Estatuinte: palestrantes defendem universidade igualitária SVG: calendario Publicada em 16/03/16 18h49m
SVG: atualizacao Atualizada em 16/03/16 18h58m
SVG: views 1307 Visualizações

Conferência com representação dos três segmentos ocorreu na tarde de terça, 15

Alt da imagem
Conferência aconteceu no Auditório do Centro de Ciências Rurais (CCR)

Que universidade temos hoje? Para o técnico-administrativo em educação, Alcir Martins, a universidade ainda guarda resquícios oligárquicos e, apesar dos avanços após o fim do regime militar, mantém-se um espaço em que a desigualdade de tratamento ainda predomina, com o segmento docente sendo considerado mais relevante que os demais. Pâmela Kenne, estudante e diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), vê diversas concepções de universidade em disputa, sendo que a construção de uma universidade que não seja excludente e elitista, só poderá ser feita a partir do momentos em que os três segmentos estiverem num mesmo patamar de igualdade, e que a comunidade externa, entendida como não somente os empresários, esteja inserida nessa realidade.

Tanto Pâmela como Martins, vislumbram na Estatuinte uma ferramenta na construção de uma nova universidade. Ambos participaram em conjunto com o professor Elvandir José da Costa, aposentado do departamento de Direito da UFSM, da conferência temática da comissão pré-estatuinte na tarde de terça, 15, com o título “a universidade que temos”. O evento aconteceu no Auditório Flávio Schneider, do Centro de Ciências Rurais (CCR). A coordenação da mesa foi realizada pela servidora técnico-administrativa, Diana Sampaio, que também integra a comissão. Uma delegação de Cachoeira do Sul também prestigiou a atividade.

Em sua exposição, Elvandir José da Costa traçou um panorama mais pessimista sobre as perspectivas de mudança da universidade brasileira. Na visão dele, não são as políticas governamentais que vão mudar a universidade, mas sim, as pessoas, em primeiro lugar, que precisam se modificar. O professor, que também atuou como procurador federal na UFSM, critica, por exemplo, o poder assumido pelas fundações ditas de apoio. Para Costa, o que se consolidou no Brasil foi o modelo norte-americano de universidade. “Vivemos numa torre de marfim com uma ânsia de ganhar dinheiro, mas a missão da universidade não é gerar dinheiro”, sentencia.

Democracia estreita


 

Ao contrário do professor aposentado do departamento de Direito, o técnico-administrativo Alcir Martins vê com otimismo o debate sobre o processo estatuinte na UFSM. Ele vê a questão da paridade entre os segmentos tanto na comissão pré-estatuinte como na eleição para os delegados estatuintes como um avanço. Para ele, o que se percebe é “uma fenda estreita de democracia que precisa ser alargada”.

Martins exemplificou que já há situações em que a desigualdade entre os segmentos já foi, de certa forma, superada. É o caso, por exemplo, dos Institutos Federais, em que os estatutos que já foram referendados pelo MEC trazem a paridade como regra para escolha do reitor. Na greve dos técnico-administrativos do ano passado, destaca ele, os negociadores do Ministério da Educação chegaram a dizer que a questão da paridade entre os segmentos nos conselhos superiores, contrariando a ideia dos 70% de professores a 30% dos demais segmentos, não é algo que não se possa negociar. Entretanto, os reitores, através da Andifes, não teriam levantado essa pauta para negociação.

O representante dos técnicos também procurou rebater o que ele chama de “mantra” de alguns setores da instituição, segundo os quais, os professores devem ter preponderância nas decisões, pois esse segmento é mais perene e tem mais responsabilidades, enquanto os outros segmentos, ou são temporários (estudantes) ou, em tese, teriam menos responsabilidades. Alcir Martins ressaltou que são as diversas as situações em que, estudantes, técnicos, participam de projetos e de outras atividades juntamente com os professores, se posicionando assim em condições de igualdade nas responsabilidades. Por isso, acredita ele, a Estatuinte pode ser a “ferramenta para romper os ranços e construir uma universidade mais igualitária”.

Estrutura conservadora


 

Para a estudante Pâmela Kemme, a universidade que temos e vivenciamos na atualidade é resultado da reforma universitária de 1968, de viés conservador, que construiu uma instituição departamentalizada, hierarquizada, em cujo dia a dia consolida a fragmentação do ensino. Na fala da diretora da UNE, o apontamento para a necessidade de reforma de um Estatuto que ainda representa o entulho desse período conservador. Pâmela analisa que, depois de anos em que a ênfase das políticas governamentais se deu em cima do sucateamento e da privatização, nos últimos avanços foram alcançados avanços, com a presença dos cotistas, de mais trabalhadores na universidade, contudo, a estrutura da universidade permanece intacta.

Pâmela diz que a universidade que existe hoje “não nos interessa” e acrescenta que “a universidade que queremos precisa inserir parcelas da comunidade externa que hoje estão excluídas como os movimentos sociais”. Defendeu ainda que os espaços de gestão da universidade precisam ser paritários, que a autonomia universitária seja exercida de forma efetiva e que a instituição, como forma de democratização, deva por em prática a avaliação participativa e o orçamento participativo.

Universidade “inchada”


 

Quando analisa a universidade brasileira e a dificuldade de transformá-la, Elvandir José da Costa argumenta que as políticas colocadas em prática em relação à educação não favorecem uma visão global de construção de sociedade. Para ele, a universidade que queremos deveria centra-se na preocupação de construir os valores nacionais. Hoje, na perspectiva defendida por Costa, as faculdades particulares viraram uma “fábrica de diplomas” e a universidade pública, argumenta, não cresceu, mas sim, sofreu um inchaço, e que está repleta de “analfabetos funcionais”. Para Elvandir José da Costa, a universidade não necessita de uma disputa de classes – elitista x trabalhadores. O que seria necessário é o estabelecimento de uma regra de convivência.

Crise de identidade

Na fase dos questionamentos e considerações do público, o diretor do Centro de Tecnologia, professor Luciano Schuch, que também é membro da comissão pré-estatuinte, discordou da “luta de classes” dentro da universidade e defendeu, assim como em conferência anterior, que a comunidade universitária precisa ser mais propositiva, que muitas vezes só se faz o que o governo ou mesmo a gestão da universidade determina, e que as ideias não surgem da base.

Para o presidente da Sedufsm, professor Adriano Figueiró, considerou que a universidade vive hoje uma “crise de identidade”. Para ele, há uma dificuldade de passar do estágio de “universidade das elites” para “universidade dos trabalhadores”. A dificuldade também reside no fato de não haver, no interior da universidade, um olhar para dentro de si, para fazer uma autocrítica e assinalou como exemplo, de uma das questões que precisam ser enfrentadas, é a defesa do atrelamento ao mercado. Segundo ele, dentro da própria instituição, há setores que são defensores, por exemplo, da quebra da Dedicação Exclusiva (DE), porque isso representa uma facilitação n relacionamento com a iniciativa privada. Figueiró argumentou também que “a estatuinte não vai transformar a universidade, mas significa um importante espaço de reflexão”.

João Batista Dias de Paiva, coordenador da comissão pré-estatuinte e pró-reitor da UFSM, também usou a palavra para discordar da antítese universidade das elites x universidade dos trabalhadores. Para ele, o que deve ser buscado é uma “universidade para todos”. Ele também tocou no aspecto da quebra da DE, referida anteriormente pelo presidente da Sedufsm. Paiva disse não ser contra a DE, mas que ela precisa ser cumprida, caso contrário isso representa uma postura hipócrita.

A conferência da Estatuinte, que ocorreu nesta terça, em Santa Maria, foi replicada nesta quarta, 16, pela manhã, no campus de Frederico Westphalen, e à tarde, no campus de Palmeira das Missões.

Texto e fotos: Fritz R. Nunes

Assessoria de imprensa da Sedufsm

SVG: camera Galeria de fotos na notícia

Carregando...

SVG: jornal Notícias Relacionadas

Breno Altman lança livro “Contra o Sionismo” em Santa Maria

SVG: calendario 27/03/2024
SVG: tag Sedufsm
Evento promovido pela Sedufsm e Comitê Palestina Livre acontece no dia 9 de abril, no campus da UFSM

Docentes rechaçam minuta sobre grupos e espaços de pesquisa

SVG: calendario 27/03/2024
SVG: tag Sedufsm
Grupo de Trabalho Ciência e Tecnologia discutiu proposta da reunião, que tem prazo até 3 de abril para envio de contribuições

Sedufsm visita campus UFSM Cachoeira do Sul para integração com docentes

SVG: calendario 26/03/2024
SVG: tag Sedufsm
Atividade faz parte da programação de acolhimento do início do semestre letivo, e tem como objetivo conversar sobre demandas que afetam a categoria
Veja todas as notícias