Professores analisam confronto Cpers X Tarso SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 22/03/12 17h30m
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João Rodolpho e Reginaldo Perez veem desgaste do governo

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Bancada petista na Assembleia Legislativa pode se desgastar no confronto com o magistério

O governo petista de Tarso Genro e sua base formada pelo PT, PCdoB, PSB, PDT e parte do PTB, saiu vitorioso do confronto com os professores no caso da apreciação do projeto de reajuste do magistério, a ser concedido em três parcelas até o inicio de 2013, sem, no entanto, prever a integralidade do pagamento do piso nacional para a categoria. Entretanto, apesar da vitória (29 votos a zero, pois a oposição se retirou do plenário), o desgaste do governo e seus apoiadores no parlamento parece inevitável. A pergunta a ser feita é, até que ponto esse tipo de confrontação pode influenciar no processo eleitoral, já que em outubro temos pleitos municipais.

A SEDUFSM ouviu dois professores do departamento de Ciências Sociais da UFSM e que atuam em análises políticas: João Rodolpho Amaral Flores e Reginaldo Teixeira Perez. Na avaliação de Flores, o desgaste do governo e do PT ocorrerá, especialmente porque Tarso Genro foi o propositor do piso quando era ministro da Educação no governo Lula, o mesmo piso que agora não está se comprometendo a cumprir integralmente. Porém, João Rodolpho não observa o quadro atual como absoluto, pois viveríamos hoje o pragmatismo na política e a memória coletiva costuma ser “curta”.

Para Reginaldo Perez, algum tipo de impacto político para o governo e aliados haverá, contudo, acha prematuro dizer qual a intensidade, até mesmo porque, segundo ele, é preciso averiguar se um sindicato como o Cpers ainda mantém aquela representatividade de outrora junto aos trabalhadores em educação. Em relação ao possível acirramento com outras categorias do funcionalismo, Perez avalia que, até o momento, o governo tem se saído bem no processo de negociação. Ele questiona até que ponto a oposição realmente estaria conseguindo, no debate político, desconstituir eleitoralmente o governo e os petistas. Acompanhe a seguir os depoimentos concedidos à SEDUFSM.

João Rodolpho Flores

Pergunta- Na sua avaliação, qual o impacto político para o governo Tarso ao aprovar uma proposta de reajuste sem o apoio da maioria dos professores?
Resposta
- No momento, de natural desgaste perante parcelas da opinião pública. Este desgaste já é praxe para todos aqueles que fazem política e devem tomar atitudes quando exercem cargos, seja no legislativo, seja no executivo. Em verdade, nossa cultura em termos de memória coletiva é "curta". Logo virão outros fatos marcantes e os do presente/passado praticamente ficarão no esquecimento. Os próprios políticos agem dessa forma. Veja-se o caso do atual governador do RS, enquanto Ministro do Educação do Brasil, tratando do piso nacional dos professores do ensino fundamental e médio. Agora, o tempo e as condições de exercício de poder são outras, na esfera estadual.

P- Outras categorias de servidores reclamam melhoria salarial, inclusive com greve na polícia civil. O sr. vê algum tipo de cenário mais complicado para o governo estadual?
R
- O cenário estabelecido não é de hoje. Ele tem história. Começou a se intensificar com a implantação da ditadura civil-militar no Brasil em 1964, quando o estado do Rio Grando Sul passou a ser administrado por cidadãos em sua maioria desqualificados em termos de capacidade gerencial dos negócios públicos e débeis como políticos. Estavam lá porque a força os amparava. Quando eleitos não conseguiam se opor ao centralismo federal. Assim, paradoxalmente o estado cresceu economicamente e se estabilizou socialmente, enquanto nas estruturas de governo aconteceu o contrário, caracterizado pela má gestão, com o descontrole nos investimentos e inchaço de servidores em setores não estratégicos. Portanto, o cenário deverá permanecer por muitos anos, já que as categorias de servidores precisam de reconhecimento financeiro pelo que produzem para o bem comum, enquanto os cofres do estado não tem a devida proporcionalidade para suprir suas diversas obrigações, em termos de manutenção e investimentos de infraestrutura e pagamento do pessoal. A solução poderia estar em aportes de governo federal, mas as obras da Copa do Mundo até 2014 impedirão a vinda de recursos, por exemplo, para modernizar, qualificar e pagar melhor os vários setores de recursos humanos do estado.

P- O fato de o governador, quando ministro, ter sido o autor da proposta de lei do piso, o desgasta ainda mais no momento em que não se compromete a cumpri-la de forma integral?
R
- Como comentei, anteriormente, é uma questão de momento. Mas, certamente, entre membros do magistério gaúcho muitas lembranças sempre serão recordadas nesse sentido; como fazem atualmente em relação a governos passados. No entanto, mesmo que a sociedade rio-grandense reconheça a importância da educação para o desenvolvimento estadual e o trabalho realizado pelos professores, a perspectiva pragmática de vida na atualidade irá superar qualquer grande indignação. Afinal, vive-se o momento de cada um por si; do ter para suprir os seus; do ter para desfrutar o lado material da vida. Bom ou não, são reflexos da modernidade e da globalização, na qual o Brasil está inserido.

P - É possível que deputados que têm base importante no meio sindical e junto aos professores, como o santa-mariense, Valdeci Oliveira, possam ter revezes políticos?
R
- Se Valdeci Oliveira for candidato a prefeito no pleito de 2012 terá desgastes pelas características da cidade de Santa Maria, por esta se constituir num centro pulsante de funcionalismo público. Mas penso que outros desgastes somam-se a sua pessoa, além de hoje estar na liderança do governo na Assembléia Legislativa. Isso já aconteceu com outros deputados da cidade. Na hora dos embates eleitorais tudo isso vem à discussão, mas é bom lembrar que o eleitorado já não dá muito importância a tais debates. A política como "arte de poder" e "arte de governo" está em crise, pelo menos esta tradicional, que é muito corporativa e populista. Os cidadãos começam a vislumbrar outras formas de viver a política, e isso passará pela lenta e gradual extirpação da mediocridade e demagogia das atuais práticas.

P - Esse tipo de confrontação com os professores pode impactar nas eleições municipais?
R
- Como já comentei, penso que sim, mas em pequeno grau. Até mesmo porque não sabemos quem exatamente será oposição ao atual prefeito. Ainda não vislumbro forças coesas de oposição para o embate do segundo semestre. Os políticos mais conhecidos não querem; certamente avaliam que já estão bastante desgastados perante a opinião pública. Isso vale igualmente para o prefeito em exercício, pela situação local do piso não pago aos docentes municipais, questão ainda aberta e eivada de polêmicas entre sindicato (SINPROSM) e Secretaria de Educação de Santa Maria. Em síntese, Santa Maria não conseguiu uma renovação dos seus quadros políticos nos últimos anos pelos motivos óbvios - caciquismo persistente nos quadros partidários e certa desilusão das pessoas sérias e competentes com a política - cenário que tem esvaziado o debate político e diminuído as possibilidades de um cenário mais progressista e adequado às expectativas da população.

Reginaldo Perez

P - Na sua avaliação, qual o impacto político para o governo Tarso ao aprovar uma proposta de reajuste sem o apoio da maioria dos professores?
R
- Algum impacto haverá. Mas é difícil avaliar isso agora. Por fim, não estou certo acerca da precisa representatividade do CPERS, hoje, junto aos professores. Por fim, e isso deve ter pesado junto à decisão do governo (de conceder esse aumento), professor que é petista não deixará de ser petista - afora as exceções de sempre - por causa de um valor de acréscimo salarial frustrante. Peço atenção, igualmente, ao papel da oposição: ela conseguiu, nos debates, interpelar o professorado a ponto de auferir o seu apoio eleitoral?

P - Outras categorias de servidores reclamam melhoria salarial, inclusive com greve na polícia civil. O sr. vê algum tipo de cenário mais complicado para o governo estadual?
R
- O governo - com maior ou menor habilidade (e sucesso) - vem conseguindo "administrar" as tensões com o funcionalismo. Em geral, tem se saído bem...

P - O fato de o governador, quando ministro, ter sido o autor da proposta de lei do piso, o desgasta ainda mais no momento em que não se compromete a cumpri-la de forma integral?
R-
Aqui sou obrigado a concordar com o que insinuas; a posição do governador não parece ser muito coerente. Mas, novamente, sugiro olharmos para a oposição: ela tem conseguido enfrentar o governo do estado nos debates públicos com a eficácia suficiente para desconstituir (eleitoralmente) a figura de Tarso?

P- É possível que deputados que têm base importante no meio sindical e junto aos professores, como o santa-mariense, Valdeci Oliveira, possam ter revezes políticos?
R-
Ainda é cedo para avaliar, mas não há dúvidas que a visibilidade do cargo de Valdeci (líder do governo na Assembleia) o coloca na vitrine nos debates com os professores...

P - Esse tipo de confrontação com os professores pode impactar nas eleições municipais?
R-
Não creio. A tendência é a diluição das emoções - e o retorno à rotina arrefece as energias humanas...

Texto: Fritz R. Nunes
Fotos: Agência da Assembleia Legislativa do RS
Assessoria de Imprensa da SEDUFSM

 

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