Fundações e a lógica privatista na UFSM combatida pelo sindicato SVG: calendario Publicada em 20/11/14 13h43m
SVG: atualizacao Atualizada em 20/11/14 13h51m
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Ex-presidente da SEDUFSM lembra a luta em defesa da autonomia universitária

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Em setembro de 2007, antes do escândalo Fatec/Detran, a Sedufsm sediou evento para debater fundações

           No ano de 2007, os problemas advindos da instalação de fundações público-privadas nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) já eram tema de debate no âmbito do movimento sindical docente. Em setembro daquele ano, a SEDUFSM organizara um seminário em que se reuniram, na cidade de Santa Maria, as seções sindicais da Universidade Federal de Pelotas (ADUFPEL), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ADUFGRS) e da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Nacionalmente, denúncias de irregularidades faziam-se públicas em alguns locais, como em Florianópolis e Pernambuco. Nesses 25 anos de história da seção sindical, fundada em 7 de novembro de 1989, é indispensável relembrar a luta em defesa da autonomia universitária.

A gestão da SEDUFSM responsável por sediar o seminário fora a ‘Resistência e Compromisso’, presidida pelo professor Diorge Konrad no período de 2006 a 2008. O docente explica que a entidade não tinha quaisquer provas concretas sobre as acusações e, para além disso, a função de fiscalizar e investigar cabia à Polícia Federal, não a um sindicato. Pouco mais de um mês após o evento, veio à tona o escândalo da Operação Rodin, em que a Ufsm se viu envolvida numa denúncia sobre um esquema de corrupção entre o Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN-RS) e a FATEC, fundação instalada no interior da universidade.

Konrad lembra a forma como ficou sabendo daquele estouro. Numa certa manhã, saíra do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), no campus de Camobi, e se encaminhara ao ponto de ônibus com intenção de tomar o rumo do centro da cidade. Enquanto esperava o transporte coletivo, um colega encontra-o e pergunta se ele está sabendo das prisões na Fatec. “Eu não sabia de nada naquele momento, como a maior parte da comunidade acadêmica e da população em geral”, diz o docente, que, ao entrar no ônibus, recebe ligação de um jornal local, solicitando entrevista com ele, então presidente do sindicato.

Em frente ao prédio da Antiga Reitoria, Konrad reforçou, em entrevista, o posicionamento defendido no seminário e sustentado posteriormente: a situação apresentada era muito grave, porém os acusados deveriam ter direito legítimo de defesa até a última instância. O sindicato, diz ele, não poderia se pronunciar sobre qualquer um dos supostos envolvidos na ação criminosa. A crítica historicamente construída pelo ANDES-SN e suas seções sindicais situava-se no âmbito da autonomia universitária, ferida pela ingerência das fundações de apoio. “Nós fazíamos o combate político de como a universidade estava, cada vez mais, administrada pela lógica das fundações”, explica o ex-presidente.

Muito em decorrência da experiência vivida junto à Ufsm nesse cenário, Konrad juntou-se aos professores Sérgio Prieb, Glaucia Konrad, Ester Wayne Nogueira e Maristela Souza para escrever um texto de resolução (TR) a ser apresentado no 27º Congresso do ANDES-SN, ocorrido em 2008, na cidade de Goiânia. O conteúdo do TR apontava como necessária a defesa do afastamento gradual e total entre fundações de apoio e as universidades. “Foi polêmico no Congresso, porque tínhamos colegas que defendiam uma posição mais radical – afastamento imediato das fundações. Nós achávamos que tática e estrategicamente a posição mais adequada era aquela, que defendo até hoje: a universidade voltar a gerir-se com autonomia, com forca própria, sem depender de fundação seja no seu quadro funcional, seja no investimento para pesquisa, etc.”, explica o professor, frisando que a TR apresentada pela SEDUFSM foi vencedora no Congresso, tendo sido basilar para uma das principais defesas do ANDES-SN até os dias de hoje: defesa da autonomia universitária e do afastamento gradual e total das fundações.

Implicações do neoliberalismo no perfil do jovem docente

Quando da gestão ‘Resistência e Compromisso’, o processo de expansão universitária já havia iniciado, especialmente com a criação da UNIPAMPA em 2006, então vinculada tanto à UFSM quanto à UFPEL. Porém, foi no período presidido por Konrad que o sindicato buscou efetivamente os docentes daquela unidade, buscando organizá-los. Muito desse movimento da entidade foi concretizado em visitas realizadas pelos diretores em conjunto com a assessoria jurídica do sindicato. Nesses encontros, era apresentada não somente a Sedufsm, mas o histórico de luta da categoria docente. Isso, avalia o ex-presidente, foi muito importante para a posterior fundação da Sesunipampa, entidade sindical própria da instituição, formalizada quando essa se desvincula de Santa Maria e Pelotas.

 No contato com os novos professores, Konrad aponta um novo perfil: jovens que realizaram, num curto período de tempo, graduação, mestrado e doutorado, ingressando logo depois como docentes da universidade. Tais jovens também seriam a expressão de mais um dos efeitos negativos do neoliberalismo na organização dos trabalhadores. O docente do departamento de História e ex-presidente explica que tal ideologia formou professores que, durante sua trajetória acadêmica, não se envolveram com o movimento estudantil, centrando esforços no aprimoramento do currículo. Quando trabalhadores, consequentemente também não se envolvem com a luta sindical.

“Sempre disseram ‘esse pessoal que se liga ao sindicato é porque não quer trabalhar’. Participei de uma direção da SEDUFSM como presidente em que todos os colegas eram muito produtivos academicamente. Nunca deixei de fazer ensino, pesquisa e extensão, mas nós compreendíamos que participar do movimento sindical é parte da defesa dessa universidade. Então não há contradição alguma entre ser sindicalista e professor da universidade”, assegura Konrad.

Filiação à CSP-Conlutas

Foi também no período em que Konrad esteve à frente da SEDUFSM que o ANDES-SN delibera sua filiação a então central sindical CONLUTAS (atual CSP-Conlutas). Na visão do ex-presidente, se a filiação à CUT em 1989 foi permeada por grandes debates e divergências internas na entidade nacional, o passo em frente rumo à CONLUTAS não foi muito diferente. Ele, inclusive, apoiara o texto de resolução escrito pelo professor Carlos Alberto da Fonseca Pires defendendo que o sindicato nacional não se filiasse a nenhuma outra central sindical naquele momento. Contudo, a proposta fora derrotada por 180 votos a 110 no 26º Congresso, realizado em Campina Grande, no ano de 2007.

“Decisão de Campina Grande foi implementada de imediato na SEDUFSM. No primeiro momento já se colocou uma placa em frente ao sindicato [fazendo referência à central sindical]. Mas não havia militância interna pró-CONLUTAS. Até hoje vejo que é um pouco tênue, é um sindicato filiado, mas militantes da CONLUTAS são poucos”, opina Konrad.

Educar-se na luta

Hoje, muitos dos princípios de vida adotados por Konrad vieram de seu envolvimento com a luta sindical. O professor, que também milita em outras instâncias políticas, vê na seção sindical não apenas uma escola, mas o princípio ativo pautado por Paulo Freire: o do educar-se na luta. Em 2014, o ex-presidente completa 20 anos como professor da UFSM, e não acha mais possível desvencilhar sua defesa de uma universidade pública, gratuita, estatal e de qualidade daquela empreendida ao longo dos 25 anos de história da SEDUFSM.

No período em que presidiu o sindicato, Konrad sentiu, de perto, o peso da perda de um docente considerado como referência na UFSM: Joel Abílio Pinto dos Santos, preservado na memória do ex-presidente como alguém em quem razão e emoção misturavam-se de forma intensa, com prevalência da segunda sobre a primeira. “Ele era um ranzinza, mas um ranzinza querido por todos nós”, diz o professor e historiador, assim como Joel. Mas a perda do colega de departamento não foi a única sentida: Konrad lembra também de um importante militante, o professor que estava aposentado do Centro de Educação, Atílio Aléssio.

*Os depoimentos contidos nesta matéria são trechos de entrevistas concedidas para a elaboração do documentário ‘Sonhos não envelhecem: 25 anos da Sedufsm’, com previsão de lançamento para dezembro deste ano.

Texto: Bruna Homrich

Imagem: Arquivo/SEDUFSM

Edição: Fritz R. Nunes

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

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