‘Eu agradeço a vocês pela resistência’, diz Carpinejar a familiares de vítimas da Kiss
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28/01/20 17h48m
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Escritor participou de homenagens realizadas na segunda, 27, em alusão aos 7 anos da tragédia
“Eu não posso estar dentro da ferida de vocês. Mas garanto, estou ao lado”. Com essa afirmação, o cronista e jornalista Fabrício Carpinejar demonstrou a importância de se exercitar a empatia. Em se tratando de uma tragédia evitável de tamanha proporção, como a ocorrida na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, na boate Kiss, em Santa Maria, a capacidade de sentir e oferecer solidariedade à dor do outro assume caráter ainda mais central. Mesmo porque, como disse Carpinejar, nas condições em que funcionava a boate, a tragédia era só uma questão de tempo.
“A boate Kiss era uma máquina de matar. Se não tivesse sido no dia 27, seria dia 28, 29, 30. Mudariam as famílias, mas as covas continuariam ali. Esse é um problema da sociedade, não só dos familiares”, disse, elogiando o trabalho da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), que, em sua opinião, “colocou a dor para trabalhar, chamando a atenção para a lentidão da justiça e para a burocracia”.
A crítica à burocracia, inclusive, foi tônica de seu discurso realizada na noite da última segunda-feira, 27 de janeiro, a centenas de pessoas que se reuniam na Praça Saldanha Marinho a fim de prestar homenagens aos sete anos da tragédia que vitimou 242 jovens.
“A burocracia quer que as pessoas esqueçam o que ocorreu, troquem de assunto, larguem suas bandeiras, para que, quando chegue o julgamento, nós estejamos tão exauridos a ponto de dizer ‘tanto faz’. Nunca será tanto faz. Aquele passado ainda não acabou, porque só a justiça traz paz. Eu não sou daqui, mas desde 2013 minha palavra não sai de Santa Maria. Contem comigo”.
Janeiro branco
Kelen Ferreira, 26 anos, é sobrevivente da tragédia. Hoje ela é terapeuta ocupacional e tem desenvolvido, junto a outros sobreviventes da tragédia, familiares de vítimas e psicólogos, a campanha ‘janeiro branco’. O foco das ações é promover o debate sobre saúde mental, especialmente em diálogo com famílias que foram diretamente afetadas pela tragédia. “A ideia é que os sobreviventes relatem com foram seus processos”, explicou Kelen em roda de conversa na praça. Logo após sua fala foram exibidos vídeos com relatos de outros sobreviventes sobre como enfrentaram suas dores, lutos e traumas. Embora os auxílios tenham sido de diversas naturezas – desde os profissionalizados, como a terapia, até a fé em diferentes matrizes religiosas -, todos os relatos ressaltavam a importância de coletivizar a dor e a angústia.
CVV
Jorge Brandão, coordenador do Centro de Valorização da Vida (CVV), ponderou que “enquanto não houver justiça, muitos corações sofrerão”. O CVV esteve, desde o primeiro momento, prestando apoio às vítimas e familiares, e foi por influência da tragédia que a ONG recebeu um número (188) para o qual as pessoas podem ligar gratuitamente em busca de apoio psicológico. Antes disso, a ligação para o CVV tinha o custo de uma ligação normal.
Programação
As atividades desta segunda foram a segunda parte de uma programação que teve início na noite do domingo, 26, com homenagens e vigília em frente ao local da tragédia.
Texto e fotos: Bruna Homrich
Assessoria de Imprensa da Sedufsm