Painelistas questionam visão empresarial dominante na universidade SVG: calendario Publicada em 21/10/15 19h37m
SVG: atualizacao Atualizada em 21/10/15 19h46m
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‘Universidade no mundo do trabalho’ foi um dos temas do seminário promovido pela Sedufsm

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Mesa abordou a questão da formação do estudante e a relação com o mundo do trabalho

O professor não deve cair no canto da sereia de que se deve educar para o mercado. O papel da universidade deve ser de formar um sujeito comprometido com a sociedade em que vive. Contudo, de que forma fazer isso se cada vez mais a instituição universitária encontra-se dominada por uma visão que propaga os interesses do mercado? Esta seria a síntese das falas doa painelistas que participaram da mesa intitulada “A universidade no mundo do trabalho: para quem formamos?”, que aconteceu na segunda (19), durante o Seminário ‘Políticas Públicas e expansão no ensino superior’, promovido pela Sedufsm, no Audimax (Centro de Educação).

O professor Ascísio Pereira, do departamento de Fundamentos da Educação, atual pró-reitor adjunto de Extensão, argumenta que é preciso haver um questionamento sobre o que se pesquisa na universidade. Segundo ele, as preocupações que temos aqui são as mesmas preocupações do hemisfério norte. “Temos muitos problemas em nosso país, especialmente de infraestrutura, mas por que não encontramos respostas para eles, será falta de competência?”, interroga Pereira. Ele participou da mesa de debate junto com os professores Albertinho Gallina, do departamento de Filosofia da UFSM, e Luciano Miranda, do departamento de Ciências da Comunicação, campus da UFSM em Frederico Westphalen. A coordenação foi do professor Adriano Figueiró, da Sedufsm.

Para Albertinho Gallina, um dos problemas que a universidade enfrenta hoje é o estímulo à disputa, que leva ao individualismo. Segundo ele, os editais já têm modelos prontos e, com isso, não se questiona mais para que e para quem se faz a pesquisa. Gallina, que também foi pró-reitor de Graduação no início da gestão do reitor Paulo Burmann, considera relevante questionar o fato de que o pesquisador não precisa prestar contas do que produz para a sociedade, pois ele apenas segue a lógica dos grupos e das instituições de fomento. O docente, inclusive, chegou a cunhar um conceito diferente para o atual estágio da universidade. “Estamos numa espécie de fase marsupial, ou seja, vivemos de bolsas”.

Pela ótica do professor, a comunidade universitária como um todo precisa refletir a respeito de várias questões que perpassam pela instituição. Uma delas, segundo Gallina, é sobre o papel que cumpre uma agência de transferência de tecnologia da universidade para o setor privado, e que foi criada ano passado na UFSM. A outra é sobre o papel das incubadoras tecnológicas na formação dos estudantes.

A voz da expansão

Vivemos uma situação de invisibilidade social e institucional. A afirmativa é de Luciano Miranda, docente lotado em Frederico Westphalen e que participou do debate numa abordagem que problematizou a “política de expansão universitária”. Segundo ele, mesmo sendo sujeitos da expansão, os espaços para expressar dúvidas e questionamentos são escassos. “Os sujeitos da expansão praticamente não têm voz”, reforçou Miranda.

Na análise do professor, a expansão implementada pelo governo federal está sendo posta em xeque e, com isso, o próprio discurso da democratização do acesso ao ensino superior público também está em debate. Miranda cita a questão das vagas que estão ficando ociosas em função da desistência dos estudantes. Até mesmo em cursos que têm uma relação de bastante proximidade da realidade de Frederico Westphalen, como é o caso de Ciências Florestais, 140 vagas não foram preenchidas.

Para Miranda, o processo de expansão, especialmente a partir do Reuni, foi colocado goela baixo para as universidades, e a disposição do governo (Lula) era ‘assinam o convênio da expansão ou não vão ganhar recursos novos’. Contudo, destaca o professor, o que aconteceu é que instalou-se um “monstro”. Isso por que em função de que a universidade cresceu, em muitos casos, inchou, mas sem cumprir todos os requisitos necessários para a qualificação. Agora, diz Miranda, os custos para resolver os problemas do mau planejamento serão muito mais altos.

Colapso e disfunções

Conforme a avaliação do professor Luciano Miranda, em função da crise de recursos enfrentada pelas universidades, dada a partir do enxugamento do orçamento efetuado pelo ajuste fiscal do governo federal, as hipóteses para a solução dos problemas da expansão não são muito otimistas. Uma das hipóteses apontadas por ele é a do ‘colapso’ absoluto da multicampia em função da carência de recursos e a consequente exacerbação da precarização.

Miranda vê uma série de disfunções decorrentes do processo de expansão. Um dos exemplos citados se refere ao choque cultural com as regiões em que foram instalados os campi. Outra dada como exemplo é a criação de bolhas econômicas surgidas a partir da instalação de campus em cada uma das cidades (Frederico e Palmeira das Missões). Houve quem previsse que haveria desenvolvimento econômico na região, mas segundo ele, o que aconteceu foi apenas um ciclo econômico, que pode ter fim agora a partir do estouro das bolhas criadas.

Também como resultado desse processo expansivo, Luciano Miranda vê a disfunção existente entre docentes e a academia. Para ele, a nova geração de professores, que ingressou nos quadros da instituição a partir do processo de expansão, é muito qualificada, mas bastante pressionada pela lógica do produtivismo. Contudo, avalia ele, apesar de aderirem a essa lógica, os professores não conseguem alcançar toda a exigência em função da precariedade existente.

Após o debate e dando um fecho à mesa, o coordenador, professor Adriano Figueiró, presidente da Sedufsm, analisou que a partir dos dados existentes e da própria fala dos painelistas, é possível afirmar que a expansão representou uma grande “caixa de pandora”, cuja promessa era uma e que, após sua implementação, chegou a resultados polêmicos e ainda inconclusos.

Alguns dados trazidos corroboram a visão daqueles que questionam a qualidade da  expansão empreendida. Conforme Figueiró, em 2009 o percentual dos ingressantes que concluíram seus cursos era de 45%, mas o número vem diminuindo ano após ano. Em 2011 o percentual dos que concluíram foi de 43%, em 2012 chegou a 38% e em 2013 foi de 36%. A redução do número de concluintes, analisa o presidente da Sedufsm, demonstra que há uma insuficiência do sistema de permanência, ou seja, muitos ingressam, mas boa parte não consegue permanecer devido a ausência de uma infraestrutura necessária.

Diante da realidade posta, aguarda-se o que vai acontecer no próximo período, na medida em que os cortes efetuados pelo ajuste fiscal do governo Dilma devem impactar ainda mais, do ponto de vista negativo, a infraestrutura das universidades.

Texto e fotos: Fritz R. Nunes

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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