Eblin Farage critica “braço sindical” do governo SVG: calendario Publicada em 01/04/16 16h55m
SVG: atualizacao Atualizada em 01/04/16 17h03m
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Na segunda parte da entrevista, candidata ao ANDES-SN aborda questão de gênero, entre outros temas

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Eblin (ao centro) com o candidato a tesoureiro-geral, Amauri Fragoso (e) e Alexandre Galvão (d)

Os professores filiados ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) vão às urnas nos dias 10 e 11 de maio para eleger a nova diretoria da entidade. Uma chapa única concorre à direção – Unidade na luta-, que é encabeçada pela professora Eblin Farage, docente da área de Serviço Social na Universidade Federal Fluminense (UFF). Eblin tem 40 anos e já ocupou funções como a 1ª secretaria da ADUFF (gestão 2010-2012) e a presidência da ADUFF (gestão 2012-2014).

Em entrevista concedida à assessoria de imprensa da Sedufsm, a docente fala, entre outras coisas, sobre os desafios no horizonte para a próxima diretoria do ANDES-SN, especialmente na atual conjuntura, marcada por ataques tanto do governo como de setores conservadores de dentro e de fora do Congresso Nacional (confira aqui a primeira parte da entrevista).

Publicamos hoje, a segunda parte da entrevista, na qual Eblin Farage aborda aspectos importantes como o debate da multicampia, a questão de gênero, paralelismo sindical e a busca de meios para a ampliação da participação da categoria.

Sedufsm- Uma das dificuldades que o Sindicato Nacional tem enfrentado, tanto nas greves como no dia a dia, é que mesmo não concordando com diversas políticas do governo, e nem com o tipo de negociação estabelecida, acaba ignorado, pois o Proifes assume como uma entidade sindical, mas que representa um braço do governo e acata mesmo as piores propostas governistas. De que forma enfrentar esse paralelismo pernicioso?

Eblin- Os sindicatos "amarillos", que nós chamamos laranjas, são hábeis invenções das grandes empresas e grandes corporações; em nosso caso, a entidade que cumpre esse papel foi urdida em gabinetes governamentais. A OIT proíbe a existência desses sindicatos que buscam enfraquecer e defender interesses que não são da classe trabalhadora. Esses sindicatos fazem acordos salariais rebaixados à revelia da categoria. Pior mesmo é a atitude das empresas e dos governos que manipulam esses sindicatos. Enfim, trata-se de uma estratégia do capital para fazer avançar o seu controle sobre a sociedade e enfraquecer e dividir a classe trabalhadora, através da oferta de vantagens para alguns setores, visando enfraquecer o sindicato. Olhados com cuidado, veremos que se trata de uma disputa de projetos: de um lado, um projeto que privilegia acumulação de capital em detrimento da exploração/opressão das/os trabalhadoras/es, de outro a defesa dos interesses da classe trabalhadora. Claro que há mediações, que se estabelecem pela concepção (e as práticas decorrentes) do sentido de pertencimento de classe. Na particularidade do movimento docente, essa tensão se expressa no projeto de educação com a classe trabalhadora defendido pelo sindicalismo, ou não. As lutas que o ANDES-SN constrói estão alicerçadas em 35 anos de reflexões, deliberações e práticas sobre um projeto de educação com a classe trabalhadora e é neste escopo que sustentamos a defesa intransigente da educação pública, gratuita, democrática, laica, autônoma e de qualidade social referenciada nas experiências e necessidades da classe trabalhadora. A outra entidade defende um projeto de expediente fácil, enganoso com a categoria e aderente ao governo e à lógica do capital. Da nossa parte, temos clareza de que a nossa condução tem sido firme e que assim deve continuar. É ilusão achar que as "concessões" feitas pelos sindicatos pelegos tornam a vida do sindicato mais fácil. Ao contrário, essa será a trilha da sua destruição. O ANDES-SN segue outro caminho. Há 35 anos a sociedade reconhece nosso sindicato como o representante dos professores e professoras das Instituições de Ensino Superior, Básica, Técnica e Tecnológica, junto com a FASUBRA e o SINASEFE temos feito enfrentamentos sucessivos em defesa da educação pública e do trabalho, carreira e salário das/os trabalhadoras/es da educação federal. O melhor combate ao sindicalismo que nos faz oposição é o fortalecimento do ANDES-SN: ampliar as filiações, discutir as distintas pautas do sindicato, participar comprometidamente (e ampliar a participação) nas instâncias de discussão e deliberação do SN.  Assim seguiremos nos fortalecendo, porque temos sido coerentes com o projeto que defendemos e com a categoria, e estamos na luta pela universidade pública e gratuita, sempre em sintonia com as lutas dos demais trabalhadores, dos movimentos sociais e estudantis no espectro anticapitalista. E é o que tem dado robustez ao ANDES-SN.

Sedufsm- Para muitos professores que vivem a realidade multicampi e as dificuldades inerentes da expansão sem planejamento, o debate sobre a multicampia nos eventos do ANDES-SN ainda é insuficiente. De que forma a sra. analisa o envolvimento do sindicato nesse tema?

Eblin- A questão da multicampia foi sempre mais presente nas Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES), mas nos últimos 10 anos, atingiu de forma precarizada as IFE, de forma atabalhoada e sem planejamento. O ANDES-SN tem tratado do tema nos seus Encontros Intersetoriais, em CONADS e Congressos. Trata-se de um tema complexo que toca diretamente na questão central do nosso Sindicato que é a democracia interna e funcionamento. A complexidade é ainda maior se considerarmos a distância entre os campi de uma mesma instituição, em alguns casos, separados por mais de mil quilômetros. Não podemos esquecer que em âmbito local – seção sindical – a maior instância é a Assembléia Geral, que fica dificultada na realidade multicampi. E aí, como conjugar os interesses diversos de docentes e o atendimento de suas demandas, se estão espalhados em vários campi? Às vezes, parecemos lentos nas soluções, mas sempre conseguimos alcançá-las com as discussões e debates em nossas instâncias deliberativas, o custo da democracia construída pela base. O importante é lembrar o que não queremos: não queremos estruturas verticais de funcionamento do nosso sindicato que acabariam por esvaziar a estrutura horizontal democrática da nossa organização. E vale reafirmar, que somos totalmente a favor da expansão da universidade pública brasileira, porém, com qualidade, financiamento adequado, democracia e com a garantia do desenvolvimento do ensino-pesquisa-extensão para todos. Somos contrários à desigualdade, acentuada pela expansão precarizada, que faz de algumas IES centros de excelência e de outros meros “escolões” de terceiro grau, ou seja, IES que não fazem pesquisa e nem extensão. Nessa perspectiva, o debate sobre a multicampia, tanto no que se refere à organização dos docentes, como o que se refere à garantia da qualidade do ensino e das condições de trabalho, permanecem como um dos desafios centrais para o ANDES-SN.

Sedufsm- Qual o significado político de uma chapa apenas concorrendo ao ANDES-SN?

Eblin- A disputa entre mais de uma chapa para a diretoria de um sindicato permite explicitar o debate acerca de concepções e práticas divergentes, o que, certamente, contribui para a ampliação da consciência da nossa categoria. O PROIFES- nossa principal oposição não disputa porque está fora em outra organização. Há outros companheiros (as) que seguem na base do ANDES-SN, o que reivindicamos como algo muito positivo e, mesmo com divergências, não conseguiram até agora aglutinar forças para formar outra chapa. Afinal, são 83 nomes que formam a diretoria. Mas é preciso trazer outro elemento a essa questão, o funcionamento do Andes-SN quer em espaços propositivos e de encaminhamentos, tais como: a reunião de diretoria, os Grupos de Trabalho e os Setores, quer naqueles em que há o adensamento da reflexão pela base para as deliberações de Congressos e CONADs garante a expressão das concepções e práticas sindicais representadas na categoria e permite irmos compondo acordos para, em que pesem nossas divergências, sermos capazes de garantir a unidade para tocar as lutas sindicais.

Essa prática dá sentido ao nome da chapa que representamos. Nossa expectativa é de que o movimento docente cresça com a incorporação de novas/os docentes, com o avanço da consciência de que o ANDES-SN é um sindicato autônomo na defesa da universidade pública, gratuita, autônoma e de qualidade social e da categoria docente, situado no mundo, articulado com as lutas da classe trabalhadora e os movimentos sociais comprometidos com as transformações radicais superadoras da exploração e das opressões.

Sedufsm- Um dos debates que têm marcado os eventos do ANDES-SN se refere à questão de gênero. Como a sra. avalia a importância desse tema, especialmente sendo uma candidata à presidência do Sindicato?

Eblin- O debate sobre as opressões, como designado pelos movimentos sociais, que envolve os direitos das mulheres, dos negros e negras, LGBTT e povos originários, tem pouco a pouco, ganhado espaço em nosso sindicato. No âmbito do sindicalismo classista, esses debates foram por tempos relegados a um segundo plano. Porém, a exigência pela luta radical em defesa da igualdade de direitos e da reparação das desigualdades históricas baseadas em preconceitos e discriminações está conquistando o devido lugar. Um dos nossos desafios é recriar as estruturas, tornando o espaço sindical, um lugar de possibilidade real de militância para as mulheres, reconhecendo sua condição de mãe e trabalhadora. Nessa perspectiva, o 35º Congresso Nacional do ANDES-SN avançou ao aprovar a implementação de espaço de creche em todos os eventos nacionais de nosso sindicato e a defesa pela descriminalização do aborto. A própria trajetória do ANDES-SN demonstra o quanto temos que avançar nessa questão. Serei a quinta mulher presidente do ANDES-SN em 35 anos de história, mas é preciso avançar, superando as práticas machistas, racistas e homofóbicas tão ainda enraizadas entre nós. E, ainda, nossa defesa deve ser a da incorporação da mulher na militância, garantindo condições reais para tal, mas também um debate de gênero enraizado no debate de classe. Se é verdade que a emancipação plena da mulher não é possível no ordenamento capitalista (como, aliás, não é para o ser humano), tão pouco será automática a emancipação feminina com a superação dessa ordem. Nesse sentido, nosso desafio é acumular forças e experiências nos limites impostos por essa ordem, sem, contudo, se limitar a essa ordem. Por isso, não podemos prescindir de fazer a luta contra todas as opressões.

Para saber mais sobre a eleição no ANDES-SN e conhecer a nominata completa da chapa ‘Unidade na luta’, clique aqui.

Entrevista e foto: Fritz R. Nunes

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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