Luiz Carlos Nascimento da Rosa Professor aposentado do departamento de Metodologia do Ensino do CE
Hoje é domingo. Um aloprado vento norte torna uma balburdia o mundo das coisas nas ruas e vira do avesso o humor e o pensamento de muita gente. Poderia eu estar esparramado e mergulhado no conforto de meus cheirosos e macios lençóis e, recluso, deixar o vento e o domingo passar. Não! Enquanto o vento bagunça as coisas e a cabeça das pessoas no lado de fora, aqui em meu confortável canto vou organizando em ideias as agitadas formas de meus pensamentos.
Lembrei-me de duas reuniões do Conselho Universitário, da UFSM, do qual sou membro. Na pauta, das duas reuniões, existiam processos administrativos que questionavam a conduta ética de alguns colegas. Na defesa dos servidores, chamou-me a atenção, nos dois processos, o argumento da não intencionalidade do erro. É estapafúrdio o argumento que o servidor público “desvia-se” da ética sem a consciência de estar cometendo o “desvio”. Estes fatos levaram-me a pensar no conhecimento que o ser humano vem produzindo sobre sua atividade na esfera pública e a produção de sua consciência. Em minha viagem pelo conhecimento fui a um longínquo 300 a. C. e deparei-me pensando em Aristóteles. Esse pensador já alertava para os perigos de se separar a potência do ato, o pensar e o agir. A potência não se extingue quando um ser humano torna ato seu pensamento e, tornar ato um pensamento, que existe em potência, quem decide é o referido indivíduo.
Viajei para o século XVIII e lá vislumbrei passagens do pensamento de Hegel. Para quem gosta de Filosofia é expressiva a seguinte reflexão hegeliana: o real é racional; o racional é real. Tudo que existe no mundo pode ser apreendido pelo pensamento e, aquilo que o ser humano pensa, sobre o mundo, pode vir-a-ser concretizado. Hegel não afirmou que tudo que eu penso eu posso tornar realidade, mas na verdade, sua reflexão apontava que existe a possibilidade do ser humano transformar em realidade seu pensamento.
De posse deste movimento histórico do pensamento humano, no século XIX, Karl Marx vai dar mais concretude a esta reflexão afirmando que é a prática social o critério de verdade do ser humano. Com Aristóteles, Hegel ou Marx podemos dizer que eu decido o caminho que dou para meu pensar e meu agir. Na esfera da vida pública, temos consciência se estamos contribuindo para a consolidação de um momento ético político ou não. Os gregos chamavam de Ágora o lugar público para o debate político sobre as coisas da vida. Reinventemos a nossa.
(Publicado no Diário de Santa Maria de 13 de setembro de 2012)