“O vírus não é responsável pela direção e pelos resultados da política econômica” SVG: calendario Publicada em 22/03/21 17h08m
SVG: atualizacao Atualizada em 22/03/21 17h12m
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Sociólogo e docente da Unesp, Giovanni Alves é o entrevistado da nova edição do Ponto de Pauta

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No decorrer de 2020, analisar a economia global e não mencionar os impactos da pandemia do novo Coronavírus se tornou tarefa quase impossível. Contudo, se esconde aí grande perigo, afinal, pressupor a pandemia como o marco zero da atual situação financeira no mundo, é um erro. Sim, existe o impacto, mas é preciso analisar o movimento do capitalismo global desde antes e para além da pandemia. Fazer essa analise é justamente a proposta da nova edição do programa Ponto de Pauta, que trouxe como tema “a crise do capitalismo em meio a pandemia” e contou com a presença do pesquisador, doutor em ciências sociais e docente da Unesp, no campus de Marília, Giovanni Alves. Confira abaixo alguns trechos e, ao final, a íntegra da entrevista.

Desaceleração

Para Giovanni, é fundamental ter em mente que a economia global já passava por um processo de severa desaceleração, com baixas taxas de crescimento e princípio de recessão antes mesmo do início da pandemia – processo inclusive alertado por entidades como FMI, Banco Mundial e OCDE. “A pandemia, quando ela chega, ela acelera processos que já estavam em andamento”, avalia Alves.

Nesse sentido, o professor destaca que é preciso entender a dinâmica da pandemia do novo Coronavírus a partir de alguns vetores. O primeiro deles é o vetor que oculta o desastre econômico, o que significa dizer que a pandemia acaba por maquiar questões chave para entender a crise do capitalismo, como por exemplo a própria desaceleração ou recessão, além de temas históricos como concentração de renda e desigualdade social. Tais questões perdem espaço no debate público a medida que a pandemia é definida como o fator fundador da atual situação. No caso do Brasil, Giovanni é taxativo ao afirmar: “o vírus não é responsável pela direção e pelos resultados da política econômica (de Jair Bolsonaro)”.

O segundo vetor é o de acelerar processos. Para o professor, as mudanças e a dinâmica da organização do trabalho são bons exemplos para se entender os profundos impactos da aceleração provocada pela pandemia. Por fim, o terceiro vetor, segundo Alves, é aquele no qual o virús expõe as limitações do capitalismo, por exemplo no trato com a questão da saúde pública. “Vamos pensar que as pandemias se tornam elemento constitutivo desta civilização. Nós estamos preparados para essas mudanças metabólicas?”, questiona o professor, que usa os Estados Unidos da América como exemplo das limitações do capitalismo expostas pelo coronavírus. No caso da nação norte americana, apesar de figurar entre os países mais desenvolvidos do mundo, o número de mortes ultrapassa 300mil. “E no Brasil é explícita essa incapacidade da classe dominante de ter criado condições para que a gente enfrente o futuro. Porque o futuro já chegou e o futuro é isso”, conclui o sociólogo.

Capital, natureza e necropolítica

Outro ponto abordado por Giovanni Alves na entrevista ao Ponto de Pauta trata da necessidade de percebermos a pandemia como uma manifestação da relação destrutiva entre capitalismo e natureza. “A pandemia expôs uma contradição que já vem se manifestando há algum tempo, que é a contradição entre o capital e a natureza. Quer dizer, o capital está destruindo a natureza e a natureza está fazendo revanche. Nós já vimos isso na questão da mudança climática e estamos vendo isso na pandemia. O novo Coronavírus é produto de um sistema metabólico de relação entre o homem e a natureza”, avalia o professor.

Nesse sentido, da relação entre homem e natureza, o professor encaixa também um eixo fruto de muitos debates em 2020 na busca de entender como se movimenta a política perante a crise sanitária: a necropolítica. Para Giovanni, vivemos agora uma situação inédita, com a convergência entre as contradições fundamentais do modo de produção capitalista – e que vivem uma crise muito anterior à pandemia – e as contradições metabólicas entre capital e natureza.  A confluência dessas duas crises, e a incapacidade do capitalismo de lidar com ambas – ou sequer uma delas – é um evento inédito. E aí entra fundamentalmente a ideia da necropolítica.

“Qual a diferença nesse momento? A diferença é de que (a necropolítica) possa se tornar uma política de Estado. E ela se torna uma política de uma forma muito sútil. Uma lei do teto do gasto público, nessas condições de crise de civilização, ela é meramente uma lei da necropolítica”. E nesse sentido, o professor acredita que mesmo que um governo que ele define como de “centro-esquerda” volte ao poder, será muito difícil mudar essa condição. Para isso é necessário mudar uma lógica de Estado, o que só é possível com um processo mais complexo, que envolva forte mobilização popular, cita Giovanni Alves.

Veja a entrevista na íntegra:

Texto: Rafael Balbueno

Edição: Bruna Homrich

Imagem: Divulgação

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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