Dica cultural: professor sugere leitura de ‘Serotonina’
Publicada em
23/04/21 12h37m
Atualizada em
23/04/21 12h45m
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José Marcos Froehlich indica livro do “polêmico” Michel Houllebecq
Sextou na quarentena! Nesta sexta, 23, a dica cultural é de autoria do professor do departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM, José Marcos Froehlich. Ele sugere a leitura de uma das obras do escritor e ensaísta francês, Michel Houllebecq, Serotonina. Houllebecq é um dos autores franceses mais lidos da atualidade, mas também adjetivado como um dos mais polêmicos. Na visão de Froehlich, Serotonina “traça um retrato controverso e desconfortável de uma classe média esgotada e assombrada por sentimento de culpa e de pecado diante de um mundo que ajudou a construir, mas que não a satisfaz”. Boa leitura!
“Muito tem se divulgado que a pandemia da Covid-19, além das mortes e danos à saúde e à economia, também está causando uma pandemia de depressão e problemas mentais. Mas esta pandemia é pré-pandemia...diz-se, aliás, que é o mal do século XXI. Pois, coerente com sua trajetória em abordar sempre temas polêmicos e incômodos ao mainstream do politicamente correto, Michel Houellebecq nos brinda com Serotonina, livro que condensa no título os sintomas e anseios do nosso tempo.
Ao narrar a vida de um homem acossado pela depressão em meio ao contexto social da globalização e da crise dos agricultores franceses, decorrente dos grandes acordos comerciais que sustentam os blocos econômicos mundiais, Houellebecq nos faz mergulhar nas águas turbulentas em que navegam os humanos contemporâneos ao se defrontarem com suas margens de escolhas. Com um senso acachapante de realidade, bordado de fina ironia e desencantamento, Houellebecq compõe um painel perspicaz de nossa época através dos sintomas e dilemas do seu anti-herói, verdadeiro arquétipo do sujeito líquido.
Bauman certamente reconheceria aqui, a personagem que encarna o mal-estar que sua análise sociológica buscou insistentemente flagrar. Além dos convencionalismos sociais de qualquer naipe, Serotonina traça um retrato controverso e desconfortável de uma classe média esgotada e assombrada por sentimento de culpa e de pecado diante de um mundo que ajudou a construir, mas que não a satisfaz.
Houellebecq é, antes de tudo, um leitor do nosso mundo, o que explica o porquê sua literatura gera tanto incômodo e retaliação, principalmente por parte dos que acariciam os grilhões do politicamente correto, crendo em soluções fáceis, geralmente maniqueístas. Se na vida como ela é, há alguns mais culpados que outros, também é certo que ninguém é completamente inocente. Na vida e na literatura não há concessões”.
SEROTONINA; Michel Houellebecq; Editora: Alfaguara; Tradução: Ari Roitman e Paulina Wacth; Lançamento: 2019.
Professor José Marcos Froehlich
Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM.
Graduado em Agronomia (UFSM), mestre em Sociologia (UFRGS) e doutor em Ciências Sociais (UFRRJ).
Edição: Fritz R. Nunes
Imagens: Wikimedia Commons; arquivo pessoal
Assessoria de imprensa da Sedufsm