Fiocruz mantém alerta de níveis críticos da pandemia em abril SVG: calendario Publicada em 09/04/21 19h17m
SVG: atualizacao Atualizada em 09/04/21 19h28m
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Especialistas temerosos sobre tomada de medidas que flexibilizem o distanciamento social

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Envase de vacina na Fiocruz, órgão que produz o modelo Oxford/Astrazeneca

O Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na última terça, 6, alertou que a pandemia pode permanecer em níveis críticos ao longo do mês de abril, prolongando a crise sanitária e colapso nos serviços e sistemas de saúde nos estados e capitais brasileiras. A análise mostra que o vírus Sars-CoV-2 e suas variantes permanecem em circulação intensa em todo o país. Além disso, a sobrecarga dos hospitais, observada pela ocupação de leitos de UTI, também se mantêm alta.

Devido ao acúmulo de casos, diversos deles graves, advindos da exposição ao vírus ainda no mês de março, o vírus permanece em circulação intensa em todo o país”, explicam os pesquisadores. Segundo os dados, foi observado ainda um novo aumento da taxa de letalidade, de 3,3 para 4,2%. Este indicador se encontrava em torno de 2,0% no final de 2020. Os pesquisadores alertam que esse crescimento pode ser consequência da falta de capacidade de se diagnosticar, correta e oportunamente, os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais. 

Com base neste cenário e a partir da premissa de que o “essencial é proteger à saúde e salvar vidas”, os pesquisadores do Observatório Covid-19 Fiocruz, responsáveis pelo estudo, defendem que é fundamental neste momento a adoção ou a continuidade de medidas urgentes, que envolvem a contenção das taxas de transmissão e crescimento de casos através de medidas bloqueio ou lockdown, seguidas das de mitigação, com o objetivo reduzir a velocidade da propagação. 

Essa orientação dos técnicos da Fiocruz também usa como referência a Carta dos Secretários Estaduais de Saúde à Nação Brasileira, publicada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) em 1º de março de 2021, na qual é apontada a necessidade de maior rigor nas medidas de restrição das atividades não essenciais para todos estados, capitais e regiões de saúde que tenham uma taxa ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos.

Santa Maria deveria estar com mais restrições

Quando se analisa Santa Maria à luz das orientações do Conass, que fala em restrição de atividades não essenciais em cidades ou regiões cuja taxa de ocupação de leitos está acima de 85%, percebe-se que o município se enquadra na situação em que deveria fazer mais restrições, e não flexibilizar as medidas de isolamento. Os dados publicados nesta sexta (9), mostram, como diz o Diário de Santa Maria, a taxa mais alta de ocupação em leitos de UTI no mês de abril: 96,9%. As vagas de UTI pelo SUS estava em 100% na quarta (7) e na quinta (8) aumentou para 101,4%. Já na rede privada, o uso de UTIs estava em 92,3% na quarta (7) e aumentou para 93,4% na quinta (8).


Husm está com ocupação de UTI Covid acima de 100% 

Na análise do professor de Medicina da UFSM, Marcos Lobato, que também é infectologista que atua no comitê de combate à Covid-19 da Prefeitura de Santa Maria, o aumento das ocupações de leitos é esperado. “Infelizmente, a maioria das desocupações de leitos foi em função de pessoas que vieram a óbito”, ressalta. Para Lobato, a tendência em nível local é semelhante ao apontado pelo boletim da Fiocruz, ou seja, uma expectativa de piora, mesmo que numa intensidade, talvez um pouco menor.

O professor da UFSM entende que é importante destacar que algumas coisas que faltam para que se consiga reverter esse momento crítico da doença:

- falta uma coordenação nacional que atue efetivamente para reduzir a propagação do vírus;

- falta uma proteção financeira para trabalhadores (formais ou informais) e mesmo para pequenos empresários, que ficam desassistidos no caso de ter que se fazer um lockdown (fechamento total dos serviços não essenciais);

- faltam vacinas.

Sem que essas condições citadas acima sejam preenchidas, Lobato entende que o país continuará com hospitais lotados e bastante mortes, exatamente conforme previsão do boletim da Fiocruz.

CMS, vacinas, mortes

No que se refere às vacinas, em reunião junto ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), Gonzalo Vecina Neto, médico, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), primeiro diretor presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), afirmou que é necessário urgente uma Política Nacional de Produção de Vacina. “Não vamos fazer a fase clínica de 12 vacinas em produção no Brasil porque não temos política”, disse, reivindicando organização e financiamento.

Durante a mesma reunião do CNS, ocorrida no final de março, Pedro Hallal, epidemiologista, ex-reitor da UFPel, coordenador do projeto Epicovid, destacou que sem testagem em larga escala e rastreamento de contato, “fatores que nunca foram priorizados no Brasil”, não é possível enfrentar a pandemia. Ele também destacou como problemas a desinformação e o não cumprimento do lockdown, além do incentivo governamental para o uso de cloroquina. 

Araraquara (SP) efetuou lockdown e baixou mortes e internações

Hallal defendeu que é necessário pelo menos 1,5 milhão de doses de vacina por dia para reverter a crise sanitária e evitar mais mortes. “Precisamos de uma aliança nacional e internacional pela disponibilização de doses da vacina. O Brasil é uma ameaça à saúde pública mundial, somos uma fábrica de variantes”, disse.

O epidemiologista também aponta a gravidade da situação que vivemos no país a partir do número de mortes. Pedro Hallal diz que o Brasil tem 2,7% da população mundial, o que significa que o país deveria ter 2,7% da média de mortes do planeta. Entretanto, o Brasil, semanas atrás, tinha em número de óbitos o equivalente a 12% da média mundial. Contatado na última quinta (8), o professor da UFPel afirmou que o quadro piorou: o percentual de 12% de óbitos da média mundial subiu agora para 30%.

Ingresso no STF

Diante desse quadro de gravidade enfrentado pelo país, com mais de 4 mil mortes diárias, diversas entidades da Saúde no Brasil, todas elas componentes do Conselho Nacional de Saúde (CNS), entraram na última terça (6) com um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o Judiciário intervenha, exigindo que o governo federal implemente um lockdown de 21 dias este mês, além de um auxílio emergencial adequado para a população. 

Os autores da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), enviada ao STF, também requerem o restabelecimento do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, previstos na Lei nº 14.020/2020. O valor aprovado era de R$ 600 mensais. Este ano, o valor caiu para parcelas entre R$ 150 e R$ 375.  Na ação, os proponentes identificam uma inação do Governo Federal como sendo a principal responsável pela escalada do número de mortes em todo o território nacional e pelo completo colapso do atendimento público e privado à saúde. Somente no dia 6 de abril, foram perdidas 4.195 vidas para a Covid-19.

Distanciamento controlado e flexibilização

Em que pesem os dados que demonstram que os hospitais seguem pouco abaixo da linha de colapso, com os óbitos ainda elevados, o governador do RS, Eduardo Leite, anunciou nesta sexta (9), novas flexibilizações. Enquanto o comitê técnico manteve o estado em bandeira preta, ou seja, com nível elevadíssimo para o contágio de Covid-19, o governo gaúcho permitiu ainda mais medidas que possibilitam abertura de comércio não essencial, bares e restaurantes, aos sábados, o que estava proibido até semana passada.

Essa postura, em que pese a justificativa de Leite, de que é para abrandar a possível asfixia de setores econômicos, não é bem recebida por especialistas da área de saúde. Ainda na quarta (7), o infectologista e professor da UFRGS, Alexandre Zavascki, postou em seu perfil no twitter que “com calamitosos 4.195 óbitos, passa batido que 9,96% desses foram no RS, estado com pouco mais de 5% da população brasileira”. E complementa: “segue o extermínio de parte da população brasileira. Segue o Pampa aliado. Aqui também teve avisos ignorados”, afirmou o médico.

Especificamente em relação às medidas tomadas pelas autoridades gaúchas, Zavascki não poupa críticas. “Infelizmente, o governo estadual tem outros planos e jamais admitirá o fracasso do ‘distanciamento controlado’. Se não houvesse planos, não parece haver humildade. E segue sendo um bom local para lavar as mãos. Também continuaremos sem ouvir muitas críticas de cientistas daqui”.

No que se refere ao modelo de distanciamento controlado no RS, que trabalha com o sistema de bandeiras, o professor Pedro Hallal analisa que é um “modelo reativo, mas quando bem implementado, capta a gravidade da situação.” No entanto, ressalta ela, o problema é que ele não vem sendo respeitado. “As prefeituras recorrem, o governador implementa a cogestão (que permite adesão à bandeira menos grave nos municípios). Então, o problema não é o modelo, mas a interpretação dele”.

 

Texto: Fritz R. Nunes
Fotos:Husm/Ebserh; Fiocruz; EBC/Prefeitura de Araraquara
Assessoria de imprensa da Sedufsm

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