Um olhar negro, feminista e classista no Seminário Integrado do ANDES-SN SVG: calendario Publicada em 24/08/17 20h02m
SVG: atualizacao Atualizada em 25/08/17 08h43m
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Evento do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade Sexual ocorre em Pelotas

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No microfone, a presidente do ANDES-SN, Eblin Farage

Mulheres recebem entre 70 e 80% do salário dos homens. Já as negras chegam a receber 40% a menos que os homens. A população brasileira é composta de 51,5% de mulheres, que representam 43,8% da força de trabalho empregada, e 54,1% da não empregada. No mercado de trabalho, elas ocupam 37% cargos de direção. Na Câmara dos Deputados, são 9,9%; no Senado, 16%; nos governos de estados, 3,7%; nas prefeituras, 11,6%. No Supremo Tribunal Federal (STF), dos 11 ministros, duas são mulheres. No Supremo Tribunal de Justiça (STJ), entre os 33 ministros, 6 mulheres. Elas ainda centralizam 90,6% do trabalho doméstico, e, quando se localizam no campo, 80% delas não são remuneradas.

Na esfera da educação, 97,9% são professoras de creches; 96,1% da pré-escola; 91,2% das séries iniciais e 74% das séries finais. A partir dessa instância, sua presença vai diminuindo. Tais dados denotam, dentre outras coisas, que tarefas de cuidado continuam reservadas às mulheres. A problematização, bem como os dados, são de Eblin Farage, presidente do ANDES-SN, que realizou intervenção na mesa de debate “Gênero, Raça e Classe: uma discussão interseccional”. O debate integrou a manhã do I Seminário Integrado do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCGEDS) do ANDES-SN, evento que teve início nesta quinta-feira, 24, e segue até o sábado, 27, no Auditório do Colégio Técnico João XXIII, em Pelotas.

Na visão de Eblin, é preciso que todos os militantes e sindicalistas proponham-se ao debate de gênero, pois reconhecer a opressão e a desigualdade é o primeiro passo para a construção de uma nova forma de sociabilidade. Ela acredita não existir uma hierarquia entre as lutas das mais diversas matizes, e sim uma intersecção. “Não é possível a emancipação das mulheres na ordem do capital, mas também não basta somente a mudança de ordem para a emancipação das mulheres”, explica a dirigente.

Perigo à ordem

Eblin ponderou que toda tentativa de organização dos trabalhadores e dos setores oprimidos representa uma ameaça ao capitalismo, e então o sistema reage com projetos de lei como o da Escola sem Partido e da bolsa-estupro, ou com a revitalização de movimentos fascistas e racistas, como os que vêm sendo observados nos Estados Unidos.

Além de combater mais diretamente as lutas, a dirigente do ANDES-SN, também professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), destacou que o capitalismo apropria-se dos movimentos identitários, mercantilizando a tudo e a todos.

A necessidade de auto-crítica foi um dos pontos fortes da intervenção de Eblin na manhã desta quinta, 24. Para ela, é necessário reconhecer que a própria categoria docente reproduz opressões como machismo, racismo e homofobia, e que confrontar tal realidade com o objetivo de superá-la é tarefa não só dos oprimidos, mas de todo o ANDES-SN. “Não aceitaremos mais a indiferença sobre nenhuma desigualdade ou opressão”.

Escravidão a serviço do capital

Um olhar do feminismo negro foi trazido para a mesa de debates pela 2º vice-presidente do ANDES-SN, Claudia Durans. Partindo da realidade histórica escravagista, ela inicia denunciando a expansão do capitalismo via superexploração e genocídio de negros, indígenas e demais povos originários. “Nós passamos 400 anos produzindo riqueza. Quando termina a escravidão, deixam nós, que produzimos a riqueza, à margem da sociedade”, observa.

No que tange ao campo da ideologia, Claudia salienta que foi construída para destruir mulher, homem e família negros. Os homens negros, destaca ela, eram vistos como vadios, promíscuos, utilizados, muitas vezes, como reprodutores para aumentar a massa de escravizados. Já quanto às mulheres negras, sua caracterização era de objetos sexuais, o que as tornava vulneráveis a estupros e abusos por parte de senhores e filhos de senhores.

“Hoje nós somos maioria nos trabalhos precarizados. Nas universidades, as mulheres negras estão, em grande parte, nos serviços terceirizados e são as primeiras a serem demitidas num cenário de cortes orçamentários. 70,6% das mulheres negras estão no setor de serviços, ocupando postos na vigilância, limpeza e telefonia”, diz Claudia, que traz, também, dados relativos ao encarceramento da população negra no Brasil.

Segundo ela, o país é o 5º país no mundo que mais encarcera mulheres negras. Em 2000, a população carcerária total brasileira era de 272.775 pessoas. Já em 2017, esse número subiu para 620 mil pessoas. Desse total, 65% têm até 29 anos e mais de 60% são negros.

Claudia também frisa que, enquanto o feminicídio (crime motivado por questões de gênero) entre as mulheres brancas registrou uma queda de 9,8% nos últimos anos, o feminicídio entre as negras aumentou 54%. O mesmo ocorre com as mortes por hemorragia e aborto no parto.

“Há uma política genocida para a população negra desse país. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado”, denuncia.

O I Seminário Integrado do GTPCEGDS do ANDES-SN teve início nesta quinta, 24, e segue até o sábado, 27, em Pelotas. A Sedufsm participa do evento.

 

Texto e fotos: Bruna Homrich

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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