Debate aponta importância das políticas de gênero na UFSM SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 10/03/17 18h10m
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Atividade foi promovida pela PRE-UFSM, em conjunto com grupos feministas

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“Por ciúmes, jovem de 20 mata ex-namorada de 18 e se suicida. Rapaz não teria concordado com o fim do relacionamento e matado garota com 16 facadas em Abatiá”. “Homem que matou a esposa em São Francisco de Paula alega ciúmes à polícia”. “Homem enforca mulher até a morte por ciúmes e tira a própria vida em MG”. “Mulher é assassinada a facadas pelo ex-companheiro. Menina de 12 anos presenciou a morte da mãe”.

Por mais brutais que sejam, manchetes como essas são trazidas, todos os dias, por jornais de diversas partes do Brasil. Embora sejam tratados, em sua maioria, como crimes passionais, a professora Ana Maria Colling, pesquisadora da Unesco, historiadora e estudiosa de gênero e feminismo, diz que casos como esses – cuja denominação, raramente vista na grande mídia, é ‘feminicídio’ – têm por origem a cultura de supremacia do homem sobre a mulher. Nessa cultura, o corpo feminino é posse do homem e, em caso de a mulher terminar um relacionamento, por exemplo, seu antigo ‘dominador’ não se conformaria com a possibilidade de aquela que já foi sua propriedade passar a ter relações com outras pessoas.

Na manhã desta sexta-feira, 10, a roda de conversa ‘Igualdade de gênero na universidade: implicações para o ensino, pesquisa, extensão e gestão’, organizada pela Pró-reitoria de Extensão da UFSM em parceria com diversos coletivos que debatem gênero na instituição, lotou o auditório do prédio 67 e trouxe reflexões sobre a situação de violência e desigualdade enfrentada pelas mulheres, tendo integrado a semana de atividades em referência ao 8 de março – Dia Internacional de Luta da Mulher Trabalhadora.

No evento, Ana Maria Colling explicou que o pensamento patriarcal de superioridade masculina vem sendo propagado há muitos e muitos anos. Já com o filósofo grego Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), tais ideias manifestavam-se quando ele atestava: a mulher tem o cérebro menor do que o homem. Em 1910, em discussão sobre o novo Código Civil, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro determinou que, por terem esse órgão inferiorizado, as mulheres eram relativamente incapazes, devendo, as casadas, ficarem sob a guarda de seus maridos. No ano de 2012, o reitor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, diz que as mulheres não aprendem matemática por terem o cérebro menor. Percebam, diz Colling, que esse pensamento perpassa os anos e vigora até hoje.

Malditas pela igreja

Indo ainda mais além, a historiadora destaca o discurso judaico-cristão como sendo, talvez, o mais antigo a disseminar a inferioridade feminina. Ela relembra o mito de ‘Adão e Eva’, em que Eva, já nascida à sombra de Adão, teria retirado toda a humanidade do paraíso. Outro episódio bíblico seria o da ‘Santa Ceia’, em que todos os 12 apóstolos reunidos em torno de Jesus Cristo seriam homens. Inclusive, Colling lembra as severas críticas da igreja católica ao livro e posterior filme ‘Código da Vinci’, do escritor Dan Brown, tão somente por este ter suposto que, dentre 11 apóstolos homens, existia uma mulher. Não qualquer mulher, mas aquela conhecida como a prostituta bíblica, Maria Madalena.

Contribuição nada positiva ao gênero feminino também foi dada por Sigmund Freud, criador da psicanálise. Para ele, as mulheres, por não terem o falo, invejavam os homens. Assim, seriam desfalcadas do senso de justiça. Talvez não tenha sido coincidência o fato de só muito recentemente mulheres ocuparem o cargo de juízas, por exemplo. E ainda na atualidade, são em quantidade bem inferior aos homens.

A supremacia do homem foi, então, construída por diversas figuras masculinas que circularam pela história. De forma geral, parece ainda vigorar o entendimento de que mulheres são “homens mal formados”, em sucessivas tentativas de desqualificação que colocam o corpo feminino como passível de ser violado e maldito.

Papel da educação

“Se a escola e a universidade não discutirem isso, quem irá discutir?”, questiona Ana Maria Colling, referindo-se às questões de gênero. Ela vê a desconstrução como o caminho mais efetivo para as mulheres conquistarem a real igualdade. Desconstrução de uma cultura patriarcal que, ao longo de tantos anos, menosprezou-as.

No próprio ambiente acadêmico, essas diferenciações são vistas. A historiadora frisa determinadas profissões que, em decorrência da divisão sexual do trabalho, ainda são consideradas femininas, como aquelas no campo da Pedagogia e da Enfermagem. Por isso mesmo, ela defende a necessidade de a universidade discutir estratégias para levar o debate de gênero também aos setores mais resistentes, comumente localizados nas Ciências Exatas.

Outra necessidade colocada, diz Colling, é discutir a pouca participação de mulheres em cargos de poder como reitorias de universidades, no Ministério de Ciência e Tecnologia ou em suas agências, como a CNPq.

Um avanço constatado pela palestrante em algumas instituições de ensino brasileiras é o debate acerca dos banheiros. “Parece uma questão pequena, mas não é”, diz, defendendo que a discussão sobre o uso dos banheiros traz consigo a reflexão sobre novas sexualidades, novas relações, novas famílias. Até mesmo porque um grupo que vem “competindo” com as mulheres em termos de violência sofrida são os LGBT’s [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros]. Muitas mulheres e homens têm identidades sexuais diversas e, por isso, sentem desconforto ao não poder usar o banheiro destinado ao gênero com o qual se identificam.

“Tem de haver vontade política para promover políticas de gênero na universidade”, conclui a pesquisadora feminista, que tem estudando, com ênfase, a questão das mulheres na ditadura militar brasileira.

Além da universidade

Para a professora Maria Celeste Landerdahl, do curso de Enfermagem, é preciso que o debate de gênero rompa os muros da universidade e chegue até o restante da comunidade. Em Santa Maria, por exemplo, ela defende a importância de uma Coordenadoria de Políticas para as Mulheres, hoje inexistente. Celeste coordena o NEMGeP [Grupo de Estudos sobre Mulheres, Gêneros e Políticas Públicas] e integra o Fórum de Mulheres de Santa Maria.

Também presente ao debate desta sexta-feira, 10, a enfermeira Vergínia Rossato comentou sobre o trabalho da Equipe de Matriciamento em Violência Sexual do Hospital Universitário de Santa Maria [HUSM]. Ela conta que, mesmo tendo sido instituído no final de 2015, o grupo já registrou, naquele ano, 177 violências, das quais 33 eram de cunho sexual. Já em 2016, 289 casos contabilizados. O grupo é formado por psicólogas, enfermeiras, médicas e assistentes sociais. Elas monitoram os atendimentos feitos na urgência e dão continuidade aos ambulatoriais, com a perspectiva de acolher e atender as vítimas.

 

Texto e fotos: Bruna Homrich

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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