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Sérgio Prieb diz que é preciso recuperar movimento sindical ofensivo e classista

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Segundo levantamento do Dieese, nove em cada dez greves realizadas no primeiro semestre de 2020, no Brasil, foram motivadas por pautas de caráter defensivo, ou seja, por aquelas que buscavam a manutenção de direitos já adquiridos. Ao todo, nos primeiros seis meses deste ano, foram registradas 355 greves, das quais 195 ocorreram na iniciativa privada e 160 na esfera pública.

Ao analisar estes dados, o docente do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM, Sérgio Prieb, comenta que o movimento sindical brasileiro vem passando por uma série de golpes nas últimas décadas, de forma que a predominância do caráter defensivo de suas manifestações possa ser explicada a partir de uma análise que antecede o próprio período Bolsonaro.

Ele lembra que, desde os governos de Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o sindicalismo buscava, através das greves, garantir e ampliar os direitos adquiridos na Constituição de 1988. Já naquela época, algumas categorias como a dos bancários, relembra Prieb, passava por processos de enxugamento de pessoal, ampliação do trabalho terceirizado, dos vínculos de trabalho por tempo parcial ou limitado e das falsas cooperativas de trabalho.

Findada a década de 1990, ascendem ao poder os governos social democratas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com isso, na avaliação do professor, o sindicalismo brasileiro sofre uma retração, pois “antigos grevistas passam a defender novas formas de luta para não enfraquecer o governo, especialmente no serviço público. Poderia ter sido o momento propício para a politização das massas trabalhadoras e do avanço do sindicalismo classista, mas infelizmente não foi assim”, opina Prieb, para quem tais governos melhoraram a situação de milhões de famílias brasileiras, mas não ofereceram uma alternativa de superação do capitalismo.

De 2016 pra cá

Frente ao que caracteriza como um golpe, Prieb diz que a situação do sindicalismo brasileiro vem piorando desde a chegada de Michel Temer ao poder e, principalmente, a partir do governo de Jair Bolsonaro. De um estado inerte, o docente diz que os sindicatos passaram a um estado de retrocesso.

“Este retrocesso pode ser representado na postura dos sindicatos na conjuntura trágica em que soma-se a pandemia, a crise econômica, e, principalmente, a política econômica visando favorecer o grande capital, o que combina com a derrubada dos últimos direitos sociais que os trabalhadores ainda mantinham a duras penas. O atual governo constrói um Estado fascista, de subserviência ao capital especialmente norte-americano, de total desprezo às nossas riquezas naturais que são oferecidas aos “irmãos do norte”, como negócio de ocasião, queima nossas florestas em benefício do agronegócio e transforma o nosso país em uma colônia norte-americana”, comenta Prieb, e acrescenta: “tendo [os trabalhadores] sido pouco ativos nos últimos anos, encontram-se enfraquecidos quando o momento mais necessita de uma ação efetiva no embate com o governo Bolsonaro-Mourão”.

Dentre as motivações de greve do primeiro semestre estiveram, como principais, as reivindicações relacionadas ao pagamento de salários em atraso, décimo-terceiro e férias, representando 37% das causas. Embora 73% das greves tenham logrado algum tipo de êxito em suas pautas, Prieb lembra que nenhuma delas teve espaço para pautar demandas históricas como redução da jornada de trabalho, reajuste salarial acima da inflação ou maior participação nas decisões das empresas.

No setor privado, conforme o levantamento do Dieese, a maior parte das paralisações ocorreu dentre os trabalhadores do transporte (87 vezes), do setor de Turismo e Hospitalidade (32 vezes) e da educação (10 vezes). Já na indústria, a categoria de metalúrgicos foi a que mais acumulou greves, somando 25 nos primeiros seis meses do ano.

Prieb acrescentou um novo dado: 60% dessas greves encerraram-se no mesmo dia em que foram deflagradas. Outro apontamento feito pelo docente, e que é mais um elemento que ajuda a explicar o atual cenário, é a diminuição no número de trabalhadores sindicalizados nos últimos anos. Segundo o IBGE, entre 2018 e 2019, o número de trabalhadores não sindicalizados aumentou em quase um milhão.

Crise e pandemia

Mais alguns dados apontam o tamanho da crise que não espera sequer a pandemia passar para mostrar seus efeitos mais perversos. Prieb, citando dados recentes do IBGE e do IPEA, diz que o Brasil soma atualmente 10,3 milhões de famintos; 13 milhões de desempregados; 107 milhões de pessoas [mais da metade da população] vivem numa residência em que pelo menos algum membro recebe auxílio emergencial; 4,25 milhões de famílias sobreviveram no mês de agosto somente com a renda do auxílio emergencial, até então de R$ 600,00. 

Durante a pandemia houve uma pressão muito grande por parte do empresariado e dos governos que os representam para que a parca quarentena fosse encerrada e as atividades econômicas voltassem, rapidamente, àquilo que se forjou como normal. Isso, para Prieb, demonstrou que “o capital não é ninguém sem o trabalho”.

Nesse contexto, algumas categorias que antes eram bastante invisibilizadas começaram a ganhar importância, a exemplo dos entregadores de aplicativos, que, desde o início da pandemia, já protagonizaram duas greves nacionais.

“São esses os trabalhadores que arriscam-se por migalhas, muitas vezes carregam alimentos para outros mesmo sem acesso a uma alimentação adequada, sem sequer em muitos casos poder utilizar os banheiros das empresas em que prestam serviços, além disso, e, principalmente, sem qualquer direito trabalhista. O fato novo na pandemia é que esboçou-se uma organização entre esses trabalhadores, mas muito ainda há de ser feito para efetivamente organizar as categorias dos entregadores”, avalia o docente e economista.

Tarefas

Se antes da pandemia os desafios que se colocavam para a classe trabalhadora brasileira eram expressivos, agora são gigantes. Prieb lembra que nos últimos anos tem ganhado espaço um discurso vociferado pelo grande capital, com o apoio da mídia hegemônica e do que ele chama de ‘falsa esquerda’, acerca da perda da centralidade do trabalho e, por consequência, dos sindicatos classistas e dos partidos operários comunistas. Agora, segundo esse discurso, seria o momento de forjar novas formas organizativas que estejam em consonância com o século XXI.

“Esse discurso impacta boa parte dos próprios trabalhadores, fazendo com que muitos vejam a manutenção de seus empregos como “dádivas” do capital, sendo que os empregados teriam de submeter-se às condições mais diversas de exploração do trabalho, seja com retirada de direitos, salários defasados, perseguição aos sindicatos, entre outras tantas formas de ampliação dos lucros em cima do trabalho assalariado”, elucida Prieb. Aqui, cabe lembrar de uma frase de Bolsonaro: os trabalhadores terão de escolher entre ter emprego ou ter direitos.

Aliado, e talvez em decorrência disso, o docente também aponta uma mudança na correlação de forças da luta de classes nas últimas décadas. Mudança advinda de motivos diversos, com a crise do socialismo real, a predominância do ideário neoliberal, os novos padrões de organização produtiva nas fábricas, a ampliação do desemprego e a aceleração das privatizações, a financeirização da economia e as muitas crises em decorrência disso.

Frente a isso tudo, Prieb acredita que é urgente os trabalhadores assumirem seu papel histórico no embate contra o capital e seus representantes, o governo Bolsonaro-Mourão, construindo um sindicalismo ofensivo e classista.

“Por fim, a lição que fica e esperamos que não seja esquecida, é que não pode haver conciliação entre capital e trabalho, são dois opostos, em que um nutre-se do outro, assim, é impossível ambos ganharem, isso Karl Marx já escreveu nas páginas de “O Capital” em 1867. Assim, aprendamos com a história: “é possível o trabalho viver sem o capital; mas é impossível o capital sobreviver sem o trabalho”.  Trabalhadores, uni-vos!

 

Texto: Bruna Homrich

Imagem: EBC

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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