Luiz Carlos Nascimento da Rosa Professor aposentado do departamento de Metodologia do Ensino do CE
Ao dedicar tempo ao pensar sobre si e sobre as coisas do mundo, o ser humano vêm se debatendo a milhares de anos quanto a sua fluidez ou permanência diante da existência de si e das coisas. No mundo Ocidental, este aguçado olhar possui berço na polis grega. Heráclito e Parmênides, centenas de anos Antes de Cristo, viraram a mesa desse debate filosófico próprio da condição humana.
Muitas vezes ao centrarmo-nos na aparência das coisas e na experiência direta, com a vida do mundo e o mundo da vida, tendemos ao convencimento de que somos permanência e imutáveis. O surgimento do novo pode nos causar estranhamentos. Ao tentarmos superar o mundo fenomênico – a aparência – vislumbramos um horizonte concreto e possível para nossa fluidez. Marx já afirmava que se essência e aparência fossem a mesma coisa, não existiria a necessidade da Ciência. Mas não estamos sós nesse processo. Existe a mão visível e invisível de um Deus: o capital.
No mundo das emanações capitalistas deixamos de ter nossos próprios desejos. Somos transformados em mercadorias e objetos de troca. A lógica e interesses dos menos humanizados e solidários – e, por conseguinte defensores do capital – com seus silenciamentos produzem igualações em nossas vidas materiais e espirituais. Vivemos e desejamos sob a égide dos que defendem a mercantilização de todas as esferas da vida.
Vivemos, no contexto da universidade, uma greve. Debatemos e, democraticamente, decidimos por ela por que: queremos melhores condições de trabalho, uma universidade pública, gratuita e de qualidade para os trabalhadores e seus filhos; queremos um plano de carreira que dê condições e tempo de continuarmos, com muita dignidade, produzindo conhecimento socialmente reconhecido e garantias para vislumbrarmos um futuro com qualidade de vida e, porque ensejamos dar visibilidade e legitimidade às nossas justas causas.
Queremos fazer de nosso espaço de trabalho e do movimento de greve a busca de uma sociedade em que a liberdade e a igualdade, para todos, seja o fundamento de nossas práticas sociais. Somos, no mais das vezes, escancaradamente Heraclitianos. Estamos submersos no movimento de greve e não pensamos sob a ótica das verdades absolutas. As coisas da vida são provisórias e é por isso que nos colocamos em luta para transformá-las.
Parafraseando Vygotski podemos dizer que não estamos interessados em dizer em que estágio de desenvolvimento um determinado ser humano se encontra e sim construir mediações para o seu vir-a-ser.
(Publicado no Diário de Santa Maria de 29.06.2012)