"Esta reforma vai condenar uma geração de idosos à pobreza"
Publicada em
20/02/19 20h22m
Atualizada em
21/02/19 09h15m
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Na aula pública ministrada pelo Professor Gihad Mohamad foram explicados os perigos do modelo de capitalização
No mesmo dia em que Jair Bolsonaro e Paulo Guedes apresentam ao congresso a sua proposta de Reforma da Previdência, diversos atos e assembleias foram realizados por todo o pais. Em Santa Maria, a Frente Única dos Trabalhadores promoveu uma aula pública com o objetivo de esclarecer os principais pontos da proposta e como serão afetados os direitos da classe trabalhadora caso ela seja aprovada nos moldes atuais. O Professor Gihad Mohamad foi o responsável pela condução da aula pública e ressaltou que o modelo proposto deixa a aposentadoria da classe trabalhadora refém do humor do mercado.
O professor Gihad explica que o modelo de capitalização que esta proposta de reforma institui irá atrelar o quanto irá se receber ao final de uma vida de trabalho e contribuição a aquilo que o mercado financeiro entender como positivo para a nossa economia. "E a gente sabe o que satisfaz o sistema financeiro: quando é anunciada uma medida que ataca os direitos dos trabalhadores o dólar dispara" alerta Gihad, que lembra que quase toda a nossa economia é baseada em dólar, mesmo o que é produzido aqui, como os combustíveis. O professor lembra ainda que o mercado não faz lobby para a diminuição de gastos com juros e amortização da dívida, porém está constantemente sugerindo a diminuição dos gastos com saúde e educação.
Para Gihad Mohamad, a interdependencia entre o que teremos a receber daqui a 30 ou 40 anos gera insegurança para o trabalhador, que, assim como o governo, não pode adivinhar como será o desempenho da economia durante sua vida e pode acabar perdendo o direito a uma aposentadoria digna caso o mercado não reaja bem aos rumos do país. "Esta reforma vai condenar uma geração de idosos à pobreza, pessoas que não terão condições de subsistência, vivendo com um salário mínimo" avisa o professor.
Ainda segundo o professor, é falaciosa a afirmação do governo de que a reforma irá tornar mais igualitário o nosso sistema previdenciário. "Ora, o modelo de capitalização prevê que o cidadão tenha capacidade de poupança, mas que capacidade de poupança tem o trabalhador que recebe um salário mínimo?" questiona o professor Mohamad. Seguindo o raciocínio, Gihad explica que o salário mínimo calculado como o adequado a suprir as necessidades básicas do brasileiro seria de R$ 3.928, em cálculo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). O professor fez uma projeção, através de indicadores econômicos atuais, e concluiu que uma pessoa que contribui a 20% de dois salários mínimos teria, no final de uma carreira de 30 anos, direito a receber cerca de R$ 400 de aposentadoria.
Além disso, a reforma afirma propor um sistema mais justo já que pobres e ricos iriam se aposentar com a mesma idade. Porém, esta afirmação ignora o tipo de atividade que cada trabalhador desempenha. "Será que é possível carregar tijolos e fazer concreto aos 65 anos de idade?" pergunta o professor Gihad, que encerra sua esposição com um último alerta: "Se não nos unirmos e barrarmos esta reforma, nossos filhos e netos irão pagar caro, na própria carne, pelo sistema de capitalização da previdência".
A proposta do Governo
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da economia, Paulo Guedes, foram hoje, dia 20, ao congresso entregar a proposta do governo de Reforma da Previdência. Os principais pontos da proposta são:
- Idade mínima de aposentadoria será de 65 anos para homens e de 62 para mulheres, após 12 anos de transição. Não haverá regra de aposentadoria exclusiva por tempo de contribuição.
- Idade mínima para trabalhador rural será de 60 anos, para homens e mulheres. Hoje, a delas é 55.
- Forma de contribuição mudará: as alíquotas serão progressivas, de acordo com a faixa salarial. A menor será de 7,5%, para quem ganha salário mínimo.
- Governo prevê um regime de capitalização alternativo, mas não divulgou detalhes; tempo de contribuição dos militares passa de 30 para 35 anos e pensionistas terão de contribuir.
Texto e fotos: Ivan Lautert
Assessoria de imprensa da Sedufsm