UFSM sedia primeira feira orgânica de Santa Maria SVG: calendario Publicada em 25/01/18 19h22m
SVG: atualizacao Atualizada em 26/01/18 00h32m
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Feira Ana Primavesi ocorre todas as quartas-feiras, das 10h às 14h (horário de verão)

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Ana Maria Primavesi é uma engenheira agrônoma austríaca que, nos anos 1960, veio lecionar, junto com o marido, no departamento de Solos da UFSM, onde desenvolveu um trabalho pioneiro na perspectiva de uma produção mais saudável e ecológica. Agora, aos 97 anos, ela dá nome à 1ª feira totalmente orgânica de Santa Maria, a Feira Ana Primavesi, sediada todas as quartas-feiras, das 10h às 14h (horário de verão), no Espaço Multiuso da UFSM.

A feira foi inaugurada no dia 27 de setembro de 2017, porém é fruto de um processo iniciado em 2014, quando um grupo de agricultores que já produziam de forma orgânica, porém comercializavam seus produtos em feiras convencionais, sentiu a necessidade de construir um espaço específico para dar visibilidade a seus produtos. Eles buscaram, então, apoio junto à universidade, e lá encontraram o professor Ascísio dos Reis Pereira, então pró-reitor adjunto de Extensão. “A ideia nasceu dos produtores. A maior dificuldade do grupo foi conseguir a certificação orgânica”, diz Pereira.

Carmen Silva, aposentada, agricultora e representante do grupo de produtores orgânicos que organiza a feira, explicou que para constituírem uma feira exclusivamente orgânica, os produtores tinham de obter uma certificação do Ministério da Agricultura. Algo como uma chancela garantidora da procedência verdadeiramente orgânica dos produtos a serem comercializados. Isso porque, diz Carmen, circulam por aí diversos produtos que, embora propagandeados como orgânicos, têm, em sua composição, agrotóxicos e métodos não sustentáveis de produção.

Contudo, a certificação para produtos orgânicos não é conquistada facilmente. Uma das possibilidades seria, conforme explica Carmen, a contratação, pelos produtores, de uma auditoria particular que visitasse as propriedades dos agricultores e concedesse a certificação. O alto valor cobrado pelas empresas que fazem esse tipo de trabalho impossibilitou que as famílias dedicadas à produção orgânica em Santa Maria pudessem efetivar a contratação.

O outro caminho para se obter a certificação de produto orgânico dá-se através de uma permissão, contida na legislação de orgânicos, para que se constituam grupos de agricultores vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

“Os produtores formam um grupo, que se constitui numa Organização de Controle Social (OCS), e esse grupo se verifica aos pares. Então eu e outros agricultores nos juntamos e vamos à propriedade de um terceiro. Lá, nós verificamos como é o processo naquela propriedade, o que está sendo usado, como estão sendo feitos os manejos [dentre outras questões]. Se o agricultor cumprir com os requisitos, ele está encaminhando seus produtos para a produção orgânica. Depois, esse mesmo grupo visita outra propriedade”, explica Carmen.

E foi esse o caminho escolhido para a obtenção da certificação de orgânico pelos produtores da Feira Ana Primavesi. As visitas às propriedades foram realizadas, diz Carmen, com a presença de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), de professores da UFSM envolvidos no projeto da Feira e, também, de consumidores – além dos próprios produtores, é claro. Após realizadas as visitas, os laudos foram emitidos e encaminhados para o Ministério da Agricultura, que, por sua vez, veio até as propriedades e confirmou a existência da produção orgânica, conferindo a certificação de orgânico à Organização de Controle Social dos agricultores e, individualmente, a cada produtor.

“A certificação é exclusiva para venda direta e venda em feiras, além de não permitir ao produtor o uso de selo”, diz Carmen. Assim, com os agricultores sendo certificados como produtores orgânicos pelo Ministério da Agricultura, podia ser inaugurada, enfim, a Feira Ana Primavesi, a primeira legalmente orgânica de Santa Maria.

Relação produtor x consumidor

Para Carmen, cuja família toda se dedica à produção orgânica, uma questão basilar é a relação de confiança estabelecida entre agricultor e consumidor. “O consumidor deve ser bem informado, deve saber o que busca, não sendo levado pelos modismos. A certificação te traz um respaldo. A feira dá visibilidade para esses agricultores, pois eles estão buscando uma produção limpa, saudável, sustentável, preservando sua saúde, já que não estão usando os contaminantes de agrotóxicos, inseticidas, químicos e pesticidas. Estão promovendo um solo saudável, e onde tem solo saudável, tem produto sadio. O solo saudável também evita que as águas e o próprio ar se tornem contaminados”, salienta Carmen.

Mas o que é uma produção limpa?

O morango é uma fruta cuja safra ocorreria, via de regra, no inverno. Contudo, se entrarmos em um supermercado ainda nesse mês de janeiro, é pouco provável que não encontremos morangos para comprar. Ou seja, acostumamo-nos a acessar os alimentos no decorrer de todo o ano, esquecendo-nos, assim, de seus ciclos naturais. Carmen explica que, em uma feira orgânica, o consumidor vai encontrar apenas os produtos típicos daquela estação do ano, uma vez que há o respeito à sazonalidade.

A produção orgânica (ou limpa), diz a agricultora, passa pelo tratamento sadio do solo, que deve receber adubação verde e compostos orgânicos (produzidos, por exemplo, a partir da compostagem do esterco da vaga, da galinha, ou mesmo dos galhos e podas). “Hoje em dia nossos solos já estão tão contaminados que precisamos fazer vários processos para que eles realmente possam se recuperar. As monoculturas e outros tipos de produção que existiram degradaram muito os solos”, reflete Carmen. A forma de manejo também é equilibrada e privilegia a diversidade, o que diminui a incidência de pragas.

Os princípios norteadores desse tipo de produção advêm da agroecologia, campo no qual a agrônoma Ana Primavesi deixou legados que hoje permitem atestar: sim, é possível produzir de forma saudável. “O orgânico é um processo que começa no solo, que tem a ver com a muda, com a semente, com o manejo, com o que não é modificado geneticamente. É todo um processo de produção saudável e sustentável, sem o uso de químicos, agrotóxicos e de tantos outros produtos que carregam metais pesados em suas composições, ou que estão em solos onde há uma carga de metais pesados ali depositados há muito tempo”.

Dificuldades

Porém, como todo processo que desafia a ordem vigente, a produção orgânica enfrenta dificuldades. Uma dessas é relatada pelo professor do departamento de Ciências Sociais da UFSM, Everton Picolotto, que integrou o projeto da Feira Ana Primavesi desde o princípio. Trata-se da carência de pesquisas sobre como produzir de forma orgânica. Ele diz que as pesquisas desenvolvidas no âmbito da instituição centram-se, em sua quase maioria, na produção com insumos químicos/agrotóxicos.

“A produção orgânica é um tipo de agricultura que trabalha muito mais com a autonomia e a autossuficiência da produção, com a adubação orgânica, com o controle das doenças de forma diferente. O apoio da universidade, com conhecimento acadêmico e técnico, é importante para aprimorar e desenvolver esse tipo de produção. A Feira Ana Primavesi mostra que é possível produzir produtos saudáveis com preços acessíveis”, diz o docente.

Ele avalia que a demanda por produtos orgânicos tem crescido, porém a oferta ainda é obstaculizada, por exemplo, pela falta de terras disponíveis a esse tipo de plantio. “A universidade deve levar adiante projetos de pesquisa e extensão nessa área. Muitas vezes, os agricultores acabam tendo de ceder parte de suas já pequenas áreas para fazer barreiras que impeçam os agrotóxicos das lavouras próximas de chegarem até a sua lavoura orgânica”, ponderou Picolotto, lembrando que os agricultores da Feira Ana Primavesi estão vinculados à incubadora social da UFSM.

Homenagem

O nome da 1ª feira com certificação orgânica em Santa Maria é uma homenagem à engenheira agrônoma Ana Primavesi, referenciada pelos agricultores por promover estudos na perspectiva de uma produção agroecológica. O professor Ascísio dos Reis Pereira comenta um pouco sobre a pesquisadora.

“No momento em que ela desenvolveu esses trabalhos na UFSM, estava em crescimento a ideia contrária: de produzir utilizando veneno. Esse processo se iniciou com o final da Segunda Guerra Mundial, quando a indústria química, reaproveitando o que sobrou dos venenos das armas químicas utilizadas na guerra, vendeu-os como insumos para atacar as pragas da agricultura. Isso desencadeou, em 1940 e 1950, a chamada indústria do agrotóxico, que vigora no mundo hoje. A Ana Primavesi desenvolveu um trabalho oposto, dizendo que produção boa é sem veneno. Ela começou essa discussão nos anos 60. Com o governo militar, ela e o marido foram expulsos da UFSM. A escolha do nome da feira foi feita pelos produtores”, conclui Pereira.

Ana Primavesi está viva e completou 97 anos. Segundo Carmen, a pioneira da agroecologia sentiu-se emocionada com a homenagem.

Quem desejar acompanhar mais de perto a Feira, pode ir até o campus da UFSM todas as quartas-feiras, das 10h às 14h durante o horário de verão. No retorno do período letivo, a Ana Primavesi sofrerá alterações no horário, que serão comunicadas. Há um grupo no facebook intitulado “Grupo de Agricultores e Consumidores de Produtos Orgânicos – SM”, em que são compartilhadas novidades sobre a Feira. Para visualizar as postagens, basta solicitar entrada no grupo. A Feira Ana Primavesi ocorre no Espaço Multiuso e, segundo Carmen, futuramente deve ser levada a outros pontos da cidade.

 

Texto e fotos: Bruna Homrich

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

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