7 de novembro de 1989: luta docente assume caráter sindical SVG: calendario Publicada em 06/11/14 19h21m
SVG: atualizacao Atualizada em 04/12/14 17h25m
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Seção Sindical dos Docentes da UFSM completa 25 anos nesta sexta-feira

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Clóvis Guterres, o primeiro presidente da Sedufsm

Na fila que se formara para assinatura da ata, alguns dos cerca de cem professores presentes pensavam sobre como aquele momento repercutiria mais adiante na história: 'quem assina primeiro?', brincavam, já prevendo que o documento assumiria um valor expressivo nos anos futuros. Não obstante o clima de descontração e euforia, todos sabiam que, ao deixarem o auditório do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), na rua Floriano Peixoto, levavam consigo a responsabilidade própria daqueles que se atrevem  a um passo adiante. Às 20h30 do dia 7 de novembro de 1989, a Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Santa Maria (Sedufsm) era fundada.

A noite ainda permanece na memória de Cecília Pires, vice-presidente da seção sindical na gestão ‘Consolidação’ (1990-1992). Duas décadas e meia depois, quando a entidade comemora, nesta sexta-feira, 7, seu aniversário de 25 anos, aqueles momentos iniciais parecem distantes na história. Contudo, quem deles participou os entende como o início de um processo histórico no movimento sindical de Santa Maria.

“Quisemos dar esse testemunho de organização politica e de fundamentação de princípios, tentando construir uma democracia muito machucada, débil, ainda frágil dentro de uma universidade que era extremamente conservadora e ia fazer de tudo para manter esse conservadorismo”, diz Cecília, docente que, embora desde 1995 resida na capital gaúcha, foi personalidade ativa naquilo que se convencionou chamar de ‘embrião’ tanto do movimento estudantil quanto do sindical no âmbito da Ufsm.

Resistência e conflito

A fundação da Sedufsm não se deu sem conflitos. Após o alcance de uma vitória pautada durante anos pelos trabalhadores brasileiros, um setor dos professores da Ufsm parecia querer dar um passo atrás, ou simplesmente não avançar a partir de tal conquista política. Fruto de um processo constituinte, a Constituição de 1988 trouxe, para as categorias do funcionalismo público federal, dois direitos até então negados: à sindicalização e à greve. Assumindo caráter de associação desde 1983, a Associação Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES) podia, enfim, ter contornos formalmente sindicais. Então, quando a nova Constituição recém havia sido lançada, a ANDES torna-se o ANDES-SN.

A vitória, comemorada pelos docentes das universidades públicas brasileiras, causava certo temor e resistência em alguns setores da Ufsm. Enquanto todas as outras associações pelo país convertiam-se em seções sindicais e aprovavam a sindicalização ao ANDES-SN, alguns membros da Associação dos Professores Universitários de Santa Maria (Apusm), então presidida por Paulo Sarkis, confrontavam a ideia. Argumentos usados para engrossar as fileiras contrárias à transformação da Apusm em seção sindical assentavam-se sobre especulações acerca de um caráter ‘esquerdista radical’ da Central Única dos Trabalhadores (CUT), central sindical à qual o Sindicato Nacional almejava se filiar. Berenice Corsetti, que participou da gestão provisória da Sedufsm (1989-1990) e presidiu a entidade nas duas gestões posteriores (1990-1994), lembra a chamada ‘ameaça vermelha’, agitada oportunamente em diversos momentos da história nacional.

Perigo vermelho

“No Brasil, a ideia do perigo vermelho serviu para muita coisa, inclusive para o golpe de 1964 e na própria época do Getúlio Vargas. Essa ideia marcou muitos momentos da história politica do país e não foi diferente no movimento sindical. Diziam que nós éramos a ‘turma ligada à ala vermelha’, e na verdade nós éramos um grupo com muitos matizes político- ideológicos e inclusive partidários”, diz a professora, avaliando que tais denúncias tinham o propósito de desconstruir e desacreditar quem vinha fazendo a luta no sentido contrário ao hegemônico.

Junto ao rechaço à dita ‘esquerda radical’, outra polemização que se dava no interior da Apusm era referente à concepção de classe trabalhadora. Para alguns, docente não era trabalhador. Nas palavras de Cecília, professor universitário via-se, praticamente, como um ente à parte da sociedade, Transformar-se em seção sindical membro de uma entidade nacional que compunha a CUT parecia causar desconforto. “Então essa ideia do sindicato nacional se filiar à CUT significava que todos estavam no mesmo barco, ou seja, somos iguais a todos os trabalhadores em geral. Isso era algo que uma parte dos docentes não aceitava”, lembra Berenice.

Das primeiras dificuldades enfrentadas

Na noite de 7 de novembro, quem presidia a mesa da assembleia era Clovis Guterres, primeiro presidente da Sedufsm na gestão provisória que se formara de 1989 até 7 de maio de 1990. Hoje, na memória do docente, as lembranças da conquista política representada pela fundação da entidade misturam-se àquelas que ilustram as imensas dificuldades encontradas no início da trajetória. “Quando se constituiu a diretoria não havia disputa de chapas, foi um processo natural: as pessoas que estavam conduzindo o processo acabaram assumindo a tarefa de direção provisória e de criar as condições reais de funcionamento da seção sindical”, explica Guterres.

Uma vez que a Apusm abrira mão da prerrogativa sindical, o caminho ficou livre para a instituição da Sedufsm como entidade representativa de classe. Contudo, se por um lado isso era positivo para a organização docente, por outro impunha uma série de dificuldades: a recém-criada seção sindical teve de abrir mão de todo o patrimônio adquirido até então pela Apusm – associação construída, ao longo de anos, por diversos dos fundadores da Sedufsm. Sem sede, sem grandes verbas, sem material físico, a jovem entidade atravessou um período de grande precariedade estrutural.

Contudo, o ponta pé inicial fora dado e não haveria obstáculos encarados como intransponíveis por aquele grupo que, com firmeza, abraçou para si a tarefa de consolidar a entidade. Como sede provisória, uma sala no oitavo andar da Antiga Reitoria, cedida pelo então reitor Tabajara Ruas. Para preencher os sete metros quadrados do espaço, uma máquina de escrever encontrada no almoxarifado, uma escrivaninha e Cristina Rosa, primeira funcionária. Os diretores também se revezavam para estarem lá. Naquele momento, conta Cecília, o principal desafio era mostrar não só à universidade, mas à população como um todo, que a Sedufsm existia.

Conheça os membros da diretoria provisória (1989-1990):

Presidente - Clovis Guterres
Vice-presidente: Eduardo Ravagni
Secretário-geral: Berenice Corsetti
1º secretário: Clauton Monte Machado
Tesoureiro-geral: Luiz Ernani B. de Araújo
1º Tesoureiro: Israel N. Silva Mármol
Suplentes: Rosane M. Manica Rizzi Cattani, Cecília M. Pinto Pires e Beatriz M. P. Quintanilha.

*Na próxima matéria, destacaremos momentos centrais do processo de consolidação da Sedufsm como referência de luta para a categoria docente da Ufsm. As dificuldades objetivas relatadas aqui foram sendo superadas, muito em consequência de avanços subjetivos na consciência dos docentes de Santa Maria, que passaram a ver, no sindicato, seu instrumento legítimo de representação e defesa contra as investidas dos sucessivos governos.

**Os depoimentos desta matéria são trechos extraídos de entrevistas que constarão no documentário ‘Sonhos não envelhecem: 25 anos da Sedufsm’, previsto para ser lançado em dezembro deste ano.

 

Texto: Bruna Homrich

Imagem: Arquivo/Sedufsm

Edição: Fritz R. Nunes

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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