Década de 90: docentes lutam contra projeto privatizante SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 20/11/14 21h37m
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Nestes 25 anos, Sedufsm traz a marca da defesa da educação pública

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O movimento sindical docente sempre fora marcado pela defesa incondicional da educação pública, gratuita e de qualidade. Junto a esta bandeira, levantavam-se várias outras, todas pautando o acesso universal aos direitos básicos e a valorização dos serviços públicos. Na segunda metade dos anos 1990, contudo, tal combatividade inerente aos trabalhadores do funcionalismo público foi ainda mais central, tendo em vista a concretização de um projeto oposto ao almejado: o neoliberalismo avançando sobre o patrimônio nacional e o colocando nas mãos de empresas privadas. Começavam os anos Fernando Henrique Cardoso (FHC). Foi esse o contexto em que Francisco Freitas assumiu a presidência da Sedufsm, na gestão ‘Unidade na Ação’ (1996-1998), período permeado pela luta em torno da valorização docente.

“Nós não queríamos penduricalhos em nosso contracheque, queríamos salário. Um salário digno que nos permitisse viver, ter lazer, dar educação aos filhos, ter acesso à saúde. Com o FHC, os cortes sempre foram muito grandes, nossa ascensão na carreira, pífia e, financeiramente, mais pífia ainda”, lembra Freitas, em cuja gestão ainda tivera de lidar com aquilo que chamou de ‘galope da privatização’ do governo tucano na educação, especialmente a partir da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Para se contrapor à investida privatista, o movimento sindical docente, capitaneado pelo ANDES-SN, travou duros embates com diversos parlamentares.

O ex-presidente ainda guarda a imagem do ginásio Mineirinho, em Belo Horizonte, lotado de pessoas quando do I Congresso Nacional de Educação (CONED), ocorrido no primeiro ano de sua gestão. Naquele momento, na visão do docente, o Sindicato Nacional construiu um capítulo histórico de sua trajetória, tendo conseguido elaborar, em conjunto com diversas outras entidades de classe e movimentos sociais, uma LDB bem fundamentada na defesa da educação pública nos três âmbitos – federal, estadual e municipal. O projeto fora derrotado no Congresso, já que o governo de FHC reuniu forças suficientes para sufocar as proposições dos setores ligados aos trabalhadores.

Em seu depoimento sobre os anos à frente da Sedufsm, Freitas não deixa de salientar a contrariedade do sindicato à partidarização do movimento sindical. “Sabíamos que à medida que o ANDES-SN se partidarizasse, evidentemente haveria rachas prejudiciais à luta como um todo”, pondera o professor. Outra questão que caracteriza a gestão 1996-1998 é a avaliação de que se fazia importante o deslocamento de representantes da Sedufsm para dentro do Conselho Universitário (Consu). Ele explica que, por um tempo, tal estratégia deu certo,  pois permitiu aos docentes estarem por dentro dos debates concernentes à comunidade universitária e evitar que o então reitor – alinhado aos interesses do governo federal – provocasse mais danos às condições de trabalho docente e à qualidade do ensino.

Produtivismo

Hoje Freitas olha para trás e vê inúmeras diferenças no fazer docente dos anos 1990 para que o impera hoje na universidade. Toda a mobilização naquele momento era, justamente, para barrar a forma de pensamento que ele denomina como ‘fordista’, hoje já no interior das instituições de ensino públicas. Embora tenham protagonizado um período extremamente duro de enfrentamento com o projeto neoliberal, as concepções de produtivismo e aceleração da produção científica ainda ensaiavam um jeito de adentrar o cotidiano do professor.

“Quando ingressei na Ufsm enxergávamos claramente a possibilidade de o professor ser um educador. Ele não tinha, em suas costas, a cobrança da CAPES, CNPq e outros órgãos de fomento à pesquisa. Não tinha a cobrança da produtividade”, diz o docente, ao comparar com o cenário observado hoje, cujos aspectos desenham, para ele, a imagem do docente não mais como educador, mas ‘professador’. “Hoje você não tem a possibilidade de pensar o que já está pensado. Você só tem a possibilidade de dar continuidade ao que está pensado como sendo a única verdade posta”, reflete Freitas.

Além da Sedufsm, ele ainda militou no movimento sindical metalúrgico e em sindicatos de professores estaduais. De toda essa estrada, a importância da coletividade é um dos pontos mais destacados de sua experiência. “É dentro desse coletivo que você pode minimizar as suas dificuldades e potencializar aquelas virtudes que você tem. Isso sem que você fique submisso a determinadas tendências, mas que consiga conviver com o diferente sem aniquilá-lo”, conclui.

1000 dias sem reajuste

Nos últimos anos da década de 1990, Jadir Lemos não tinha a pretensão de presidir um sindicato. Contudo, o contexto era tão árido para a categoria docente e as necessidades de luta tamanhas que o docente não tivera outra escolha: juntou-se ao grupo de professores que, em 1998, assumiu a Sedufsm com a gestão ‘Ação Coletiva’. Tendo se aproximado do movimento sindical docente no final de 1992, Lemos agora se tornava presidente e, nessa condição, integrou organicamente a greve contra os mil dias sem reajuste salarial.

Típico de um governo que atuava sem mediações com o movimento dos trabalhadores e avançava sistematicamente contra esse, a ameaça de corte do ponto gerava grande instabilidade entre os grevistas, de forma que a diretoria da Sedufsm teve de acumular muita força para sustentar o movimento paredista, que durara mais de cem dias. “Muitas pessoas recuaram do movimento, outras ficaram na expectativa do que poderia acontecer. Nosso grande dilema era como levaríamos adiante se esmorecesse a luta. Gerou certo conflito, mas o que remonta é que foi um momento muito crítico, lidar com os associados, e ver a angústia deles”, rememora o docente.

Mas a greve dos mil dias sem reajuste foi apenas uma das tantas que estouravam naqueles anos. Lemos lembra a efervescência daquele período, em que, mal terminava uma greve, já tinha de se pensar na próxima. Foi também durante sua gestão que ocorrera a greve dos 87 dias, no ano 2000. É neste movimento, inclusive, que Lemos se despede do sindicato. Na bagagem de sindicalista, estas últimas memórias aparecem como um misto de intensas dificuldades e bravas superações. “Nossa luta era muito forte em defesa das pautas que já eram antigas e não se venciam. As pessoas já duvidavam se seriam vencidas ou não, e de onde arranjaríamos forças. Foi meu momento final. Minha grande experiência foi ter ficado até o fim daquela gestão”, diz o professor, que posteriormente fora avançar em seus estudos na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc).

Para Lemos, o movimento docente fora uma escola. A exemplo de Freitas, ele também não iniciara sua militância na universidade: participara de outras entidades representativas que contemplavam suas profissões anteriores à docência: sindicatos de bancários e comerciários. “Quando chego na universidade, deixo de ser fisioterapeuta e passo a ser professor. Incorporei o personagem professor na minha vida. Foi o momento que eu tive para compreender, apreender e poder me situar mais nos espaços políticos e sociais”.

*Os depoimentos contidos nesta matéria são trechos de entrevistas concedidas para a elaboração do documentário ‘Sonhos não envelhecem: 25 anos da Sedufsm’, com previsão de lançamento para dezembro deste ano.

 

Texto: Bruna Homrich

Foto: Arquivo/Sedufsm

Edição: Fritz R. Nunes

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

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