Dica cultural: Eliana Sturza recomenda livro do gaúcho Aldyr Schlee
Publicada em
28/08/20 09h27m
Atualizada em
29/08/20 19h24m
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Docente das Letras resume os encantos com as histórias fronteiriças de ‘O outro lado, noveleta pueblera’
Sextou na quarentena! Esta semana, a dica cultural fica por conta da professora Eliana Rosa Sturza, integrante do departamento Letras Estrangeiras Modernas do Centro de Artes e Letras (CAL/UFSM). Em sua resenha, apontamentos sobre os encantos encontrados na última obra do jornalista, desenhista e escritor, Aldyr Garcia Schlee: ‘O outro lado, noveleta pueblera’. No livro, publicado pouco tempo antes do “encantamento” do autor, as experiências sociais de um personagem que, assim como Schlee, conhece com profundidade as nuances sociais e as idiossincrasias dos povos que habitam as fronteiras, delimitadas por tratados legais, mas com uma cultura que não respeita marcos geográficos. Dentre os muitos fatos sobre a vida do escritor que recebeu até o prêmio Esso de jornalismo, um detalhe chama a atenção: ele foi o autor do desenho que deu origem à camisa canarinho da Seleção Brasileira. Uma boa leitura em memória desse baita escritor e defensor das causas justas.
“A obra O Outro lado, noveleta pueblera, de Alcyr Garcia Schlee chegou até mim como um presente de uma colega, professora da UNIPAMPA, do Campus de Jaguarão. Sabedora do meu interesse e fascínio pela fronteira me possibilitou, pela narrativa da obra de Aldyr Schlee, aprofundar minhas impressões sobre o modo de viver e habitar a fronteira, especialmente a fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Essas fronteiras do Pampa e do gaúcho, que tanto está presente da obra do autor, aparecem como zonas tênues que se alargam para muito além dos limites geográficos.
A obra de Aldyr Schlee transborda este modo de vida fronteiriço, entre duas nações, entre duas línguas, por muitas vezes línguas mescladas. Nesta noveleta pueblera, publicada pouco antes da morte de Schlee, o personagem fronteiriço é um gaúcho payador que vive cruzando as fronteiras do Brasil com o Uruguai. Brasileiro que se move para O Outro Lado, e vai vivendo de trabalhos temporários no Uruguai, lugar onde canta suas milongas e vive seus amores.
A narrativa que toma a perspectiva do gaúcho payador revela também a pobreza dos lugarejos por onde anda, as misérias da alma, os negócios clandestinos e modo de vida que só é possível em uma fronteira desterritorializada. O Outro Lado, embora suscite a ideia do diferente, de oposto, Schlee apresenta como complementaridade, como um universo possível de travessias cotidianas, de dinâmicas que imprimem identidade a fronteira”.
Eliana Rosa Sturza - Professora Associada do Departamento Letras Estrangeiras Modernas
Coordenadora Programa Pós-Graduação em Letras
Edição: Fritz R. Nunes
Imagens: Divulgação e Aquivo pessoal