Pesquisa que aponta presença de 50% de estudantes negros em universidades é questionada SVG: calendario Publicada em 29/11/19 18h20m
SVG: atualizacao Atualizada em 29/11/19 18h32m
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Docentes e militantes do movimento negro afirmam que dados do IBGE não se comprovam na prática

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Manifestação no campus da UFSM em Camobi, em março de 2018

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, que revela um aumento no número de matrículas de estudantes negros em universidades públicas para 50,3%. Entretanto, para alguns professores, militantes e estudantes do movimento negro, a pesquisa não reflete a realidade das instituições de ensino e deve ser melhor analisada. A assessoria de imprensa da Sedufsm ouviu algumas pessoas que possuem proximidade com a temática, seja por militância, seja pela pesquisa quanto ao assunto.

João Heitor Silva Macedo, professor dos cursos de Ciências Humanas, Ciência Política e Direito da Unipampa, além de militante do movimento negro, analisa que a pesquisa carece de um olhar mais profundo, pois o contexto real das universidades não reflete esses dados. “Eu penso que nós temos que ter muito cuidado com a análise desses dados. Eles saíram agora, recentemente, e eu acho que carecem ainda de um aferimento e de um olhar bem crítico sobre essa realidade. Como professor de Ensino Superior, no momento, eu não consigo ver essa visibilidade ainda. Penso que pode estar se pensando e organizando um golpe para retirar as cotas do Ensino Superior”, afirma João Heitor.

A professora Maria Rita Py Dutra, doutora em Educação pela UFSM, afirma que a pesquisa deve ser analisada para além do dado referente às matrículas no ensino superior, pois é necessário levar em conta também outros aspectos da população negra. “É preciso estar atento para o que diz o relatório do IBGE: ocorreram mudanças no perfil racial dos universitários, contudo, as desigualdades permanecem e até mais graves, basta examinar alguns indicadores sociais: o desemprego atinge 64,2% de negros e 35,8% de brancos. O rendimento de pretos e pardos é de R$ 1.608,00, enquanto que dos brancos é de R$ 2.796,00. Os cargos de chefia são ocupados por apenas 29,9% de negros, enquanto que entre brancos é de 70,1%. Na distribuição de renda, negros representam 75,2% dos mais pobres e apenas, 27,7% dos mais ricos”, assinala a professora.

Ações afirmativas, mas com política de permanência

Os dados que viraram notícia nas últimas semanas se referem ao número de matrículas, entretanto, o ingresso na universidade nem sempre garante que os estudantes consigam se formar. De acordo com Laura Schutz, coordenadora de Combate às Opressões do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFSM, as ações afirmativas são extremamente importantes, porém, devem ser acompanhadas de políticas de assistência estudantil. “As ações afirmativas foram importantíssimas para a população negra no geral, isso faz com que essas pessoas tenham a esperança de conquistar uma vaga na universidade, faz com que elas consigam entrar nesse local que lhes foi negado. Porém, não basta termos só as cotas, precisamos ter uma política de permanência nas universidades para que não se tenha uma grande porcentagem de evasão de pessoas negras”, reitera a estudante de Serviço Social.

A estudante de Direito e integrante do ‘Coletivo Dandaras de Mulheres Negras’, Janine Menezes, comenta a importância do ingresso de estudantes negros na universidades, que contribui para mudanças nas vidas desses jovens. “A entrada e permanência de jovens negros e negras mostra que podemos estar onde jamais acreditaram que poderíamos chegar e eliminar inúmeros estereótipos que jovens negros têm que enfrentar todos os dias”, afirma Janine.

Desigualdade com raízes históricas

Maria Rita, que estudou em seu doutorado o ingresso de estudantes cotistas na Universidade Federal de Santa Maria, fala ainda sobre a importância de políticas públicas para termos dados que hoje revelam mudanças no ensino superior. “A política de cotas raciais, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – Reuni, o Sistema de Seleção Unificada – SiSU, o financiamento estudantil,  FIES e o Programa Universidade para Todos – Prouni são responsáveis por esta mudança, lembrando que as desigualdades raciais no Brasil têm raízes históricas, e que precisam ser enfrentadas abrangendo em conjunto. Não se vence apenas com acesso ao ensino superior”, reforça a Maria Rita.

Em sua pesquisa de doutorado, a professora entrevistou jovens que ingressaram na UFSM através das ações afirmativas, que segundo ela, tiveram a possibilidade de um sonho realizado. “A maioria deles eram os primeiros indivíduos com diploma universitário de suas famílias”, ressalta a professora.

Para João Heitor, além das políticas de permanência, outra questão importante para a população negra na universidade é a formulação de um novo modelo de ensino, que tenha como de suas bases o ensino antirracista. “Hoje, em 2019, nós ainda continuamos encontrando no ensino superior uma postura epistemologicamente racista, a partir das posturas de educadores que estão no ensino superior, e isso só vai mudar quando nós moldarmos a forma de ensinar, uma forma que tem que se assumir antirracista”.

CAED: 20% de cotistas raciais na UFSM

De acordo com dados do livro “Promoção da aprendizagem e tecnologias educacionais: aprendizagem no ensino superior, acessibilidade e ações afirmativas”, desde 2007, com a implementação das cotas, a instituição contou com 15.352 estudantes cotistas, segundo dados do Núcleo de Ações Afirmativas – CAED. Atualmente, cerca de 4.072 estudantes da UFSM são cotistas raciais, o que representa cerca de 20% das matrículas na universidade – valor muito inferior ao apontado pela pesquisa do IBGE.

Texto: Lucas Reinehr (estagiário de jornalismo)

Fotos: Ivan Lautert; Dartanham Figueiredo (foto em p/b) e Arquivo/Sedufsm

Edição: Fritz R. Nunes

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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