Experiências com animais na UFSM geram revolta
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Ativista diz que algumas universidades já usam outros meios
O uso de animais em experimentos é uma realidade presente e polêmica em muitas universidades federais brasileiras. Recentemente um caso ocorrido na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) ganhou visibilidade nacional e repulsa por parte de associações e pessoas ligadas aos direitos dos animais. A denúncia, enviada pelo Chefe do Escritório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Santa Maria, Tarso Isaía, aponta para a utilização de cães sadios como cobaias na pesquisa de um doutorando da Pós-Graduação de Medicina Veterinária.
A presidente do Clube Amigo dos Animais, Marlene Nascimento, opina que, quanto mais desenvolvida uma universidade, menos testes deveria realizar com animais. “Não somos contra a UFSM. Reconhecemos que lá existem pesquisadores com potencial muito grande. Justamente por termos tanto orgulho dessa universidade, queremos saber o que está realmente acontecendo e trabalhar para que a instituição não figure mais em manchetes sobre crueldade com animais”, diz Marlene. A ativista assinala que universidades conceituadas do país não utilizam mais animais em experimentos e ressalta a importância de a UFSM iniciar a procura por técnicas alternativas, que não mais submetam animais ‘sencientes’ (especificar o que é...) a mutilações e dor física.
O caso revoltou a comunidade santa-mariense, que se organizou em dois protestos: no último sábado, 12, tendo como local a Praça Saldanha Marinho e na última segunda-feira, 14, em frente ao prédio da Reitoria da UFSM. Durante as manifestações foram coletadas mais de duas mil assinaturas, sendo que o recolhimento prossegue.
Marlene diz que os três grupos que estão à frente do movimento (Clube Amigos dos Animais, Focinhos Felizes e União Santa-mariense Protetora dos Animais), pedem um Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público Federal (MPF) para que um membro dessas associações acompanhe o processo de doações dos animais. “A universidade tem um compromisso ético e moral de manter um tratamento para o resto da vida desses animais. Eles eram saudáveis e é muito difícil alguém adotar um animal com problemas de saúde e responsabilizar-se financeiramente por ele”, esclarece Marlene. Ela ainda lembra que o aparecimento da UFSM em notícias ligadas a maus tratos com animais vem sendo recorrente.
Denúncia
A tese do doutorando tem como linha de estudo a reconstrução da mandíbula de cães, que tenham perdido parcial ou totalmente os dentes em decorrência de câncer de boca, e preconizou o uso de 12 animais, supostamente utilizados para testar uma placa de titânio. Denúncias anônimas apontam para cães que tiveram parte ou toda a mandíbula extraída, sofrendo maus-tratos. Tal acusação foi negada pelo pesquisador.
Na última segunda-feira, 14, a Comissão de Ética em Uso de Animais (CEUA) da UFSM emitiu uma nota, garantindo que um processo de averiguação dos fatos denunciados. “Constatou-se que a pesquisa foi encerrada e o resultado da visita, vistoria, entrevista com orientador e doutorando, foram encaminhados ao Ministério Público Federal. A CEUA recomendou ao coordenador do projeto que os implantes sejam retirados e que na sequência os animais sejam devidamente acompanhados até a sua adoção. A Comissão de Ética em Uso de Animais se compromete a informar a sociedade sobre a condução final desses fatos”, diz parte da nota.
Produtivismo
O presidente da SEDUFSM, Rondon de Castro, relaciona o caso com a lógica produtivista, hoje tão presente no ensino superior brasileiro. “Na prática, o resultado negativo do experimento é "eutanizado", ou seja, dentro do padrão de pesquisa financiada pelos órgãos de fomento (CNPq, CAPES etc) o resultado deve respeitar o prazo de validade da liberação de recursos, o que explica não haver tempo para encontrarem animais com câncer para os experimentos”, diz Rondon.
Ele destaca o quão bilionário é o mercado de próteses para o mercado veterinário. “O que transparece é o próprio descaso com o experimento, o que me faz pensar que os resultados dessa pesquisa deveriam ser avaliados. Assim que a trajetória do doutorando foi cumprida, o objeto da pesquisa (os cães) foram abandonados à estrutura do hospital veterinário, como se essa tivesse condições de acompanhar algo que era objeto de estudos. Houve negligência, displicência com a vida que deveriam preservar”, critica Rondon de Castro.
Texto: Bruna Homrich com informações de Correio do Povo e site da UFSM
Foto: Veganos do Coração
Edição: Fritz Nunes (SEDUFSM)