Docente da UFSM está no Chile e relata impressão sobre crise no país
Publicada em
23/10/19 17h11m
Atualizada em
23/10/19 17h39m
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População está nas ruas protestando e enfrenta repressão das forças de segurança
Há algumas semanas, o povo chileno tem saído às ruas. Os protestos iniciaram em função do reajuste na tarifa do metrô na capital, Santiago, mas acabaram contaminando a sociedade em função de problemas sociais que têm crescido no país há décadas. A partir da crise no transporte, diversos motivos levaram as pessoas às ruas para protestar, mesmo que o presidente tenha revogado o aumento da tarifa.
O docente da UFSM, Luiz Alberto Diaz Rodrigues, do departamento de Matemática, está na cidade de Talca para compromissos acadêmicos. Alguns desses, no entanto, foram cancelados em função do clima de revolta popular. Porém, a presença do professor oportunizou alguns relatos da situação à assessoria de imprensa da Sedufsm.
Rodrigues, que também é membro da Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), viajou para o Congresso da Sociedade Latinoamericana de Biologia Matemática. O professor fez alguns relatos sobre as manifestações via whatsapp. “As pessoas com as quais conversamos apoiam os protestos, embora alguns sejam contra a depredação de supermercados e prédios públicos. Dizem que a situação da população está insustentável. Aposentados recebem em torno de 150 dólares”, destacou.
O Congresso do qual Luiz participaria foi cancelado, assim como também têm sido canceladas diversas outras atividades pelo país em função do estado de emergência decretado pelo presidente. O professor também enviou à Sedufsm algumas fotos de manifestações na cidade de Talca, em que participam membros da comunidade de todas as idades. Nesta localidade, assim como em diversas outras, o governo impôs toque de recolher entre a noite a madrugada do dia seguinte.
O Chile é considerado, por muitos especialistas, o principal laboratório do neoliberalismo na América Latina. O país que viveu a sangrenta ditadura comandada pelo general Augusto Pinochet sofreu não apenas com a repressão do período, mas viu também diversas medidas neoliberais serem implementadas, que hoje refletem nas condições de vida do povo.
Entre os principais problemas do país que geram descontentamento na população estão o sistema previdenciário, que foi privatizado ainda nos anos 80 – e que se assemelha com a proposta que será implementada no Brasil a partir da agenda de Paulo Guedes -, a educação de baixa qualidade, o endividamento dos estudantes, a saúde pública precária, o alto custo de vida e a corrupção das elites. Todos esses elementos contribuíram para enfurecer a população, que há dias têm ido às ruas para protestar e sido violentamente reprimida pela polícia e exército.
Greve geral
Nestes dias 23 e 24 acontece uma greve geral convocada pelos principais sindicatos e movimentos sociais chilenos, com reivindicações que envolvem o fim do estado de emergência e o retorno dos militares aos quartéis.
Os protestos têm culminado em ações diretas por todo o país, com carros queimados e depredação de patrimônios públicos e privados. Em nota, as centrais sindicais alertam a população para que tenha cautela em não depredar bens públicos que não são utilizados pelas elites, e também questionam a suspeita ausência de vigilância e proteção policial nesses locais no momento em que ocorreram as depredações.
Na noite desta terça-feira (22), o presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciou uma série de medidas para tentar conter os protestos, além de ter pedido desculpas pelo que chamou de “falta de visão” dele e dos governos anteriores. Apesar disso, o presidente descartou retirar o estado de emergência.
Texto: Lucas Reinehr (estagiário de jornalismo)
Imagens: Arquivo pessoal professor Luiz Rodrigues
Edição: Fritz R. Nunes (jornalista da Sedufsm)