Uma noite para os apaixonados por poesia SVG: calendario Publicada em 22/03/12 18h48m
SVG: atualizacao Atualizada em 01/04/12 16h15m
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Sarau literário transcorreu nesta quarta, na SEDUFSM

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Noite foi para 'degustação' de poesias

Para quem consome poesia, a noite desta quarta (21) foi o momento em que aqueles que compareceram ao auditório da SEDUFSM puderam se empanturrar à vontade. O Sarau Literário “Um dedo de prosa e poesia” trouxe até a sede do sindicato nomes já conhecidos e alguns até consagrados na literatura regional, como são os casos de Humberto Gabbi Zanatta, Tania Lopes, Byrata, Vitor Biasoli, até aqueles que se dedicam ao tema por simples paixão pela literatura, como são os casos do estudante Odemir Tex Jr., do professor de Matemática da UFSM, José Vanderlei Prestes de Oliveira (Pardal), da professora de Letras do estado, Larissa Pujol, entre outros.

É bem verdade que para fazer poesia existem técnicas apropriadas, porém, o gosto por esse tipo de arte literária pode simplesmente estar no sangue, como ficou bem claro pela presença de Antonio Leão Gomes, veterano e humilde poeta oriundo das bandas de Arroio do Só. Uma das entidades que mais abre espaço para os poetas locais – a Casa do Poeta- também esteve representada no sarau. Haydee Hostin Lima e Irene Fernandes dos Santos marcaram presença e deram suas contribuições no incentivo à poesia.

No sarau promovido pela SEDUFSM, quem declamava uma poesia de sua própria autoria, ganhava um brinde especial: uma camiseta do evento. Mas, houve quem tenha comparecido não para apresentar um poema, e sim, apenas para “degustar”, consumir. O exemplo em relação a isso foi o da professora Marinel Dall’agnol, que pertence ao curso de Medicina da UFSM. Estimulada a ir ao microfone e apresentar uma poesia, ela declarou: “Eu vim aqui apenas para consumir”.

O presidente da seção sindical, Rondon de Castro, que também expôs seus gostos poéticos durante o Sarau, ao final declarou-se satisfeito com a realização do evento e com os elogios efetuados pelos participantes em relação à criatividade das camisetas e dos vidrinhos com cápsulas/pílulas literárias. “Foi a primeira edição, mas a partir do sucesso e dos muitos pedidos, a entidade se propõe a novas edições, pois a valorização da cultura também é função sindical”, frisou Rondon.

Reproduziremos a seguir algumas das dezenas de poesias declamadas na noite desta quarta-feira. Quem quiser contribuir com mais poesias, basta ir até o espaço de comentários, na parte inferior da notícia, e deixar o seu recado:

Feliz Pássaro
(Haydée S. Hostin Lima)

Um pássaro atravessando o céu
é apenas um pássaro atravessando o céu
e tu estás de aniversário.
Um aniversário se faz levantando,
olhando no espelho e sorrindo
e lá fora um pássaro atravessa o céu
e tu estás de aniversário e o telefone toca:
é alguém que manda abraços
é alguém que tem saudades
e um pássaro atravessa o céu.
Tu estás de aniversário e tua roupa é nova,
teu sapato ganhou brilho,
o teu cabelo um corte, e tem bolo na mesa
e velas para dar sorte... e um pássaro atravessa o céu.
Tu estás de aniversário e alguém te trouxe um
presente
e as crianças balões... e o teu amor é ausente.

E um pássaro atravessa o céu.
Igual, tu estás de aniversário renova-se a idade,
agora, tens mais idade, nem mais nem menos
felicidade.

O mundo lá fora com problemas e alegrias,
e um pássaro que atravessa o céu
é apenas um pássaro atravessando o céu,
porque estás de aniversário e estar de aniversário
é apenas atravessar o céu nas asas de um pássaro.


Madrigal (*)
(Leão Gomes)

Da ponta de uma estrela o brilho,
um raio apenas de sol
e todo o esplendor da lua!

Eu quisera neste instante,
para pintar delirante
na branca “tela” da vida
uma imagem tão querida
como a própria imagem tua!

(*Homenagem ao amigo e pintor Eduardo Trevisan)


Incontingentia Legendae
(Larissa Daiane Pujol Corsino dos Santos)

Onde os outros veem desgraça,
Eles veem lições de amor.
Nos confins da tarde
Resplandece a estrela no espaço
O rito na lenda,
Os rastros no tempo
O tempo não nos pertence.
Nas casas mansas,
O sono e o vento contam fábulas
Para cada hora
Temos nos lábios
O sorriso adequado
Minha canção está além das convenções
Apenas a noite tinha nome
Escrito em grandes sombras
Tudo cresce neste intervalo de
Abandono em mim
Solidão do rio
O mundo fechado no início
E sempre o riacho cheio de lendas
Consciência sem acordar
O tempo consome a vida
Os olhos: espelho da imagem real
Não sou, mas aqui espero!
Eu sou o mundo
Quando vier o meu fim,
Como nasci
Eu morrerei em mim...
Grande descida entre as águas vitrais!

Faz tempo
(José Vanderlei Prestes de Oliveira)

Faz tempo
que não escrevo
palavra que faz sentido
e isso me faz inquieto
um louco aborrecido

O tempo
o cata-vento
as coisas que não invento
a ciência
meu passatempo
assassinou a poesia
e a noite é casa vazia
onde dá medo de entrar


Prece a São Chico
(Humberto Gabbi Zanatta)

São Francisco de Assis,
pelo vosso poder
e virtudes
abençoai-me,
protegei-me

contra o dragão da maldade
e os raios que me partem

contra o espírito de porco
a ave de mau agouro
a mula-sem-cabeça
e o santo do pau oco.

Livrai-me
dos que viram uma fera
dos que fazem das tripas coração
dos que soltam a franga
dos que ficam uma jararaca
e do lobo vestido de cordeiro.

Que eu não seja
vaquinha de presépio
ovelha negra
ou bode expiatório
neste Meio
Ambiente Humano.
Amém!

O Descobrimento
(Odemir Tex Júnior)

Eu sabia que naquela época o Brasil
nem tinha sido explorado pelos portugueses,
Cabral era o dono da venda da esquina.

Vasco da Gama era só time de futebol,
e o gigante Adamastor era o filho
do açougueiro Luís Vaz de Lima
(habilidoso com as mãos e letal com a língua.).

Era na casa da Vó. Foi lá.
Em pleno pampa,
uns 400 km da capital.
De lá conheci o mar
pela primeira vez.

A concha do ouvido na concha-concha.

Vó que barulho borbulhoso
e ventado é este?

É o mar, meu neto, onde
um dia vamos todos desaguar.
É onde se nada para sempre.


Texto: Fritz R. Nunes e Rafael Balbueno
Fotos: Bruna Homrich e Fritz Nunes
Assessoria de Imprensa da SEDUFSM

 

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