Professores não vislumbram guinada à esquerda de Dilma SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 03/11/14 23h15m
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Historiador e economista também avaliam possibilidade de reforma política

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O segundo turno das eleições à Presidência da República, com a disputa, mais uma vez, já estendendo por 20 anos, entre PT e PSDB, suscitou a possibilidade de que, após uma vitória apertada de Dilma Rousseff contra Aécio Neves, que reuniu amplos setores ideológicos à direita, o segundo governo dilmista teria um tom político de coloração mais avermelhada que no primeiro. Entretanto, na análise dos professores Diorge Konrad, do departamento de História da UFSM, e Sérgio Prieb, do departamento de Ciências Econômicas da UFSM, essa guinada mais à esquerda dificilmente se configurará. Os sinais apareceram nos primeiros dias após o pleito, com o aumento da taxa de juros, e também com a alusão de que o ministério da Fazenda pode ir para um profissional ligado aos bancos e a pasta da Agricultura para o setor ruralista.

Para Diorge Konrad, a correlação de forças em um segundo mandato de Dilma Rousseff é desfavorável para que ela opte por avanços mais democráticos com viés esquerdista.  Na avaliação do professor de História, somente com pressão e mobilização social é que se pode avançar, caso contrário, a tendência é de que seja mantida a macropolítica econômica com sua lógica de superávit primário, com o câmbio flutuante e as taxas de juros em ascensão. Konrad ressalta que esse tipo de atitude do governo gera contradições sociais como o baixo crescimento produtivo, resultando em possível aumento do desemprego.

Sérgio Prieb, economista e professor da UFSM, analisa que o novo governo Dilma não escolherá o caminho da esquerda, mas, ao contrário, tentará ganhar setores da base de apoio da candidatura derrotada de Aécio Neves (PSDB). No entendimento do professor, o governo Dilma governa com a mão direita, tentando agradar os interesses do agronegócio e do capital financeiro. Para Prieb, o que deveria ser feito é justamente o contrário: o governo deveria fazer o que o primeiro governo Lula deixou de fazer, ou seja, governar para os trabalhadores, não para os interesses do capital, especialmente o financeiro, incentivar os movimentos populares ao invés de tentar cooptá-los ou reprimi-los.

Reforma política

O apontamento pela presidente Dilma Rousseff de que a reforma política é umas das prioridades de governo está em sintonia com a visão dos professores Diorge Konrad e Sérgio Prieb. Para Konrad, essa deve ser a bandeira principal, inclusive para acabar com a hipocrisia do discurso moralista que “transa” com o financiamento privado de campanha, raiz fundamental da corrupção no processo político e eleitoral brasileiro. Entretanto, ressalta ele, para que seja implementada, somente com muita mobilização popular, pois o futuro Congresso deu uma guinada conservadora, e na perspectiva política a partir dos novos congressistas, o que pode ocorrer é ser ratificada a pauta dos partidos de oposição com a conivência do PMDB.

Na análise de Prieb, os governos petistas tiveram grande apoio popular por muito tempo, e deixaram passar o melhor momento para propor uma reforma política. Para o professor de Economia, os governos de Lula (e o primeiro de Dilma) não fizeram a reforma política por pura falta de vontade e também por estarem se aproveitando da política tradicional, feita em torno de acordos no Congresso, distribuição de cargos, em que a ideologia dos partidos pouco importa, mas sim o tempo de TV na propaganda eleitoral. Concordando com o professor de História, Prieb ressalta que “o perigo é propor uma reforma política neste momento, já que há o risco de um efeito inesperado, tendo em vista que a atual correlação de forças no Congresso não é favorável às forças progressistas”.

Golpismo

Uma semana após a confirmação da vitória da candidata do PT, não apenas o PSDB se arvorou a questionar a lisura do pleito, encaminhando um pedido de auditoria na votação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas também setores da sociedade usaram as redes sociais e organizaram manifestações pedindo o impeachment de Dilma Rousseff. Em alguns casos, algumas vozes reivindicaram a intervenção dos militares.

No entendimento de Diorge Konrad, não se deve subestimar as ameaças golpistas, tão recorrentes na História republicana do Brasil. Para o historiador, por enquanto, essas ameaças têm tido vazão em restritos meios de comunicação, que não toleraram o resultado das urnas, bem como nas redes sociais e em petição pública criada para reforçar o Golpe. Contudo, diz Konrad, todos que lutaram pela redemocratização do país não podem tolerar que os mesmos argumentos do pré-1964, todos de caráter ideológico, sejam novamente usados para defender uma aventura golpista.

Já para o professor Sérgio Prieb, numa disputa eleitoral muito acirrada, assume caráter de normalidade o fato de aqueles que foram derrotados tenham dificuldade em aceitar o resultado. Na análise do economista, mesmo com a reeleição (de Dilma), não se percebe muita gente disposta a defender o governo. Para o professor da UFSM, o descontentamento não é somente da direita, mas também da esquerda e dos setores populares que esperavam muito mais dos governos petistas, que acabaram dando continuidade à política neoliberal dos governos tucanos.

Classes dominantes reacionárias

A disseminação do preconceito contra nordestinos, moradores da região do país que de forma mais intensa votaram na presidente Dilma Rousseff, ocorreu horas após o resultado da eleição e de alguma forma ainda se mantém. Para Diorge Konrad, esse tipo de reação é a demonstração do quanto as classes dominantes do país e setores da classe média ainda são reacionárias. Conforme análise do historiador, um país de herança colonial e escravista mantém subjetivamente os alicerces neste tipo de expressão política do olhar do centro contra a periferia, do branco contra outras etnias, do intenso discurso padrão da suposta “civilização cristã e ocidental”, que tem se traduzido em todos os tipos de preconceito racial, nacional e social.

No entendimento de Konrad, esses setores que expressam o preconceito e mesmo as saídas golpistas são aqueles não aceitam quaisquer avanços democráticos, não toleram políticas afirmativas ou de cotas, não aceitam o mínimo de ascensão social dos de baixo, e usam o mesmo discurso que era usado contra o então presidente João Goulart e suas propostas de reformas de base. Para o professor, esse é o triste marco dos 50 Anos do Golpe de 1964 no Brasil de 2014.

Já na visão do professor Sergio Prieb, se a “direita” olhasse bem para os governos petistas, não teria tantos motivos para chamá-los de governos esquerdistas. Para ele, o que acontece é que os partidos da base aliada, entre eles, alguns que ainda se intitulam de esquerda, viraram partidos da ordem, cuja concepção seria de que, muito mais que mudanças efetivas no país, o importante seria manter-se no poder. O economista destaca ainda que mesmo que os governos petistas tenham governado buscando manter a população miserável na dependência do bolsa família, querendo convencer a população trabalhadora pobre de que virou “classe média”, também manteve uma política de superávit primário, servindo aos interesses dos banqueiros, deixando de reverter as privatizações ocorridas no governo FHC. Além disso, frisa Prieb, (o governo) comprometeu-se com os interesses do agronegócio ao invés da política de reforma agrária.

Em sua análise conclusiva, Prieb acredita que a direita deveria era estar apoiando o governo Dilma, como faz boa parte da direita preocupada mais com seu próprio bolso do que com o fato de Dilma ter sido guerrilheira, ou se o governo federal trouxe médicos cubanos para o país. Para o professor, “essa direita enfurecida, quase fascista, que cresce a cada dia, não admite nem sequer um governo dito ‘de esquerda’ governando com a mão direita. É uma direita preconceituosa, antidemocrática, que não aceita as diferenças, e que, infelizmente, está encontrando muito respaldo em setores da juventude, que é o mais assustador de tudo.”

Texto: Fritz R. Nunes

Ilustração: Clauber Sousa

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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