Economia verde e discurso da sustentabilidade são falsos, diz Osmarino SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 21/11/19 19h08m
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Seringueiro do Acre fechou o ciclo de debates da Sedufsm, no dia 19 de novembro

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Osmarino palestra ao lado da coordenadora do debate, professora Ana Paula Rovedder

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) conceitua que “economia verde” é uma “economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica”. Entretanto, para o líder seringueiro acreano, Osmarino Amâncio, “economia verde e o discurso da sustentabilidade são falsos. Não vai ser sustentável porque o que o grande capitalismo quer é aproveitar a sua matéria-prima.”

O antigo companheiro de Chico Mendes (assassinado em 1988), comenta que “percebemos ainda no começo que essa (economia verde) era uma proposta para colocar no mercado todos os bens naturais”. Osmarino, que também milita na CSP-Conlutas, analisa que o objetivo desse conceito que fala em uma economia mais ecológica tem o “propósito de entregar para laboratórios todo o conhecimento dos povos da floresta”.

O líder seringueiro esteve em Santa Maria, na terça, 19 de novembro, fechando o ciclo de debates dos 30 anos da Sedufsm, no Auditório Suze Scalcon. O tema “A voz da Amazônia” teve a mediação da professora Ana Paula Rovedder, do departamento de Ciências Florestais da UFSM. Ao ler um pouco sobre o currículo de Osmarino, Ana Paula acrescentou que o que constava era “muito humilde para a pessoa de Osmarino. É um senhor com uma alma de menino. Nos passa uma energia limpa, que contamina a todos”. No dia anterior (18), o militante dos povos das floresta esteve no campus de Frederico Westphalen, com a palestra de mesmo título, cuja mediação foi feita pelo professor Edison Cantarelli, do curso de Engenharia Florestal.

Marina Silva e o PT

O militante, que é também sindicalista, chamou o atual governo (Bolsonaro) de fascista, mas também criticou os governos da era petista (Lula e Dilma), especialmente Lula, que, segundo ele, voltou atrás em posições históricas a favor dos povos da Amazônia. Em relação à ex-senadora petista (hoje na Rede Sustentabilidade) e também ex-ministra do governo Lula: “Marina Silva, para garantir a logística do grande capital na Amazônia, criou a lei de concessão de florestas públicas, uma lei criada numa semana, e que nem tivemos tempo para analisar. Elas [empresas] pegam uma concessão por 40 anos. Durante 40 anos eles tiram todos os fundos que têm lá, toda a sua biodiversidade, vai fazer a biopirataria, tirar toda a madeira, e quando terminar, depois que acabarem com tudo, ainda podem refazer a concessão por mais 30 anos”.

Osmarino chamou Marina de traidora. “A Marina privatizou a Amazônia por 70 anos. Marina nunca comparecia aos debates. Ela sabia da traição. Foi uma pessoa que ia comigo para os ‘empates’. Tiramos a Bordon, maior frigorífico, de dentro da nossa floresta. E a Marina sai de lá [da floresta] e se adapta à legalidade do sistema, passando a entregar toda a nossa riqueza”.

Crítica às ONGs

Osmarino é um crítico assumido das Organizações Não Governamentais (ONGs). Ele ressalva algumas que realizariam trabalho importante, como é o caso da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Entretanto, no geral, ele sugere que as pessoas constatem in loco. “Eu gostaria que vocês pudessem fazer uma visita na reserva extrativista, porque não sabemos até que ponto vamos aguentar o comercial dessa sustentabilidade, que é vender todos os meios naturais. As ONG’s são uma forma de fazer um ‘entrismo’ no movimento sindical e estudantil por parte do imperialismo americano. Elas estão infiltradas nas comunidades e nos nossos empates”.

Os empates foram um conceito criado para explicar a resistência dos povos da floresta contra os que desejam explorar os recursos dessas áreas. “Se a gente vai pra mobilização, a gente conquista. Nós precisamos defender a floresta porque a floresta é a nossa forma de sobreviver”. O seringueiro é crítico do movimento evangélico, qualificado por ele como “conservador” e que deixa as pessoas “alienadas e acomodadas”. Osmarino relatou que chegou a receber um convite de uma igreja evangélica, para que andasse pelo Brasil pregando em favor dessa ala religiosa, com um salário bem razoável. Mas, ele, obviamente, recusou a oferta. Questionado se não queria ir para o céu, o militante respondeu de uma forma bem-humorada: “Tanto faz ir para o céu ou para o inferno. Terei amigo nos dois lugares”.

E as leis?

Osmarino Amâncio é um crítico do Estado, do “sistema” e do Direito. Para ele, “o Direito não vai salvar a floresta se a população não entrar em ação. Não adianta criar lei, porque o sistema capitalista não obedece as leis. As nossas instituições estão podres. Esse sistema não é viável para humanidade”, destacou ele.  “Há três meses mataram um filho meu. Claro que eu choro, só tinha um filho, foi um filho do coração, e eu sei que o sistema o eliminou. Como eu tenho que me vingar? Trabalhar contra esse sistema”, frisou o seringueiro.

Mudança de governo

Em Frederico Westphalen, na última segunda (18), Osmarino falou para uma turma de cerca de 30 alunos do professor Edison Cantarelli, do curso de Engenharia Florestal do campus da UFSM daquele munic ípio. No espaço para perguntas, ao ser questionado por um aluno se a mudança de governo resolveria a questão do desmatamento da Amazônia, o sindicalista afirmou que nada mudará sem a organização do povo morador da floresta ,com o auxílio das pessoas conscientes do resto do país, para que sejam criadas políticas de estado que protejam a natureza e  conscientizem a população.

Para Osmarino, “não há código penal que salve a Amazônia. De nada adianta criar leis, pois elas não são cumpridas nem suas punições aplicadas caso a população não exija. Ou vocês acham que o juiz vai lá no meio do mato ver que estão cortando árvores que correm risco de extinção?”

Acompanhe também, a íntegra da palestra em VÍDEO, logo a seguir. E, abaixo, em anexo, mais fotos das atividades.


 

Texto: Fritz R. Nunes com a colaboração de Ivan Lautert e Bruna Homrich

Fotos: Bruna Homrich e Ivan Lautert

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

 

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