Entidades avaliam importância da Comissão da Verdade
Publicada em
15/06/15 16h34m
Atualizada em
15/06/15 16h37m
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Criação do grupo na UFSM tem lançamento oficial nesta segunda, 15 de junho, às 19h
“Colher depoimentos, apurar a verdade, nada mais são que obrigações advindas da cidadania. Durante 21 anos, predominou no país o autoritarismo, a violência e as universidades foram reflexos da ditadura. Cabe apurar a voz daqueles que não foram ouvidos, daqueles que foram perseguidos, suas razões. A verdade vem para cicatrizar feridas, para resolver situações e apresentar soluções”. O comentário é de Rondon de Castro, professor do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM, conselheiro da Sedufsm e indicado a membro titular da Comissão da Verdade, que será instalada oficialmente nesta segunda, às 19h, no auditório da Antiga Reitoria (Floriano Peixoto, nº 1184).
Conforme a Administração Superior da UFSM, a comissão será composta de 11 membros titulares e cinco suplentes. Além da Sedufsm, terão representantes na Comissão o sindicato dos técnico-administrativos (Assufsm), o diretório central de estudantes (DCE), o Conselho Universitário (o Consun) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB, seção Santa Maria). Professores e estudantes das áreas de História, Arquivologia e Direito serão convidados a apoiar tecnicamente os trabalhos.
Para Beto Fidler, indicado a membro pela Assufsm, “a instalação da Comissão da Verdade no âmbito da nossa instituição, ainda que tardiamente, limita-se a pesquisar os fatos ocorridos desde o golpe de 1964 até o fim dos governos militares e tem por objetivo, não fazer uma ‘caça às Bruxas’, no sentido de punição, como pensam alguns, mas revisar um período obscuro de nossa história.” Diz ainda Fidler que “é importante para nossa instituição, para a comunidade acadêmica e para a sociedade, que fatos relacionados à violação dos direitos humanos, à liberdade de pensamento e expressão sejam revistos, pois muitos colegas tiveram sua liberdade tolhida e sua carreira profissional prejudicada dentro da instituição.”
Cultura democrática
Na avaliação de Alcir Martins, que representará, na condição de suplente, o Conselho Universitário da UFSM, “instalar a Comissão da Verdade é uma decisão emblemática que indica o firme engajamento da universidade e das entidades proponentes em somar esforços para o resgate das vidas que foram destruídas e das histórias e memórias que foram violadas. E, com isso, contribuir para a consolidação de uma cultura democrática não só na sua forma eleitoral, com rituais e sufrágios periódicos, mas com substância que seja pulsante e viva nas nossas relações civis e políticas. E ainda, de quebra, colabore também para romper com o discurso fácil de que ‘fardas’ no poder solucionariam, em qualquer tempo e época, os problemas do Brasil.”
Honrar os antecessores
Priscilla Costa, a partir de um texto elaborado de forma coletiva pelo DCE da UFSM, analisa que “o movimento estudantil foi um dos primeiros setores atingidos e jogados à clandestinidade no período ditatorial, como ocorreu com nossa entidade de representação máxima, a União Nacional de Estudantes, além da UBES, e de organizações regionais e de base, totalmente transformadas em aparelhos inócuos de representatividade e de luta.”
Conforme o depoimento encaminhado pela diretoria do DCE, “nós, estudantes, exigimos as respostas que ainda não obtivemos sobre todos os casos omissos, de toda a tortura e perseguição sem respostas e ainda por serem resolvidas. São essas repostas que queremos ter - e teremos - através da Comissão da Verdade da UFSM. Não aceitaremos qualquer tipo de intolerância à democracia, à justiça e à memória em nome de todos e todas as estudantes, professores e servidores perseguidos por sua ideologia na Ditadura Civil-Militar. Só construiremos um futuro digno e justo se honrarmos todos e todas que nos antecederam e resistiram até aqui”.
Papel da ASI
Para o vice-presidente da Sedufsm, professor Humberto Gabbi Zanatta, “conhecer a verdade não é revanchismo, nem vingança”. Na avaliação do professor, uma das questões que terá que ser abordada através da Comissão se refere aos “limites e alcances da estranha Assessoria de Inteligência (referência à Assessoria de Segurança e Informação-ASI, que funcionou na instituição durante o regime militar), pois passados mais de meio século, ainda continua às escuras. Precisamos saber, já que foi tão importante e teve local privilegiado no âmbito físico-organizacional da instituição, quais os benefícios gerados para a UFSM, às gerações da época e às de hoje”, destaca Zanatta.
Texto e foto: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm