Jornadas de junho, um ano depois SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 02/07/14 19h50m
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Qual o legado numa perspectiva histórica e sindical?

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30 mil pessoas na Marcha em Santa Maria no dia 22 de junho de 2013

Um ano se passou desde que, no Brasil, milhões de pessoas saíram às ruas, em centenas de cidades do país, entre junho e julho, para protestar. As primeiras manifestações ocorreram em São Paulo em defesa da redução do valor da passagem de ônibus. Os protestos foram reprimidos duramente e dezenas de pessoas ficaram feridas, inclusive jornalistas que faziam a cobertura. Os incidentes em São Paulo geraram uma reação em cadeia, que se espalhou de norte a sul do país, inclusive em Santa Maria, onde, no dia 22 de junho, 30 mil pessoas, conforme avaliação da Polícia Militar, participaram de uma caminhada pelas ruas centrais da cidade. Houve queda na popularidade de praticamente todos os governantes, seja em âmbito federal, estadual ou municipal.

Os protestos se sucederam, com pautas diversas, sem uma centralidade, e o movimento sindical e partidos políticos, inicialmente rejeitados e hostilizados, saíram da defensiva somente em meados de julho, quando promoveram uma mobilização e greve no dia 11.  Aos poucos, a rua deixou de ser espaço para grandes atos públicos. E um ano depois das jornadas de junho e julho, muitos se perguntam: o que ficou desse período? Qual o legado das manifestações? Há mais mobilizações agora do que antes? O movimento sindical conseguiu colocar suas pautas e negociá-las? O processo eleitoral que se avizinha em todo o país terá que responder algumas das demandas levantadas pelas manifestações de 2013?

Para opinar sobre algumas dessas dúvidas, a assessoria de imprensa da Sedufsm ouviu, por e-mail, o professor Pablo Ortellado, de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), também é um ativista dos movimentos sociais, sendo um estudioso do Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo; José Maria de Almeida, da coordenação da CSP-Conlutas e Diorge Konrad, professor de História do Brasil do departamento de História da Ufsm.

Legado

No entendimento do professor Diorge Konrad, o legado principal das jornadas de junho e julho de 2013 foi o aprofundamento das mobilizações de rua pelos movimentos sociais e políticos, mesmo que algumas pautas tenham sido difusas. Após um ano, o historiador entende que as grandes reivindicações por transporte público, melhor e mais barato (incluindo tarifa zero), educação de qualidade e saúde universal para todos, bem como o combate à corrupção e descriminalização dos movimentos sociais, continuam na ordem do dia, apontando que, ainda que de forma indireta, o que a sociedade deseja é mais Estado e menos mercado.

Na visão de Zé Maria de Almeida, liderança expressiva da CSP-Conlutas, após as manifestações do ano passado, passamos a viver um outro momento político no país. Esse momento teria relação com o fato de que as manifestações por melhorias no serviço público levaram a um forte questionamento aos governos estabelecidos, em todos os níveis de administração, independente de cores partidárias. A magnitude das manifestações, diz Zé Maria, fez com que houvesse uma mudança política no país, uma mudança nas relações de forças na sociedade. E, a partir disso, os trabalhadores e a juventude teriam passado à ofensiva, colocando muitos governos em situação defensiva.

Sindicatos e mobilização

Quando se fala no papel do movimento sindical nas jornadas de junho e julho de 2013, o consenso é de que, num primeiro momento, os trabalhadores não estiveram à frente do processo. Para Zé Maria, da CSP-Conlutas, o movimento foi espontâneo e passou por fora das organizações tradicionais de classe. Entretanto, após iniciadas as mobilizações, o movimento sindical, puxado pelas centrais que não têm relação direta com o governo, chamaram uma paralisação, uma espécie de greve geral não declarada, no dia 11 de julho e, posteriormente, em 30 de agosto.

No entendimento do dirigente da CSP-Conlutas, apesar de as centrais sindicais ligadas ao governo terem arrefecido a partir do momento em que a pressão popular diminuiu, o descontentamento da classe trabalhadora continua e a demonstração disso são as centenas de greves que continuam ocorrendo Brasil afora. Para Zé Maria, essas paralisações expressam o descontentamento popular que foi visto nas manifestações de junho do ano passado, apenas com o acréscimo de reivindicações mais tradicionais, como aumento de salário e mais direitos, das diferentes categorias de trabalhadores.

Para o professor Diorge Konrad, a percepção era de que, após as jornadas de junho, se pensava que haveria uma retomada das mobilizações, como aconteceu em 11 de julho de 2013, quando as centrais sindicais e dezenas de movimentos sociais, impulsionadas pelas jornadas, chegaram a uma pauta de consenso. Contudo, no geral, se manteve o quadro de refluxo dos movimentos sociais sindicais, o que pode ser atribuído, segundo Konrad, pelo contexto de ofensiva neoliberal e de não rompimento com as políticas macroeconômicas defendidas pelas agências mundiais do capitalismo. Na análise do historiador, depois de um ano, especialmente no contexto da Copa do Mundo, se vê que a grande mobilização de 2013 foi ainda um momento mais conjuntural, sem uma ascensão de média duração do movimento sindical.

Debate eleitoral

O impacto das manifestações de 2013 pode afetar ou até mesmo pautar o debate eleitoral deste ano? Para Diorge Konrad, esses efeitos já estão sendo sentidos na conjuntura política. Segundo ele, basta ver que os programas televisivos e partidários de diversas agremiações, alguns de forma legítima, outros oportunistas, incluíram as pautas das ruas em seus discursos políticos recentes, e que tendem a voltar à ordem do dia assim que iniciar o processo eleitoral para a eleição presidencial, para governadores, senadores, deputados federais e estaduais.

Na mesma linha do historiador, Zé Maria, da CSP-Conlutas, avalia que há uma ofensiva dos trabalhadores e que isso está pautando não apenas a mídia, mas também o cenário político do país. Consequentemente, isso irá pautar o debate eleitoral deste ano, e a demonstração disso, segundo ele, é a quantidade de candidaturas que tem reivindicado a “voz das ruas”. Para o dirigente da central sindical, o período de eleições não diminuirá a quantidade de lutas, pois essas mobilizações podem, inclusive, estimular as mudanças de que o país necessita.

Quando se fala dos efeitos práticos das jornadas de junho, independente de o tema entrar na pauta das eleições, Diorge Konrad entende que alguns avanços já alcançados podem ser creditados na conta das mobilizações do ano passado. Ele cita como exemplos, a aprovação do uso de 50% do fundo social do pré-sal para a educação; 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde, além da aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) e do programa 'Mais Médicos'.

Institucionalidade em xeque

Pablo Ortellado, filósofo, ativista e professor da USP, avalia que o que houve em junho de 2013 é algo muito excepcional em qualquer lugar - um nível de mobilização que envolve até 5% da população-, como mostrou uma pesquisa. Para ele, não é razoável esperar que esse tipo de movimento volte a acontecer tão cedo ou com alguma regularidade.

O que junho mostrou, na opinião dele, foram duas coisas: que há insatisfação para além dos ganhos sociais dos últimos anos, com redução da desigualdade e pleno emprego; e que há movimentos lutando fora das vias institucionais - movimentos para os quais nem imprensa, nem partidos, nem a universidade prestavam atenção.

No entendimento de Ortellado, o que se verá daqui por diante é um desdobramento e aprofundamento destas novas mobilizações, desses novos movimentos sociais, e por outro lado, o reforço de lutas não institucionais (como greves e ocupações) pelos "antigos" movimentos. Para o docente, o que foi colocado em xeque em junho foi a opção, de alguns setores, pela exclusividade da via institucional como arena de disputa política.

Na perspectiva do também professor, Diorge Konrad, a tarefa imediata de movimentos e partidos comprometidos com mudanças é politizar o discurso anticorrupção, fugindo da tecla dos grandes monopólios de comunicação e da política conservadora, aprofundar as mobilizações das ruas para que o voto tenha poder político efetivo, retomando a crítica ao superávit primário, assim como aos altos juros e amortizações da dívida pública que leva em torno de 40% do orçamento da União para os cofres do capital rentista.

Texto: Fritz R. Nunes

Foto: Arquivo

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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