Debate resgata interação entre filosofia e educação SVG: calendario Publicada em 26/08/14 20h08m
SVG: atualizacao Atualizada em 26/08/14 20h15m
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Cultura na SEDUFSM e lançamento de livro abordaram a temática

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Professor Marcos Francisco Martins abriu as falas da noite no Cultura na Sedufsm

A relação óbvia e inquestionável entre a filosofia e a educação e, ao mesmo tempo, a necessidade de resgate dessa correlação, estiveram em destaque nesta segunda-feira, 25, no auditório da SEDUFSM. Na ocasião, foi realizada a 64ª edição do projeto Cultura na SEDUFSM, que trouxe como tema “Filosofia e Educação: olhares reflexivos”. Nesse primeiro momento do evento, compuseram a mesa que discutiu a temática, a professora do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, Fabiane Costas, o professor de Filosofia da rede estadual, militante dos movimentos sociais e professor substituto da UFSM, Vilmar Bagetti, e o professor Marcos Francisco Martins, professor de Filosofia e coordenador do mestrado em Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus de Sorocaba. Na coordenação do debate estava a vice-presidente da SEDUFSM e integrante do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM, Suze Scalcon.

O tema proposto e discutido na primeira parte do evento, contudo, foi complementado ainda por um segundo momento, no qual ocorreu o lançamento do livro “Filosofia e Educação: ensaios sobre autores clássicos”, organizado justamente pelo professor Marcos Francisco Martins em parceria com o professor do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, Ascísio dos Reis Pereira. O livro, que contém aproximadamente 470 páginas e é uma publicação da Edufscar, é uma coletânea de artigos que discorrem sobre a inter-relação entre o pensamento de diversos filósofos clássicos e a educação, e conta também com a participação de autores de Santa Maria.

Entre eles, estiveram presentes no evento e comentaram rapidamente o objeto de seus capítulos (além de autografar exemplares da obra), o professor Luiz Gilberto Kronbauer, do Centro de Educação, José Lourenço Pereira da Silva, do curso de Filosofia, e Sandra Maders, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, todos da UFSM (além dos professores Ascísio e Fabiane que já estavam presentes no primeiro momento da atividade).

O resgate da relação Filosofia e Educação

Embora muitos tenham sido os eixos entre filosofia e educação discutidos no decorrer da noite, uma das tônicas do debate foi o caráter óbvio, inerente e indissociável dessa relação e, ao mesmo tempo, a necessidade de resgatar essa correlação, já que, não raramente, a filosofia é relegada a um papel secundário entre as áreas do conhecimento. E é justamente com o objetivo de colaborar com o processo de reavivamento da filosofia, e em especial da sua relação com a educação, que a obra lançada nessa segunda se apresenta.

Conforme destaca o professor Marcos Francisco Martins, “a obra se constitui como uma referência para o debate de resgate da filosofia, isto é, educar baseado em que e educar para que, e a filosofia tem um papel fundamental nisso, porque a filosofia tem como tarefa discutir os fundamentos e as perspectivas da educação. Penso que se a obra fizer as pessoas refletirem um pouco sobre isso, ela cumpriu seu intuito, que é de despertar essa reflexão filosófica que hoje tem sido preterida justamente porque para o mercado interessa o que ensinar e pra que ensinar tendo em vista os interesses imediatos, e não baseados em que e para que”.

Organizador da obra juntamente com o professor da UFSCar, Ascísio dos Reis Pereira, segue a mesma linha ao defender o papel da obra enquanto provocadora. “A grande expectativa é provocar, provocar a reflexão, provocar a discussão. Porque quando a gente pensa a relação filosofia e educação, na verdade isso nos leva a pensar que universidade nós temos e que universidade queremos. Inclusive agora, a UFSM passando pela oportunidade de discutir uma estatuinte, é uma oportunidade especial que a gente não pode perder. Esse livro não é escrito com a pretensão de verdade, mas com a pretensão de reflexão. De uma reflexão que mude a nós mesmos”.

Nesse sentido, do abandono do processo de reflexão do ser humano sobre o próprio ser humano e suas práticas, Martins ressalta que esse movimento é fruto da imposição de uma lógica de mercado em todas as esferas da vida humana, entre elas, a educação, e que nesse processo de reflexão a filosofia cumpriria papel fundamental. “Sobretudo porque nós vivemos em um contexto em que as reflexões sobre o nosso cotidiano são relegadas a um segundo plano a partir de uma nova organização social que pressupõe como diretriz fundamental as necessidades e o interesse do mercado. Isso faz com que toda lógica de funcionamento do mercado seja estendida para a educação também. Isso faz, por exemplo, com que se privilegie um certo ‘praticismo’ em detrimento da teoria. É o conhecimento na prática e pela prática, sem se perguntar sobre seus fundamentos e sobre para que serve o conhecimento. Perguntas como essa são feitas pela filosofia”, destaca o professor.

A Filosofia na formação dos professores

Em sua intervenção, a professora do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, Fabiane Costas, uma das debatedoras da noite e também autora de um capítulo na obra lançada, destacou especialmente a necessidade da filosofia da educação no processo de formação de professores. Em contrapartida, a professora apresentou dados que demonstram que, mesmo em licenciaturas, muitos são os cursos da UFSM que não possuem a disciplina ou fazem uma mescla dessa em uma única oferta com outros fundamentos da educação, em prejuízo à filosofia. Nesse sentido, tanto o debate quanto a obra que estiveram em pauta nessa segunda, cumpririam o papel também de motivar o retorno da filosofia como eixo da formação de futuros educadores. “Além de motivar as pessoas a voltarem a ler autores clássicos, essa obra pode servir justamente para as pessoas que vêm buscando discutir a filosofia em diferentes espaços e até mesmo nos cursos. No momento que as pessoas começarem a enxergar cotidianidade nesse clássico, ou seja, aquela ideia de trabalhar o que é clássico, as perguntas que não são respondidas ou são em um época, isso pode servir sim para as pessoas pensarem a importância da filosofia da educação para a formação dos professores, e não só para os professores”. Esse resgate da filosofia da educação na formação de professores, contudo, deve ser repensado para os cursos que não possuem tais discussões, mas, também, em muitos espaços onde tal questão já é pautada, conforme aponta Fabiane. “A filosofia da educação ainda é trabalhada, em alguns casos, de uma perspectiva conteudista, mesmo na universidade, e isso não suscita a ideia de discutir a partir do cotidiano questões que estão na essência da humanidade. Então, na verdade, se ela continuar sendo trabalhada dessa forma, talvez ela não tenha impacto. Agora quando se começa a trabalhar o cotidiano, pensando nessas questões da ciência, na abstração, a filosofia vai servir sim e é importantíssima”.

Se na universidade, onde teoricamente o conhecimento deveria ser tratado de maneira a deixar a superficialidade e a urgência, o descaso com a filosofia é uma lamentável realidade, na formação básica a situação é ainda pior, conforme destacou em sua fala o professor de Filosofia da rede estadual e professor substituto da UFSM, Vilmar Bagetti. A situação para o ensino médio, por exemplo, exige ainda mais que a filosofia, por essência uma ciência reflexiva, seja transformada em pragmatismo. “A filosofia é uma disciplina, tanto no ensino médio quanto no superior, que é questionada porque nós vivemos em um mundo muito utilitário, pragmático, então a filosofia pode ser descartada. No entando a filosofia nos ajuda a pensar, a refletir sobre os problemas do cotidiano, discutir sobre a liberdade, sobre a felicidade”, declarou Bagetti.

O impacto no trabalho docente

Se a filosofia como ciência da reflexão é essencial para a formação de novos professores, o impacto da ausência desse processo é sentido também no exercício dos já docentes, afinal o ritmo produção exigido (para que se atenda a editais e a lógica produtivista da carreira) é incompatível com essa reflexão. Além disso, essa lógica imediatista, conforme destaca o presidente da SEDUFSM, professor Adriano Figueiró, define quais áreas do conhecimento são interessantes e quais podem ficar em segundo plano. “Na verdade o que nós estamos constatando é o modelo clássico de formação da modernidade, onde a ciência, especialmente as ciências duras, tem a prevalência, e dentro da universidade elas são as que angariam a maior quantidade de recursos e efetivamente garantem uma condição de pesquisa muito melhor, enquanto as ciências humanas, que são as ciências que trazem a reflexão, que buscam pensar inculive o porque nós fazemos o que fazemos, elas estão sempre num aspecto marginal desse processo. E essa marginalização se dá no recurso, no currículo, num conjunto de elementos que vai configurar porque a educação tecnicista tem a prevalência. Quer dizer, é uma bola de neve que cada vez mais é difícil de a gente romper”, avaliou o professor.

No mesmo sentido, o professor Marcos Francisco Martins destaca mais uma vez a relação entre esse modelo de educação e as exigências do mercado, e, consequentemente, a total incompatibilidade da reflexão profunda a respeito das práticas educacionais. “Hoje em dia há, na dinâmica do ensino fundamental, do ensino médio e até mesmo na do ensino superior e da pós-graduação, uma diretriz que é esquecer os fundamentos, esquecer para que serve a ciência, pra que serve o saber, e pensar única e exclusivamente no conhecimento na prática e pela prática. Uma outra característica que é do mercado e tem sido transferido para a educação é a avaliação. Todo fenômeno educativo, todo ato educativo, precisa ser avaliado no sentido de dar valor, elemento fundamental e necessário para que você, num processo de aprendizagem, verifique quai são os problemas que estão acontecendo de maneira que você possa reinterpretá-los. Isso tem sido traduzido pela avaliação cuja métrica é a da quantificação, o que é próprio do mercado também. Isso tem resultado, por exemplo, em dinâmicas de processos educativos em que a meritocracia tem sido privilegiada em detrimento dos processos de aprendizagem”.

Texto: Rafael Balbueno

Edição: Fritz Nunes

Fotos: Fritz Nunes e Ivan Lautert

Assessoria de Imprensa da SEDUFSM

 

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