Pesquisa aponta que pandemia afetou vida de 95% dos profissionais da saúde
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Atualizada em
30/03/21 18h23m
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Levantamento da Fiocruz mostra que 50% desses(as) trabalhadores(as) admitem excesso de trabalho
De acordo com os resultados da pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19, realizada pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) em todo o território nacional, e divulgada na última segunda (22), a pandemia, que se estende há mais de um ano, alterou de modo significativo a vida de 95% de trabalhadores(as) da área da saúde. Os dados revelam, ainda, que quase 50% admitiram excesso de trabalho ao longo desta crise mundial de saúde, com jornadas para além das 40 horas semanais, e um elevado percentual (45%) deles necessita de mais de um emprego para sobreviver.
O mais amplo levantamento sobre as condições de trabalho dos(as) profissionais de saúde desde o início da pandemia avaliou o ambiente e a jornada de trabalho, o vínculo com a instituição, a vida do profissional na pré-pandemia e as consequências do atual processo de trabalho envolvendo aspectos físicos, emocionais e psíquicos desse contingente profissional.
“Após um ano de caos sanitário, a pesquisa retrata a realidade daqueles profissionais que atuam na linha de frente, marcados pela dor, sofrimento e tristeza, com fortes sinais de esgotamento físico e mental. Trabalham em ambientes de forma extenuante, sobrecarregados para compensar o elevado absenteísmo. O medo da contaminação e da morte iminente acompanham seu dia a dia, em gestões marcadas pelo risco de confisco da cidadania do trabalhador (perdas dos direitos trabalhistas, terceirizações, desemprego, perda de renda, salários baixos, gastos extras com compras de EPIs, transporte alternativo e alimentação)”, explica a coordenadora do estudo, Maria Helena Machado.
43,2% não se sentem protegidos
Os dados da pesquisa indicam que 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho de enfrentamento da Covid-19. O principal motivo, para 23% deles, está relacionado à falta, à escassez e à inadequação do uso de EPIs (64% revelaram a necessidade de improvisar equipamentos).
Alguns temores externados pelos(as) participantes da pesquisa:
- Medo generalizado de se contaminar no trabalho (18%);
- Ausência de estrutura adequada para realização da atividade (15%);
- Fluxos de internação ineficientes (12,3%);
- Despreparo técnico dos profissionais para atuar na pandemia foi citado por 11,8%;
- 10,4% denunciaram a insensibilidade de gestores para suas necessidades profissionais.
Prejuízos à saúde mental
Segundo o levantamento efetuado pela Fiocruz, foram também detectadas graves e prejudiciais consequências à saúde mental daqueles que atuam na assistência aos pacientes infectados.
Conforme a pesquisa, as alterações mais comuns no cotidiano, citadas pelos (as) profissionais foram:
- Perturbação do sono (15,8%);
- Irritabilidade/choro, frequente/distúrbios em geral (13,6%);
- Incapacidade de relaxar/estresse (11,7%);
- Dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%);
- Perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza/apatia (9,1%);
- Sensação negativa do futuro/pensamento negativo, suicida (8,3%);
- E alteração no apetite/alteração do peso (8,1%).
Alteração na rotina, exaustão
Quando questionados a respeito das principais mudanças na rotina profissional, 22,2% declararam conviver com um trabalho extenuante.
Apesar de 16% de esses profissionais apontarem alteração referente a aspectos de biossegurança e contradições no cotidiano, a mesma proporção relatou melhora no relacionamento entre as equipes.
O estudo demonstra ainda que 14% da força de trabalho que atua na linha de frente do combate à Covid-19 no país está no limite da exaustão.
Perfil: 77,6% da força de trabalho é feminina
O questionário da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e do Centro de Estudos Estratégicos (CEE/Fiocruz) contemplou, além de médicos, enfermeiros, odontólogos, fisioterapeutas e farmacêuticos, todas as categorias profissionais da área da Saúde, inclusive administrador hospitalar, engenheiro (segurança do trabalho, sanitarista) e um expressivo número de residentes e graduandos da área da saúde, em mais de dois mil municípios.
Os dados revelam que a Força de Trabalho durante a pandemia é majoritariamente feminina (77,6%).
A maior parte da equipe é formada por enfermeiros (58,8%), seguida pelos médicos (22,6%), fisioterapeutas (5,7%), odontólogos (5,4%) e farmacêuticos (1,6%), com as demais profissões correspondendo a 5,7%. Importante registrar que cerca de 25% deles foram infectados pela Covid-19.
A faixa etária relativa aos profissionais da linha de frente mais comum é entre 36 e 50 anos (44%).
Trabalhadores jovens, de até 35 anos (38,4%), também possuem grande representatividade na assistência.
No quesito cor ou raça, 57,7% declararam-se brancos, 33,9% pardos e 6% pretos.
O levantamento indica, ainda, que 34,5% dos profissionais trabalham em hospitais públicos, 25,7% na atenção primária e 11,2% atuam nos hospitais privados.
A maior parte está concentrada nas capitais e regiões metropolitanas (60%).
O questionário sobre as Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil obteve mais de 25 mil participantes. Desses, aproximadamente 16 mil representam o universo das profissões de saúde, segundo o Conselho Nacional de Saúde, contempladas nesta pesquisa. As demais categorias, que incluem técnicos, auxiliares e trabalhadores de nível médio, fazem parte da pesquisa inédita “Os trabalhadores invisíveis da Saúde”, cujos resultados serão divulgados ainda neste ano.
A pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil teve apoio das seguintes entidades/instituições Conass, Conasems, CNS, Cofen, CFM, FIO, ISP, FCMMG/FELUMA, UFAM, Nescon/UFMG , UFPA, Icict, IAM e Gereb.
Confira a íntegra dos dados da pesquisa, clicando aqui.
Fonte: Fiocruz
Foto: EBC
Edição: Fritz R. Nunes (Sedufsm)