A pandemia em Santa Maria sob diferentes olhares SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 16/07/20 10h41m
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Live da FUTT trouxe opiniões diversas sobre o isolamento social

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Como vem se dando o isolamento social em Santa Maria? De que forma equacionar economia e saúde? Qual vem sendo o comportamento da população da cidade frente às medidas restritivas? Foram a essas perguntas que os debatedores da live ‘Os impactos da COVID-19 em Santa Maria’ tentaram responder na noite da última segunda-feira, 18 de maio. Organizada pela Frente Única de Trabalhadoras e Trabalhadores de Santa Maria (FUTT), o debate virtual teve as presenças do médico infectologista da UFSM, Fabio Lopes Pedro; da professora do departamento de Estatística da UFSM, Ângela Dullius; e da professora aposentada da UFSM e presidente do Conselho Municipal de Saúde, Marian Noal Moro.

Marian, que deu início ao debate, lembrou que, embora o isolamento seja essencial, é preciso garantir que pessoas em condição de vulnerabilidade social tenham o direito a ficarem protegidas. “Esse pedido [‘fica em casa’] traz dentro de si uma exclusão muito dura. E os que não têm moradia? E os que têm de trabalhar? E os trabalhadores da saúde na linha de frente muitas vezes sem os equipamentos necessários e isolados de suas próprias famílias? E as mães que estão tendo de trabalhar e não têm com quem deixar seus filhos? E as pessoas já debilitadas ou que fazem uso de medicações contínuas que não são encontradas nas farmácias municipais? A gente defende com todas as forças o isolamento, somos contra essa abertura que está acontecendo progressivamente, mas nos preocupamos muito com aqueles que têm problemas, com aqueles usuários do SUS que realmente necessitam de um atendimento bem melhor, com a violência contra a mulher que está muito grande nesse momento”, diz Marian, lembrando, também, da carga de sofrimento mental reservada àqueles e àquelas que vêm fazendo o necessário isolamento.

Para dar conta do enfrentamento à pandemia, a docente defende investimentos massivos em saúde. “Como Conselho Municipal de Saúde, estamos sempre lutando para que as coisas aconteçam. A gente defende o SUS e sempre defendeu, mas estamos tendo muitas dificuldades, por exemplo, essa Emenda Constitucional 95 (também conhecida como PEC da Morte, que aprovou teto de gastos para o serviço público e foi aprovada pelo governo Temer) já fez com que o SUS deixasse de receber 22 milhões e meio de reais em 2018. Isso é preocupante”, reflete a presidente do Conselho Municipal de Saúde, também integrante do conselho de representantes da Sedufsm. Marian ainda ressalta que, para além dos casos de infecção pelo novo coronavírus, Santa Maria ainda vem enfrentando surtos de dengue e zika, além de casos de sarampo.

“No combate à COVID-19, apenas 11% do orçamento da União vem sendo aplicado no SUS. A atenção primária, que faz a prevenção e o controle da disseminação, também é prejudicada”, diz.

Falsa dicotomia

Para Marian, a dicotomia economia versus saúde é falsa. “Entre o direito fundamental à vida e o lucro, com quem ficamos? O lucro pode ser reajustado, pode ser reinventado posteriormente, mas a vida quando foi, foi. O Brasil já passou por tantos problemas, como a gripe espanhola, e se refez depois daquilo, mas acontece que as pessoas que foram, foram”.

Quem também compartilhou dessa avaliação foi a docente do departamento de Estatística da UFSM e integrante do Observatório de Dados da COVID/UFSM, Ângela Dullius.

“Trabalhamos com números, mas esses números são pessoas, e uma pessoa faz a diferença. Imagina se essa pessoa que foi a óbito era chefe de uma família, se era mãe e deixou uma criança. É família, é pessoa”, disse a docente, frisando que, se a letalidade em Santa Maria não está alta, isso se deve às medidas de isolamento adotadas a partir de 20 de março, e também à paralisação das aulas presenciais na UFSM, que agrega estudantes das mais diversas partes do país.

“Só eu, por exemplo, tenho alunos de Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo, Nordeste. A gente não sabe quem está infectado e quem não. Não é momento de reabrir escolas e universidades. Isso causa impacto econômico sim, mas o impacto de perdas de vidas é muito maior”, opina Ângela. Ela conta que tem saído de casa apenas para ir ao mercado, à farmácia ou a médicos. Ainda assim, quando sai, assusta-se com as aglomerações de pessoas – muitas vezes sem máscaras. “Talvez essas pessoas não tenham conhecimento do impacto que uma morte pode causar, pois não aconteceu na família delas. Não precisam morrer milhões para vermos que algo é ruim. Eu na odontologia brigo por um dente, pois entendo que não se trata de um dente, mas de uma pessoa. E essa pessoa é insubstituível”, diz Ângela.

Economia e saúde indissociáveis

Diferente das demais participantes da ‘live’ promovida pela FUTT, o professor da UFSM e médico infectologista do Hospital Universitário (Husm), Fábio Pedro, é mais otimista quanto aos efeitos da pandemia de Coronavírus. Para ele, o vírus “não é esse monstro que se imaginava” e, o argumento principal usado por ele para defender as medidas de flexibilização em Santa Maria, é o fato de que o número de casos graves em Santa Maria estaria sob controle, gerando um baixo índice de ocupação nos leitos destinados a pacientes com a Covid-19, e baixa ocupação das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva).

Conforme o médico, que atua no tratamento de pacientes com coronavírus no Husm e que afirma que foi o primeiro profissional a trabalhar com a questão da pandemia na cidade (22 de janeiro de 2020), a taxa de letalidade em Santa Maria é muito baixa. Conforme o cálculo do médico, considerando que há subnotificação de casos, Santa Maria possui hoje não apenas cerca de 100 infectados (que são os confirmados, que foram submetidos ao teste molecular), mas em torno de mil, com um total de dois óbitos, o que respaldaria o argumento de que o município tem a situação sob controle e que, portanto, pode ampliar medidas de flexibilização. O infectologista frisou várias vezes, que entende que não há como dissociar saúde de economia. Para ele, manter tudo fechado durante muito tempo impactaria gravemente a economia da cidade, sem que isso fosse necessário.

A situação vista como positiva por parte dele tem como explicação o fato de Santa Maria ter se preparado para enfrentar a pandemia. Antes da mobilização da comunidade santa-mariense, disse ele, o município tinha uma das piores relações de leitos e leitos UTI em comparação à densidade populacional. Graças a esse processo de organização que se antecipou à disseminação do coronavírus, os avanços foram obtidos, segundo ele. Se antes, a cidade tinha “zero leitos” para pacientes que necessitavam de UTI, hoje alcançou, seja pelo Husm ou por outras instituições, o número de mais de 100 leitos de enfermaria para tratamento de pacientes com a Covid-19 e mais 45 leitos de UTI. O crescimento do número de registros de infectados também tem relação com a ampliação do número de testes.

O que ficará após a COVID-19?

O questionamento é de Marian. Ela diz que necessariamente não seremos os mesmos. “Teremos de nos reiventar, descobrir o que é principal dentro da vida e o que devemos fazer para o bem do outro”, afirma, torcendo para que a solidariedade tão vista neste período prossiga também em outros momentos, bem como o auxílio do governo aos desassistidos. “Os 600 reais são por três meses, mas e depois disso?”.

Ângela lembra a importância de mantermos o cuidado: quem puder, fique em casa. Quem tiver de sair, use máscara, lave as mãos, mantenha distanciamento e evite tocar superfícies. Neste momento, o autocuidado também representa o cuidado ao próximo, afirma a docente.

Quem não pode acompanhar o debate ao vivo, pode acessá-lo na íntegra aqui: 

Texto: Bruna Homrich e Fritz Nunes

Imagem: Print Facebook

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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