Dica cultural: historiador indica filme ‘Anahy de las misiones'
Publicada em
18/09/20 11h21m
Atualizada em
18/09/20 11h28m
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Professor José Iran recomenda obra que destaca a força de uma mulher durante a Guerra dos Farrapos
Sextou na quarentena! E nesta sexta, 18 de setembro, a dois dias de o estado do Rio Grande do Sul comemorar a Revolução Farroupilha, a dica cultural vem bem a calhar com a data de 20 de setembro. O professor José Iran Ribeiro, do departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da UFSM, graduado, mestre e doutor em História, recomenda o clássico filme “Anahy de las missiones”, que conta a saga pela sobrevivência de uma mulher e sua família em meio à Guerra dos Farrapos. Para muitos (as) que gostam de glamurizar o conflito entre os gaúchos e o império central, no século XIX, vale assistir a obra dirigida pelo saudoso porto-alegrense, Sérgio Silva. Boa leitura!
“Anahy de las Misiones
O filme “Anahy de las Misiones” (1997) é um filme brasileiro de ficção histórica. Trata de uma família, liderada por uma mulher, Anahy, que vive na companhia de seus quatro filhos, gerados com pais diferentes, durante o contexto da Guerra dos Farrapos (1835-1845). Obtém seu sustento saqueando os mortos encontrados nos campos de batalha e vendendo o que encontram a quem tiver interesse. É um drama emocionante, bastante verossímil das condições de vida durante aqueles anos em que parte do Rio Grande do Sul – os farroupilhas – revoltou-se contra a autoridade do Império do Brasil.
A família vive entremeio à guerra, aproveitando as possibilidades resultantes das mortes nos embates e sofrendo suas agruras, puxando uma carreta carregada com os trastes obtidos, pois a junta de bois fora requisitada por comandantes militares. Anahy conta especialmente com seu filho mais velho, Solano, manco de uma das pernas e por isso livre do recrutamento militar, para o cuidado e criação dos demais filhos. A preocupação maior é com a filha ainda moça, Luna, que se esconde em ataduras para simular alguma doença de pele e, assim, evitar possíveis tentativas de abuso. A guerra leva seus outros filhos, um deles empolgado com a causa farrapa, as aventuras imaginadas, as valentias por demonstrar; outro assassinado covardemente.
Anahy é uma mulher muito forte, a vida de “china” – mulher pobre, fruto da miscigenação mais ou menos forçada entre brancos colonizadores e as populações indígenas – não lhe ofereceu alternativa. O filme foi premiado em diversos festivais no Brasil e no exterior. Parte foi gravado nas cidades de Cambará do Sul, de Caçapava do Sul e as chamadas guaritas, “ou guritas”, emprestam ainda mais vivacidade ao enredo. Difícil apontar qual é o personagem mais marcante.
O ator Marcos Palmeira já registrou que guarda seu personagem Solano com carinho especial. Também fazem parte do elenco Araci Esteves, Paulo José, Matheus Nachtergaele, Dira Paes. É uma obra que permite visualizar, com bastante fidedignidade histórica, a condição da mulher e os arranjos familiares no passado gaúcho. Algo muito distante dos modelos e das prescrições moralizantes idealizados por grupos políticos e versões religiosas conservadores atualmente influentes. O filme pode ser encontrado com alguma facilidade em na internet, como no you tube. Vale muito assistir! Não ‘é cisco na vastidão do pampa’.”
José Iran Ribeiro
Professor Associado do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM
Mestre e doutor em História
Texto: Fritz R. Nunes
Imagem: Mercado livre e arquivo pessoal
Assessoria de imprensa da Sedufsm