Seminário constata falta de prioridade à saúde docente SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 26/05/16 01h38m
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Evento da Sedufsm discutiu a relação entre intensificação do trabalho e adoecimento

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A universidade se expande, com aumento de cursos, de alunos, mas a ampliação no quadro de professores e de técnico-administrativos é bem inferior, gerando uma sobrecarga de trabalho, que é amplificada pelas métricas produtivistas, que não levam em conta a qualidade, mas a quantidade do que é feito, que precisa virar um produto a ser entregue em um prazo específico para que se consiga ter acesso a recursos, bolsas, e também para que se possa ascender na carreira. Esse mundo interna corporis da universidade gera uma realidade de competição, individualismo, que tem entre seus efeitos um adoecimento cada vez maior, sem que os gestores das universidades se preocupem de forma mais efetiva sobre a problemática. Até mesmo para o sindicalismo, o assunto ainda sofre resistência para poder entrar na pauta, analisa o professor Luís Allan Künzle, vice-presidente da seção sindical da UFPR (Apufpr).

Künzle participou na tarde desta segunda, 23, do seminário promovido pela Sedufsm intitulado “Intensificação do trabalho docente: saúde x adoecimento”, que ocorreu no auditório do Colégio Politécnico da UFSM. Estiveram na mesa junto com ele a professora Andrea Nárriman Cezne, do departamento de Direito da UFSM, especialista em direito trabalhista e previdenciário, Liliani Brum, médica e coordenadora do serviço de perícia da UFSM, todos sob a coordenação do professor Ginfábio Franco, diretor da Sedufsm e lotado no departamento de Enfermagem da UFSM no campus de Palmeira das Missões.

Conforme o diretor da Apufpr, sindicato responsável por uma pesquisa que buscava justamente medir a temperatura da categoria em relação ao tema da saúde, os problemas que afetam o professor são tratados primeiramente no âmbito do próprio departamento, com o afastamento temporário a partir de um atestado médico particular. Somente quando a situação se agrava é que o docente procura o setor de perícia da instituição, o que acaba por subtrair a possibilidade de se ter o quadro real da situação. Para a médica e perita da UFSM, Liliani Brum, a subnotificação é uma situação concreta com que se deve trabalhar. Entretanto, mesmo nessas condições, os dados levantados pelo Sistema Integrado de Atendimento ao Servidor (SIAS) na universidade apontam as três causas principais de afastamento do trabalho: doenças mentais; osteomusculares e neoplasias.

Doenças mentais

Liliani atesta que a estatística comprova o fato de que as doenças mentais lideraram as causas de afastamentos entre 2013 e 2015 na UFSM. Ela cita os tipos de afastamento mais incidentes: episódios depressivos; transtorno depressivo; reações ao estresse grave e transtorno de adaptação. A perita, que coordena o trabalho não apenas para a UFSM, mas também para a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e Instituto Federal Farroupilha, destaca que acadêmicos também são atendidos em seu setor. Apesar de não avaliar questões que dizem respeito à carreira docente, Liliani frisa que no diálogo com as pessoas que procuram a perícia, o estresse criado a partir da realidade competitiva e produtivista é bastante citado.

Luís Allan Künzle apresentou durante o debate uma crítica à metodologia de como o tema do adoecimento é tratado pela administração pública, seja na universidade ou por outros órgãos do Estado como, por exemplo, o próprio Judiciário, onde, segundo ele, há dificuldade em se atestar situações como as de assédio moral. Para ele, as pessoas são tratadas com métodos gerenciais, sendo transformadas apenas em números, dados estatísticos. Há dificuldade por parte dos médicos do serviço público em discutir o nexo causal, afirma Künzle. O sindicalista defende que avançar na questão da preservação da saúde é, por exemplo, que o adoecimento não seja tratado apenas por um médico, mas sim por uma equipe multidisciplinar, em que estejam presentes, um enfermeiro, um assistente social, um psicólogo. A dificuldade em tratar do assunto é tão áspera que, na UFPR, o sindicato, mesmo solicitando, foi impedido de acompanhar as perícias médicas, só conseguindo fazê-lo mediante decisão judicial. Daí que, muitas vezes, a solução mais fácil, ao mesmo tempo “desumana” dada pela instituição é a aposentadoria.

Assédio organizacional

Andrea Nárriman Cezne, docente da área do Direito, concorda plenamente que o produtivismo acadêmico leva a práticas individualistas, competitivas, sem visão de coletividade, gerando muito estresse. E isso, segundo ela, acaba por degradar o ambiente de trabalho, que se transforma num local em que as pessoas saem, mas as práticas se perpetuam, o que Andrea classifica como “assédio organizacional”. O próprio aluno já conclui a sua formação acadêmica tendo como base esses parâmetros, enfatiza a professora.

Na avaliação de Andrea Cezne, uma lacuna que precisa ser destacada é a própria legislação do serviço público federal. Segundo ela, em instituições privadas de ensino, o que regulamenta é a Justiça do Trabalho e quem fiscaliza é o Ministério do Trabalho. No entanto, do ponto de vista federal, a legislação não é exatamente a trabalhista e certas práticas acabam por ser admitidas, até por desconhecimento dos gestores. Ela cita que, diferente de faculdades privadas, a atividade docente em instituições federais ainda carece de regulamentação. Andrea diz presenciar seguidamente situações em que o professor, por exemplo, dá aula no turno da noite, mas é escalado pelo chefe de departamento para dar aula também na manhã seguinte. Segundo ela, na legislação trabalhista privada, o intervalo entre os turnos é uma conquista sacramentada.

A sugestão da professora do Direito para se tentar minimizar esses problemas é a realização por parte da universidade de pesquisas em que as pessoas possam dar seu testemunho sobre as diversas problemáticas envolvendo a questão da intensificação do trabalho e a relação disso com a saúde. É fundamental, no entendimento de Andrea Cezne, que sejam pensadas políticas púbicas para se atacar e minimizar a questão do adoecimento.

 O papel da gestão

Durante o momento do debate a partir da exposição feita pelos palestrantes, alguns professores acabaram levantando outras questões que engrossam as dificuldades. Luciano Miranda, docente do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM, no campus de Frederico Westphalen, relatou, a partir de exemplo pessoal, as dificuldades em tratar problemas de saúde no contexto da realidade multicampi. Segundo ele, em função de que a qualidade do atendimento médico em Frederico é bastante precária, acabou realizando procedimentos médicos em Porto Alegre. No entanto, para realizar a perícia, precisou se deslocar 600 km até Santa Maria, pois a instituição não tem esse apoio no campus em que ele atua.

Para o presidente da Sedufsm, professor Adriano Figueiró, o que se constata pelos relatos de professores, e pela própria fala dos palestrantes, é que a universidade vive um processo de “desumanização” bastante grave, e que, nem governo, nem os gestores da universidade, têm qualquer alternativa que não seja apenas indicar que professores, servidores técnicos, procurem a junta médica.

 Na sua explanação final, o vice-presidente da Apufpr, Luís Allan Künzle, apresentou algumas sugestões a partir da experiência vivenciada em sua universidade. Para ele, qualquer plano de expansão nos dias atuais deve obrigatoriamente ser pensado mediante um planejamento de saúde. Não se pode simplesmente prever um novo campus sem que se pense também na questão da assistência à saúde.

Outra temática que merece a máxima atenção, segundo ele, é a do assédio moral. Segundo Luís Allan Künzle, a questão do assédio está se tornando endêmica e as gestões precisam se preocupar e discutir políticas em relação a isso. Segundo ele, o “meio em que a gente vive está se tornando tóxico, e por isso, o sindicato precisa escutar os adoecidos”. Além disso, os gestores precisam ser cobrados na elaboração de políticas que combatam a individualização e o produtivismo, enfatiza.

Texto: Fritz R. Nunes

Fotos: Rafael Balbueno

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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