Morte de Coronel Ustra repercute na UFSM
Publicada em
15/10/15 16h11m
Atualizada em
15/10/15 16h17m
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Impunidade de ex-torturador sofre muitas críticas
Nunca achei que o diabo morresse. Foi com essa frase que o professor Rondon de Castro, do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM, e que integra a Comissão da Verdade da UFSM por indicação da Sedufsm, reagiu ao tomar conhecimento da morte do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ocorrida na manhã desta quinta, 15. Conforme o noticiário, Ustra, que tinha 83 anos e era natural de Santa Maria, morreu em hospital de Brasília devido a complicações decorrentes de um câncer. Para Rondon, é de se lamentar que uma geração esteja indo embora sem que tenham testemunhado para a sociedade a verdade dos fatos dos quais participaram.
A principal questão levantada a partir da morte do militar aposentado, considerado uma figura emblemática do período (década de 1970) da ditadura militar, quando comandou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, é a impunidade. Conhecido pelo codinome de Dr. Tibiriçá, Ustra dirigiu uma estrutura, na concepção de Rondon de Castro, “estrutura burocrática de fidelidade ao regime”, através da qual teriam sido torturadas mais de 500 pessoas, sendo que 50 dessas acabaram mortas.
José Luiz de Moura Filho, professor do departamento de Direito da UFSM, e que integra também o Comitê Santa-mariense pelo direito à memória e à verdade, considera lamentável que “as instituições políticas e jurídicas brasileiras não tenham conseguido avançar além do trabalho minucioso feito pela Comissão Nacional da Verdade, que tendo logrado provar a autoria de graves violações aos direitos humanos pelo Coronel Ustra, recomendou sua responsabilização, assim como a dos demais agentes do Estado identificados no Relatório I”.
Moura ressalta que “ao contrário do que muitos pensam, ainda há muitos deles (agentes do Estado) vivos, sendo que eu mesmo constatei que um deles vive entre nós e goza de saúde. A comunidade - acadêmica e externa - de Santa Maria em breve se surpreenderá com o que a Comissão da Verdade da UFSM está encontrando em sua missão”. Na avaliação do professor, “se as nossas autoridades continuarem a promover transições negociadas, não deixarão nunca de serem reféns da memória dos algozes enquanto deveriam ser a voz das vítimas.”
Morosidade, impunidade e Nazismo
Na opinião de Rodrigo Suñe, que fala pela coordenação nacional do Levante Popular da Juventude, a morte de Ustra, sem a devida condenação, devido aos graves crimes de lesa-humanidade, na medida em que comandou um dos maiores centros de tortura do regime militar, demonstra a morosidade da justiça e, ao mesmo tempo, reafirma a necessidade e a atualidade da luta por memória, verdade e justiça.
O argumento da impunidade também é levantado por um dos jornalistas da atualidade que mais pesquisou sobre a ditadura militar. Mário Magalhães, autor da premiada obra sobre a história do guerrilheiro Carlos Marighella, publicou em seu blog, nesta quinta-feira, que “a morte de Ustra é uma triste notícia para as consciências democráticas”. Segundo ele, o coronel reformado chefiava um verdadeiro “campo de concentração nazista” e “escapou de ser punido pela justiça”. Magalhães acrescenta ainda que “o coronel retrata a impunidade maldita que estimulas as novas gerações a repetirem o que de mais terrível foi feito pelas do passado”.
Texto: Fritz R. Nunes com informações de Zero Hora e Blog do Mário Magalhães
Imagem: Divulgação e charge de Carlos Lattuf
Assessoria de imprensa da Sedufsm