Dica cultural: professora destaca a obra ‘O conto da Aia’
Publicada em
18/12/20 11h44m
Atualizada em
18/12/20 12h09m
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Andrea Cezne sintetiza as qualidades do livro que originou a série de sucesso
Sextou na quarentena! A dica cutural desta sexta, 18, é da professora do Departamento de Direito da UFSM, Andrea Nárriman Cezne. A sugestão de “O conto da Aia” pode ser uma boa opção para os feriados de final de ano. O acesso à história pode se dar através do livro ou da série (The Handmaid’s Tale”), que já teve três temporadas no ar, com a quarta temporada tendo interrupções nas gravações devido à pandemia. A série pode ser vista em várias plataformas de streaming ou mesmo pelo canal Paramount nas tvs por assinatura. Em tempos de extremismos (políticos, culturais, religiosos), tanto o livro como a série podem nos levar a importantes reflexões. Acompanhe o texto da professora.
“O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale) é um romance distópico, escrito pela canadense Margaret Atwood e lançado em 1985. Em 2017, foi lançada uma série premiada produzida pelo serviço de streaming ‘Hulu’ baseada no livro. O impresso é inspirado em fatos históricos reais, e aborda temas como os direitos das mulheres e papéis impostos a elas pela sociedade, a intervenção estatal sobre direitos reprodutivos, a religião e suas relações com a política, e o fundamentalismo religioso.
Embora ambientado em um fictício estado autoritário implementado sobre o que anteriormente eram os EUA, percebe-se vários elementos presentes no mundo atual. A história é ambientada na República de Gillead, um governo ditatorial e fundamentalista cristão. É implementado após um golpe de Estado, com o assassinato do Presidente e da maior parte do Congresso por um grupo fundamentalista cristão denominado Filhos de Jacó. A partir daí, a Constituição é suspensa, os jornais são censurados e vários direitos são restritos, afetando em especial as mulheres.
A sociedade é reorganizada em uma estrutura baseada em uma leitura restritiva e fanática do Velho Testamentos. As mulheres são proibidas de ler e escrever, perdem o direito à propriedade privada, não podem ter recursos financeiros próprios e são impossibilitadas de trabalhar fora do ambiente doméstico. A sociedade é dividida em categorias, com funções determinadas pelo Estado. Isso é demonstrado pela cor das vestimentas. As Esposas dos Comandantes de Gillead estão no topo da hierarquia e usam roupas azuis.
As Tias que usam marrom são as treinadoras das Aias, policiando e punindo as que contrariarem as ordens ou desafiarem o treinamento dado. Abaixo se encontram as Aias, mulheres férteis solteiras, divorciadas ou cujo casamento foi anulado. Numa sociedade em uma crise de infertilidade, as Aias são treinadas só para gerar filhos para os Comandantes e suas esposas, com função de servir ao Estado através da reprodução. As Aias perdem o direito de usar seus nomes, passando a ser designadas pelo Comandante a que pertencem. O romance trata da história de uma dessas Aias, chamada de Offred (“De Fred”).
A narrativa intercala momentos de sua rotina como Aia, e as lembranças de sua vida anterior à Gillead, a convivência com seu marido e filha, a perda de sua autonomia a partir da retirada de direitos e a tentativa frustrada de fuga para o Canadá, na qual ela e a filha são capturadas pelo regime e seu marido tem um destino desconhecido. Como Aia, o papel de Offred seria somente o de se submeter mensalmente à Cerimônia, um estupro ritualizado com participação do Comandante e de sua Esposa. Todavia, Offred é solicitada pelo Comandante fora da Cerimônia, violando uma das regras estabelecidas pelo Regime de Gillead para a relação entre a Aia e o Comandante. Ao mesmo tempo, a Esposa do Comandante Serena Joy propõe a Offred que tenha relações sexuais com o motorista da família, Nick, para que ela possa efetivamente ter um filho. Offred acaba se apaixonando por Nick e ficando grávida dele.”
Andrea Cezne
Professora do departamento de Direito da UFSM.
Edição: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm