Docentes analisam postura de ex-ministro da Educação em livro SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 04/08/20 12h42m
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Vélez Rodrigues fala em combater a esquerda e revisão de obras didáticas sobre a ditadura

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Entidades estudantis e mesmo as universidades foram reprimidas durante a ditadura civil-militar

O ex-ministro da Educação por três meses no governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodrigues, está lançando um livro, conforme divulgamos nesta segunda, 3, a partir de matéria da agência Folhapress. ‘Da Esquerda para a Direita: Minha Opção Liberal Conservadora’, da editora Távola, trata da trajetória do filósofo, bem como em sua experiência como ministro de Bolsonaro. Alguns trechos chamam a atenção na futura publicação. Uma delas é que o professor afirma que dedicou 30 anos de sua vida a combater a esquerda radical nas universidades, expressão que usou respondendo a questionamento do Presidente da República se cumpriria esse papel.

Um outro destaque que constará do livro é quando Vélez Rodrigues confirma que uma das tarefas que pretendia cumprir à frente do Ministério da Educação era mudar os livros didáticos para revisar a forma como a ditadura civil-militar é tratada por essas obras. Vélez justifica a confecção de seu livro afirmando que a publicação “mostra como é possível a conversão cultural”, já que considera ter sido “socialista na juventude”, mas que as leituras que fez de “autores que defendem a liberdade e os valores tradicionais fizeram-me superar os preconceitos que tinha para com uma visão humanista e liberal do mundo”.

A assessoria de imprensa da Sedufsm ouviu dois professores da UFSM sobre essas manifestações do ex-ministro. Um deles foi o professor José Luiz (Zeca) de Moura Filho, do departamento de Direito, que, inclusive, participou do Comitê Santamariense pelo Direito à Memória e à Verdade. E, o outro, o professor Gilvan Veiga Dockhorn, do departamento de Turismo, um historiador que pesquisa sobre temas ligados ao período do regime militar, bem como em relação à chamada justiça de transição após o fim da ditadura.

Esquerda X direita e a liberdade de cátedra

O professor Zeca Moura Filho não vê problema em o ex-ministro usar a expressão “combater a esquerda”, pois quem se vincula à esquerda também combate as ideias conservadoras, pensamento da direita. Contudo, ressalva que “uma coisa é fazê-lo enquanto professor, no exercício da docência, amparado na chamada ‘Liberdade de Cátedra’, prevista, inclusive, em lei. Outra é fazê-lo enquanto gestor, posição em que não há espaço para tanto, especialmente na esfera pública, uma vez que a vontade do Estado manifestada via autoridade (no caso um Ministro), é única e exclusivamente aquela da Lei.

Zeca acrescenta ainda que “o gestor público tem que ter em mente que, se por um lado a sociedade à qual serve é diversa, em grande parte ela não é laica, mas o Estado sim, e há, sabidamente, distintas visões sobre aspectos religiosos, por exemplo, entre esquerda e direita, mais uma razão para que as autoridades se mantenham, na vida pública, distantes de suas convicções pessoais, e procurem decidir e agir, sempre, de forma colegiada”.

Gilvan Dockhorn avalia que “a escola, a universidade, os espaços de socialização, são por essência espaços de ideias e, portanto, de confronto e de disputa política”. Portanto, analisa, “a manifestação crítica, ponderada, coerentemente sustentada, respeitosa e baseada em argumentos técnico-científicos acerca de qualquer tema ou assunto e identificada com concepções de mundo e de sociedade por parte de um educador não me parece problemática, pelo contrário, é um componente na formação de indivíduos”.

No entanto, comenta o professor, “a questão delicada na afirmação do ex-ministro é a fixação em enfrentar uma possível orquestração subversiva que supostamente tomou conta da educação pública brasileira”. Para Gilvan, o atual governo associa a defesa dos direitos humanos, a reivindicação de uma educação emancipadora e do conhecimento científico como vinculados ao pensamento da esquerda” e, isso, segundo o historiador, “além de ser um desperdício da existência humana, soa como (Dom) Quixote lutando contra moinhos de vento, com a ressalva, que esse tipo de discurso está no centro das políticas públicas implementadas pelo atual governo. Preocupa, ainda mais vindo de um gestor público da área da educação, a ideia de exterminar o pensamento contrário, de impedir o debate e anular o divergente”, frisa ele.

Ditadura e revisão dos livros didáticos

No que toca à declaração do ex-ministro, Vélez Rodrigues, de que tinha como uma das tarefas rever o conteúdo dos livros didáticos que tratavam do período da ditadura civil-militar (1964-1985), o professo Zeca Moura ressalta que “uma coisa é a revisão de material didático, que não constitui nenhum problema, mas não pode ser tarefa de uma só pessoa, e nem de uma só corrente de pensamento”. Entretanto, o não aceitável é "revisionismo".

Portanto, no entendimento do professor, o que não se pode concordar é com um revisionismo que alterar atos e fatos com os quais não se concorda, especialmente do ponto de vista ideológico, para introduzir versões da realidade que não encontram respaldo nos mais variados ramos do conhecimento, como a História. Caso isso fosse feito, diz Zeca, em relação à ditadura civil-militar, seria um ato fere um dos pilares da chamada Justiça de Transição, que é justamente o direito à memória e à verdade.

Sobre esse mesmo tema, revisão do conteúdo das obras didáticas, Gilvan Dockhorn vê que Vélez não foi escolhido ao acaso por Bolsonaro. “Jair Bolsonaro construiu sua carreira política com base em um discurso que gradativamente se radicalizou conforme demandas progressistas eram ampliadas na sociedade”. E acrescenta o historiador que “conforme avançavam políticas de memória crítica ao golpe de 1964 e ao regime civil-militar, mais enfáticas eram suas (de Bolsonaro) posições negacionistas e apologéticas a este passado recente”.

Dessa forma, conclui o professor, “se há referências críticas ao regime civil-militar e a condenação de suas práticas violentas e desumanas em livros didáticos ou mesmo nos currículos ou na forma de interpretação deste passado por profissionais da educação, estes seriam alvo prioritários de contestação e de desconstituição por parte do governo e, assim, delegar o ministério da educação para Vélez seria ato contínuo desse processo de ressignificação positiva do passado autoritário”, finaliza.

Vélez Rodrigues: titular do MEC por três meses

Texto: Fritz R. Nunes

Imagens: Memorial da democracia; Sedufsm

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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