Ansiedade, dores lombares e cansaço visual: as implicações do trabalho remoto SVG: calendario Publicada em 07/10/20 14h13m
SVG: atualizacao Atualizada em 07/10/20 14h41m
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Live promovida pelo projeto Covid-Psiq discutiu consequências do uso excessivo da internet

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O trabalho remoto tem sido, de forma geral, uma realidade na vida dos docentes da UFSM desde março, quando a universidade instituiu o Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE). Ocorre que, com a suspensão temporária da presencialidade, as atividades de trabalho passaram a ser desenvolvidas dentro dos ambientes domésticos, projetados, em sua maioria, para acolher momentos de lazer e descanso. Disso decorrem uma série problemas, que vão do âmbito psíquico ao físico. Sem a socialização, os momentos de abstração da rotina laboral também são vivenciados dentro de casa, especialmente em frente a tecnologias digitais.

Para abordar esse assunto o projeto Covid-Psiq, coordenado pelo professor do departamento de Neuropsiquiatria da UFSM, Vitor Calegaro, promoveu, na última terça-feira, 6, a live “Dependência de internet em tempos de pandemia”.

Daniel Spritzer, psiquiatra da infância e adolescência pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre e coordenador do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas, explica que, de fato, as pessoas estão utilizando mais as plataformas digitais durante a pandemia. Contudo, não é a quantidade de tempo passado em frente a telas ou no manuseio de aplicativos que sinaliza um problema. Os aspectos definidores de um diagnóstico de dependência em internet são mais qualitativos, podendo ser sintetizados em três pontos: perda de controle, priorização da internet em relação a outras tarefas da vida – desde trabalhar até dormir, por exemplo -, e prejuízos em decorrência de tal uso excessivo.

“A pessoa não consegue começar a usar as redes no horário que ela tinha determinado para isso, nem parar de usar no horário também por ela (ou pela família) estabelecido. Esse uso passa a ser a grande prioridade na vida da pessoa, que passa a deixar de lado outros interesses e atividades como dormir, estudar e trabalhar. E, além isso, para a gente falar de um transtorno emocional [relativo à dependência de internet], temos que ter bem identificada a presença de prejuízo decorrente desse comportamento, que passa a ser mais prioritário e fugir do controle”, explica o Spritzer.

O desenvolvimento de uma relação de dependência com as redes depende, segundo o médico psiquiatra, de três fatores: o ambiente externo (aqui compreendido como o ambiente social mais amplo, mas também como o ambiente familiar); as vulnerabilidades pessoais (características do indivíduo que podem torná-lo mais suscetível a esse tipo de problema); os elementos da própria tecnologia que favorecem esse uso mais intenso.

Durante a pandemia, vários desses fatores vêm sendo rearranjados. O isolamento social leva a que as pessoas não desenvolvam mais suas atividades fora de casa [aquelas que estão em home office], o que gera perda da rotina [especialmente para crianças] e desgastes familiares [quando vários membros da família moram na mesma residência e estão cumprindo o isolamento].

“Temos um aumento muito grande de sintomas depressivos e ansiosos em função de todas as incertezas e sobrecargas desse período. Temos toda uma situação que realmente favorece um uso mais intenso e excessivo das redes sociais”, completa Spritzer.

Problemas posturais

O uso intenso da internet durante a pandemia tem consequências também na questão postural. Leonardo Guterres é médico ortopedista e traumatologista, especialista em Ombro e Cotovelo (IOT Passo Fundo) e professor da UFN. Durante a live, ele frisou que o aumento do número de horas passadas na frente de telas – sejam elas computadores, celulares, televisões ou tablets – tem se mostrado bastante nocivo ao nosso corpo, gerando aumento da demanda em seu consultório. As patologias causadas pelo uso excessivo das telas, aliadas a atividades de digitação, por exemplo, já eram uma realidade antes da pandemia. Agora, com o aumento do tempo vivido em casa e com a transposição do ambiente de trabalho para o ambiente doméstico, tais problemas têm se agravado.  

“Houve aumento bastante expressivo de queixas relacionadas às famosas lesões por esforço repetitivo. Pessoas que digitam muito, mexem muito em celular, têm desenvolvido tendinite e bursite. As pessoas também têm ficado muito sentadas. Diferentemente do ambiente de trabalho, onde as pessoas circulavam mais, em casa elas trabalham sentadas e, quando buscam o lazer para fazer uma pausa no trabalho, também ficam sentadas na frente da televisão, por exemplo. Isso tem causado bastante problemas ortopédicos”, comenta Guterres.

Em seu consultório, ele tem recebido cada vez mais visitas de jovens, que supostamente não deveriam apresentar problemas de coluna, relatando dores nas costas ou em outros locais. Algumas dicas que ele dá para evitar esse tipo de problema são: a tela do dispositivo a ser utilizado deve estar de 50 a 70 centímetros distante dos olhos; e de 15 a 30 graus para baixo, no campo reto visual, a fim de que a coluna cervical permaneça em uma curvatura correta e não hiperextendida ou hiperflexionada, pois esta má postura é a responsável pelas tensões musculares. Da mesma forma, a cadeira correta para o exercício das atividades de trabalho é aquela que acomode toda a curvatura das costas, possibilite que ambos os pés sejam apoiados inteiramente no chão e cujo acento não encoste na parte posterior do joelho, pois assim se garante a circulação adequada do sangue nas pernas.

“As pessoas trouxeram o trabalho para dentro de casa, mas dentro de casa não temos o ambiente para o trabalho, temos um ambiente para o lazer e descanso. São vários ajustes que têm de seres feitos para que o ambiente de trabalho não cause patologias ortopédicas”, salienta.  

Problemas oftalmológicos

Outro tipo de consequência do uso excessivo de internet e dispositivos tecnológicos é percebida na parte oftalmológica. Alvaro Rossi, médico oftalmologista e docente da UFSM e UFN, relata que vem aumentando o número de pais que levam seus filhos ao consultório com relatos de dores ou desconfortos nos olhos.

Ele explica que a “síndrome da visão do computador” é antiga e remete à geração y – nascida após os anos 80 e até o final do milênio. “Essa geração toda está sempre com computador, smartphone, tablet, televisão. Isso aumentou muito mais agora com a pandemia, em que ninguém vai para a rua, brinca ao ar livre. Tem muito pai chegando com criança com queixas. Geralmente essas crianças não têm nenhum problema visual. Geralmente é o excesso do uso do computador”, relata.

Rossi explica que a síndrome do cansaço visual gera sensação de olho seco e cansado. Muitas vezes, as pessoas apresentam graus tão mínimos de hipermetropia ou astigmatismo que não necessitam de usar óculos. Contudo, a partir do uso excessivo de telas, acaba surgindo tal necessidade.

A indicação do oftalmo é que as pessoas cujas rotinas de trabalho exigem muito tempo em frente ao computador tenham um óculos para ser usado somente em frente ao dispositivo.

Adoecimento docente

Cabe lembrar que, desde o início da pandemia, 42 docentes da UFSM solicitaram afastamento de suas atividades em decorrência de problemas de saúde. Segundo dados fornecidos pela Coordenação do Serviço de Perícia Oficial em Saúde da instituição, as doenças mentais e comportamentais lideram as causas de afastamento. Leia mais aqui.

Quem não assistiu à live do Covid-Psiq, pode vê-la aqui: 

 

Texto e print: Bruna Homrich

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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