Pesquisa investiga saúde mental de profissionais de enfermagem durante a pandemia
Publicada em
30/07/20 18h37m
Atualizada em
30/07/20 19h50m
1374 Visualizações
Pesquisa será aplicada junto a enfermeiros, técnicos e auxiliares de sete hospitais de referência no RS
Muito tem se falado na bravura dos profissionais de enfermagem que, desde o início da pandemia, têm assumido a linha de frente no combate ao vírus e no cuidado das pessoas infectadas. Contudo, pouco se fala sobre a elevada carga de adoecimento mental reservada a estes trabalhadores. É sobre esse aspecto que a pesquisa coordenada pela professora Alexa Coelho, do departamento de Ciências da Saúde (UFSM-Palmeira das Missões), pretende trabalhar.
Intitulada “Saúde mental e percepção de riscos e danos de profissionais de Enfermagem de hospitais de referência do Rio Grande do Sul no enfrentamento da pandemia Covid-19: estudo de métodos mistos”, a pesquisa será aplicada junto a enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem de sete hospitais de referência no Rio Grande do Sul, tendo a parceria da UFRGS, da Unipampa e da Ufpel.
Alexa lembra que os profissionais de Enfermagem representam a categoria profissional mais numerosa da área da saúde, estando à frente de um conjunto de ações centralizadas, principalmente, na assistência direta ao paciente e na gestão do cuidado.
“A enfermagem faz a diferença entre a morte e a recuperação de um doente grave. Faz a diferença entre uma pessoa morrer com dor ou com conforto e dignidade. No entanto, toda essa responsabilidade se soma a um processo de trabalho intensificado, marcado por sobrecarga, condições de trabalho inadequadas, falta de reconhecimento e de visibilidade. A Covid-19 agravou as condições de trabalho dos profissionais de enfermagem. Recentemente eles se encontram em uma cenário de crise de saúde pública, na linha de frente de combate a uma doença nova. Hoje nós vemos profissionais adoecidos física e emocionalmente. Sobrecarregados, cansados e, muitas vezes, contaminados por um outro vírus – o do desencanto”, comenta a docente.
Alexa Coelho, docente do departamento de Ciências da Saúde, é quem coordena a pesquisa, que inicia em agosto
Quem cuida também adoece
Para Alexa, a pesquisa, que inicia em agosto e tem previsão de encerramento em dezembro deste ano, “tem o potencial de contribuir com dados científicos que possam mostrar para a academia, para os serviços e para a sociedade o preço que os profissionais de enfermagem estão pagando pela sua luta contra a Covid-19. Acredito que essa pesquisa pode contribuir para mostrar o outro lado do “front”. As pessoas que cuidam também adoecem, e precisam de cuidados”. O questionário será enviado por email institucional aos trabalhadores dos sete hospitais de referência que participarão do projeto.
Contudo, se a pandemia tem desnudado as más condições de trabalho e a sobrecarga dos profissionais da saúde, essa é uma situação que não é nova. Alexa pondera que, nas grandes crises sanitárias e de saúde, como a que vivemos, tais condições tendem a agravar problemas que já são estruturais nos sistemas de saúde do Brasil e do mundo. Contudo, trabalhar em situações adversas tem consequências.
“Os profissionais então passam a trabalhar sobre forte pressão, intensificam seu ritmo de trabalho até entrarem em exaustão física e mental. Ter a vida das pessoas em suas mãos quando não se tem condições adequadas para cuidar destas vidas e de si mesmo no cotidiano de trabalho é uma experiência adoecedora. Muitos profissionais de enfermagem têm experimentado sintomas de ansiedade, depressão, estresse, esgotamento emocional. Têm se distanciado da família e dos círculos de convivência social. Sentem-se sozinhos e não dispõem de um espaço para falar e serem ouvidos. A enfermagem é uma profissão grandiosa! Mas também muito intensa. Os que cuidam também precisam ser cuidados. Quem produz saúde também precisa estar saudável”, completa a docente.
Cabe lembrar que o Brasil é o país que mais registra mortes de profissionais da enfermagem por Covid-19 no mundo. Até o mês de junho, haviam sido 208 enfermeiras e enfermeiros vitimados pela doença aqui.
Texto: Bruna Homrich
Foto: Wikimedia Commons (Pedro Ventura/Agência Brasília)
Assessoria de Imprensa da Sedufsm