Abrir leitos não é combate à pandemia, diz professor da UFRGS SVG: calendario Publicada em 30/12/20 12h13m
SVG: atualizacao Atualizada em 30/12/20 12h15m
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Alexandre Zavascki avalia que crítica do empresariado ao isolamento social é visão imediatista

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Zavascki: abrir novos leitos é apenas redução de danos, pois não afeta a evolução da pandemia

O professor de Medicina da UFRGS, área de Infectologia, Alexandre Prehn Zavascki, tem sido uma personalidade bastante presente não apenas em entrevistas sobre a pandemia de Covid-19 em veículos de comunicação, como também em manifestações em redes sociais, como por exemplo, através do twitter. Zavascki tem visão crítica ao fato de que os governos, especialmente os estaduais, diante do que ele considera “abandono” por parte do governo federal na questão da pandemia, resolveram se limitar a combater as consequências e não atualizar seus planos para evitar a disseminação rápida da doença.

Na visão do médico, que também é chefe do Serviço de Infectologia e Controle de Infecção do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, ampliar leitos não é uma política de combate à pandemia- se resume a uma medida de redução de danos, mas que em nada afeta a evolução da doença. E esse tipo de ação dos governos acabou sendo o que restou, tendo em vista que, diante da pressão econômica, as medidas de restrição das atividades para evitar a disseminação do vírus acabaram sendo cada vez mais flexibilizadas. Para Zavascki, os empresários foram “imediatistas” e não perceberam que uma pandemia descontrolada vai causar, no longo prazo, mais prejuízo à economia do que o fechamento temporário de alguns setores.

Ao responder sobre a questão do plano de vacinação do governo federal, o professor analisa como ainda “frágil” e “pouco concreto”. Apesar disso e de estarmos (o país) no “final da fila” para o início da vacinação, essa é a única resposta efetiva à pandemia, e Zavascki torce para que o governo federal e os estaduais se organizem para que esse processo possa iniciar o mais breve possível.

Confira a íntegra da entrevista do professor Alexandre Zavascki, concedida via whatsapp, em meio ao período conturbado de final de ano.

Pergunta- As últimas semanas têm se caracterizado por aumento de casos de Covid, superlotação de hospitais, mas, contraditoriamente, com flexibilização das medidas restritivas por parte dos governos (estadual e municipais). Como o sr. avalia essa contradição? Governos cederam à pressão econômica?

Resposta- Os governantes, sejam eles governadores ou prefeitos, diante do abandono do governo federal na questão da pandemia, tentaram, inicialmente, fazer algum tipo de controle para evitar a disseminação do vírus da Covid-19. Entretanto, em função do abandono federal, acabaram abrindo mão da ideia de fazer um controle da doença, e passaram a lidar apenas com as consequências. A Covid é uma doença que é um problema da comunidade, da sociedade, pois o seu crescimento ou diminuição, ocorre a partir do comportamento da sociedade. As internações hospitalares acabam sendo uma consequência do não controle da sociedade diante da pandemia. A opção dos governos foi de aumentar leitos, mas isso não modifica em nada a epidemia. Apenas faz com que os doentes em estado grave possam ser atendidos. Claro que esse atendimento é necessário, mas, como foi o caso de alguns países que conseguiram evitar uma disseminação muito rápida da doença, as ações deveriam ser no sentido de controlar a disseminação da Covid na comunidade. Era necessário o governo manter um plano, atualizar esse plano na medida em que o conhecimento sobre a doença fosse avançando. Infelizmente, no caso do RS, o governo foi bem pouco ativo no sentido de se atualizar, aprimorar o modelo, buscar soluções criativas. Acredito que provavelmente o governo tenha cedido à pressão econômica. Lamentavelmente, não tivemos um setor empresarial com visão lúcida. Foram todos imediatistas e não perceberam que a pandemia descontrolada, no longo prazo, vai gerar um efeito muito danoso à economia. E o governo, que inicialmente fez um discurso em favor da vida, foi desmentido por suas próprias ações.

Pergunta- Alguns setores acabam usando muito a antítese de que medidas de isolamento social, fechamento temporários de setores não essenciais, destroem a economia. O sr. acha razoável esse discurso?

Resposta- É claro que, no momento em que se pratica o distanciamento social, que se aplicam medidas restritivas no comércio, na indústria, há efeitos negativos na economia. Porém, uma pandemia descontrolada vai causar um impacto econômico muito maior no médio e longo prazo. Claro que nós não teríamos condições de controlar a doença como fizeram países da Oceania, ou em algumas regiões da Ásia, mas poderíamos ter tido a transmissão da Covid em níveis bem mais baixos, o que daria um ambiente de mais segurança às pessoas. É importante ressaltar que o adoecimento do trabalhador vai gerar prejuízo à economia. Hoje, temos pessoas que são responsáveis pelo sustento de uma família inteira e que acabam falecendo. E isso gerará um impacto econômico e social mais adiante em função das milhares de mortes resultantes da contaminação pela doença. Infelizmente, as empresas não tiveram um olhar mais de longo prazo.

Pergunta- Um discurso bastante comum em redes sociais é de que, já que os hospitais superlotam, que os governos precisam abrir novos leitos. Isso e suficiente?

Resposta- Abrir leitos não é combater a pandemia. É redução de danos, pois não tem efeito na evolução da pandemia. O segundo ponto que as pessoas não se dão conta é de que não bastam novos leitos. O leito não funciona sozinho, ele precisa de profissionais para acompanhar o paciente, especialmente nas UTIs. E os profissionais não estão disponíveis a qualquer momento. Ou seja, são recursos humanos, e, por isso, são finitos. E, ainda, o que as pessoas parecem desconhecer é que a garantia de leito livre não significa garantia de sobrevivência e nem é garantia de ausência de sequelas mesmo sobrevivendo à Covid. Se usou muito o argumento de que leitos representam a ‘salvação”, mas isso é um equívoco.

Pergunta- O que esperar do chamado plano de imunização do governo federal?

Resposta- O que foi apresentado até agora ainda é muito frágil, pouco concreto, em termos de datas e de números. A gente já está no final da fila para o início da vacinação. Só espero que mesmo estando no final da fila, é que através das ações, sejam do governo federal e dos estaduais, consigamos vacinar as pessoas no mais breve espaço de tempo.

Pergunta- A vacinação resolve todos os nossos problemas (do país), que não faz testagem em massa, por exemplo?

Resposta- Vacinar é a solução para sairmos da crise atual. Ainda mais no Brasil que não tem uma cultura, nem uma capacidade de mudança de comportamento. Não temos um empresariado com uma visão mais ampla. Por isso, nós precisamos da vacinação de grande parte da população para diminuir a circulação e consequente contágio pelo vírus. A testagem em massa sempre foi uma medida importante para termos com precisão quantas pessoas estão infectadas e não trabalharmos sempre com subestimativas, mas, uma ação que nunca se conseguiu efetivar.

Pergunta- O que podemos esperar para 2021 em relação à pandemia? 

Resposta- Eu espero que sigamos ainda com muitas flutuações da doença. Gostaria de estar enganado, mas não vejo que possam ocorrer muitas intervenções dos governos para evitar a rápida circulação do vírus. Sendo assim, todas as esperanças devem ser depositadas na vacinação ampla da população.

 

Texto (entrevista e edição): Fritz R. Nunes

Fotos: Vanessa Schultz e arquivo pessoal/facebook

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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