Geisel e Petrônio Portela, planejaram uma transição cautelosa, que acabou classificada como “lenta, gradual e segura”.

Essa transição veio se completar somente 10 anos depois, em 1984. Porém, na análise do professor da UFRJ, ela foi cumprida conforme havia sido planejada. Ela inicia ainda no governo Geisel (1974-79) com o abrandamento da censura, depois passando pela anistia e culminando com a eleição de um presidente civil pela via indireta, que foi o caso de Tancredo Neves (que faleceu e foi substituído por José Sarney), em 1984, após a rejeição pelo Congresso Nacional da emenda do deputado Dante de Oliveira, que previa eleição direta para Presidente da República.

Ruptura e impunidade

Para Carlos Fico, a aprovação da anistia pelo Congresso Nacional em 1979 e a aprovação de eleição para Presidente da República pela via indireta são traços marcantes do país. Enquanto na Argentina, por exemplo, que viveu uma ditadura militar de prazo mais curto, os militares foram julgados pelos crimes que cometeram; já no Brasil, a anistia foi aprovada como uma autoanistia aos militares. E, no que se refere ao fim do regime, não houve uma ruptura clara, mas sim um pacto político, uma conciliação.

Texto e fotos: Fritz R. Nunes

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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