8 de março na UFSM: igualdade de gênero em pauta
Publicada em
08/03/16 17h35m
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Caminhada e debates marcaram o Dia Internacional de Luta das Mulheres
O arco da UFSM, nesta terça-feira, 8, amanheceu coberto de faixas na cor lilás. Acontece que, no Dia Internacional de Luta das Mulheres, a universidade foi palco de uma série de atividades que convidaram a comunidade acadêmica à reflexão. Desconstruindo a ideia de que essa data reserva-se apenas a homenagens, ocorreu, nesta manhã, uma caminhada pelo campus em que eram notados cartazes e gritos de ordem reivindicando o fim da violência de gênero, permanência estudantil qualificada para as estudantes mães, políticas públicas efetivas para as mulheres, parto humanizado, dentre outras pautas que, quando alcançadas, certamente terão um valor infinitamente maior que um buquê de flores ou uma cesta de chocolates.
A manifestação iniciou com uma concentração no arco da universidade e percorreu as ruas centrais, chegando até à frente do Restaurante Universitário (RU). Lá, as meninas e mulheres deram-se as mãos formando uma grande ciranda e cantaram a importância da união e do caminhar juntas para avançar. Após esse momento, teve início a roda de conversa, que coincidiu com o horário de maior aglomeração estudantil, pois ocorreu ao meio dia.
Maria Celeste Landerdahl, diretora da Sedufsm e integrante do Fórum de Mulheres de Santa Maria, lembrou que, em 2015, mais de 180 países – dentre esses, o Brasil, assinaram um pacto da Organização das Nações Unidas (ONU), no qual foram delineados 17 objetivos a serem alcançados até o ano de 2030. Dentre esses está a igualdade de gênero e o empoderamento de meninas e mulheres. “Ao fazermos atividades como as de hoje, estamos contribuindo com essa meta. Entendo as meninas que têm vergonha de falar, eu também tinha. Porém, pegar o microfone também é se empoderar. Espero que as pessoas aos poucos comecem a ver a importância do 8 de março como um dia de luta e a igualdade de gênero como uma questão importante para o desenvolvimento da humanidade. É um tema universal, então, tem de estar dentro da universidade”, disse a professora.
Melissa Stein Carrier, técnica-administrativa em educação, resgatou um pouco da luta das mulheres na história e trouxe perspectivas para o hoje. “Nós, mulheres trabalhadoras, lutamos por democracia representativa e participativa plenas, por inserção e atuação nos espaços de decisão política, onde possamos colocar nossas pautas na ordem do dia para serem apreciadas com a urgência que merecem. Nós, mulheres trabalhadoras e estudantes, lutamos por políticas publicas”.
Sandra Aires, trabalhadora da saúde e representante do movimento de mulheres negras e religiosas, trouxe o recorte de raça para o debate. “Nós, negros, fomos escravizados e trouxemos, de nossos antepassados, toda a dor e toda a luta. As mulheres brancas lutaram para ter direito ao trabalho, e nós, negras, lutamos para sermos reconhecidas como seres humanos. Somos mulheres que lutamos pela não opressão e também por um feminismo com recorte social, de gênero e de raça”, pontou, lembrando o dia 25 de julho como uma data importante ao feminismo negro.
Permanência para as estudantes mães
Rafaella Codeim, integrante do DCE UFSM, trouxe, para a roda, o debate acerca da assistência estudantil diferenciada às estudantes mães. “Nós, mulheres, precisamos de uma assistência estudantil diferente dos meninos, porque há muitas mulheres que são mães e precisam morar na Casa do Estudante com seus filhos. Felizmente não é a realidade de Santa Maria, mas em muitas universidades do Brasil, as mulheres, assim que engravidam, não podem mais estudar. As mulheres precisam também ter onde deixar seus filhos enquanto estudam. A UFSM fez um acordo com a prefeitura e disponibilizou creche para todas as estudantes mães. Porém, essas creches são só de meio turno, e a grande maioria das mães da UFSM estudam em turno integral. Então, precisamos garantir que essas crianças tenham onde ficar em turno integral, para que as mulheres possam estudar e não precisem, muitas vezes, ter de trabalhar por fora para conseguir pagar a creche no outro turno ou pagar pessoas que cuidem as crianças nesse período”, problematizou a estudante, criticando o fato de ainda existir divisão sexista da formação e do trabalho, a exemplo de bolsas estudantis que são preferenciais para homens ou mulheres.
Helen Cabral, professora estadual e integrante do Fórum de Mulheres, pontuou que Santa Maria é o quarto município no país que mais registra ligações para o 180 – Central de Atendimento à Mulher. “As mulheres daqui estão pedindo socorro, mas, na prática, não conseguimos protegê-las”, disse, ressaltando a importância de um conselho municipal de mulheres.
Getulio Lemos, tesoureiro-geral da Sedufsm, falou sobre a necessidade de justiça e tratamento igualitário a homens e mulheres. “É preciso ter as mesmas condições, ganhar os mesmos salários e as mesmas promoções. As mulheres precisam chegar ao poder. Tirando uma fotografia do Congresso Nacional, vemos que pouquíssimas mulheres estão no conjunto dos parlamentares. Se tirarmos foto da administração pública, por exemplo, também pouquíssimas mulheres. É necessário equilibrar essa balança”, defendeu o professor.
As atividades integraram a Semana da Calourada e foram organizadas pela Sedufsm, Fórum de Mulheres de Santa Maria, Nemgep (Núcleo de Estudos Mulheres, Gênero e Políticas Públicas) e grupos de pesquisa Elas e Educação e Gênero.
E a programação do 8 de março estende-se por toda a terça-feira na UFSM. Às 17h, ocorreu reunião preparatória ao Encontro de Mulheres Estudantes da UNE e, às 20h, cantoras santa-marienses adentram o palco no show ‘Mulheres (En) canto e Poder’.
Texto e fotos: Bruna Homrich
Assessoria de Imprensa da Sedufsm