UFSM: entidades questionam falta de diálogo no processo à sucessão da reitoria SVG: calendario Publicada em 21/06/21 17h43m
SVG: atualizacao Atualizada em 21/06/21 18h07m
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Pesquisa de opinião aprovada no Conselho Universitário não teve discussão prévia com a comunidade

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Prédio da Reitoria da UFSM, onde se localiza a Administração Central

Na quinta, 24 de junho, das 7h às 22h, os três segmentos da UFSM- docentes, estudantes e técnicos (as)- poderão participar de uma pesquisa de opinião, virtual, para referendar a única chapa inscrita para o processo de sucessão à reitoria da universidade. Após a realização dessa pesquisa, o resultado será encaminhado para avaliação dos conselhos superiores, que têm o papel de encaminhar a lista para o governo federal definir quem será nomeado (a). O modelo desenvolvido na universidade foi discutido e aprovado em sessão do Conselho Universitário, sem que representações das entidades tenham sido chamadas a opinião. Esse é o melhor formato, a melhor alternativa?

Para o vice-presidente da Sedufsm, professor Ascísio Pereira, a forma como foi definida essa metodologia de consulta à comunidade (pesquisa de opinião) criou um problema, que é “o da falta de envolvimento da comunidade com o processo, ou seja, dos três segmentos”. E, isso, segundo ele, acarretou um desinteresse.

“O formato de pesquisa de opinião foi pensado de uma forma fechada, dentro de pequenos grupos e depois encaminhado ao Conselho Universitário. Por que os segmentos não foram convidados a discutir essa metodologia?”, questiona Ascísio. “Até se considera que os nomes que compõem a única chapa que se inscreveu à pesquisa são respeitados”. Contudo, ele entende que a forma como o processo foi encaminhado levou a uma “desmotivação”, o que afeta a democracia interna.

Tânia Flores, da coordenação geral do sindicato dos (as) técnico-administrativos (as), Assufsm, vinculada à Fasubra, também critica a falta de interação com as entidades. Na avaliação dela, o “processo está comprometido, pois o próprio conselho está encaminhando a ‘pesquisa’ e, posteriormente, a eleição. Infelizmente, as entidades, que normalmente encaminhavam a pesquisa, de forma paritária, e posteriormente comunicavam o resultado ao Colégio Eleitoral, não foram ouvidas”. E complementa: “um retrocesso em relação a outros processos”.

Precedente perigoso

Luiz Eduardo Bonetti, da coordenação do DCE da UFSM, também reclama da falta de diálogo. “Por mais que possa aparentar ter pouca importância a curto prazo, a falta de diálogo com as entidades representativas da UFSM, na construção da proposta para o processo de sucessão terá um preço caro a ser pago a médio e longo prazo”, avalia o estudante. Na visão do DCE, a forma como foi encaminhado o processo “gera um precedente perigoso, que restringe, ao invés de ampliar, a democracia universitária. Num cenário de intervenções como o atual, caso tenhamos uma intervenção pelo governo Bolsonaro na UFSM, este com certeza será um respaldo para uma lógica antidemocrática”, destaca Bonetti.

Contudo, para o representante estudantil, ainda é cedo para fazer uma análise sobre a estratégia adotada. “Um dos pontos centrais para essa análise será a legitimidade do processo perante a comunidade. E isso se dará apenas após o resultado da pesquisa, e ainda, dentro das discussões no Conselho Superior”. De qualquer forma, diz ele, a pesquisa é, na realidade, apenas uma das etapas necessárias. “Ainda é necessário avaliar qual será o movimento feito dentro dos Conselhos Superiores para garantir que a lista seja formada, conforme a decisão tomada pela comunidade acadêmica”, pondera Bonetti.

“No nosso entendimento, não foi a melhor solução, pelo fato de que esse formato não tem conexão com os cargos-Reitor e Vice, aos quais a consulta se propõe”. Essa avaliação é de Clovis Senger, da seção sindical da Atens na UFSM (Sindicato dos Técnicos de Nível Superior das Instituições Federais de Ensino). Essa situação, segundo ele, “poderá acarretar confusão, pois as pessoas não saberão efetivamente para qual cargo estarão elegendo as pessoas da chapa”.

Alejandro Lezcano Schwarzkopf, que é secretário de Administração do Sinasefe/Santa Maria, analisa que a questão (do formato) não pode ser julgada como certa ou errada e, sim, como “a única capaz de apresentar alguma resistência diante do contexto de intensificação do autoritarismo sobre as instituições produtoras e promotoras de conhecimentos científicos e técnicos, como são as Universidades Federais e os Institutos de Federais de Educação Científica e Tecnológica”.

Para o dirigente do Sinasefe, “as relações estruturantes/estruturadas destas/nestas instituições compõem um dos importantes espaços sociais de produção e de ressignificação de saberes, estimulando a autonomia das comunidades nas quais estão inseridas, pois é a liberdade de pensamento, de opiniões e de ações que ‘assombra’ o atual governo que, para manter uma base de apoio doutrinada, nega a ciência e, o que é pior, os benefícios sociais por ela produzidos”.

Autonomia atacada

Uma dúvida assola a todos e todas. O formato desenvolvido na UFSM, de realizar uma pesquisa de opinião, e também de promover inscrição por chapa (com 3 nomes do mesmo grupo político) será suficiente para “driblar” a postura autoritária do governo de Jair Bolsonaro?

A coordenadora da Assufsm, Tânia Flores, afirma que “de forma alguma”. Ela ressalta que “a comissão eleitoral foi nomeada no conselho e as entidades não tiveram espaço para discutir nem mesmo o regimento eleitoral, que já estava pronto”. E acrescenta: “já tivemos exemplos iguais em outras universidades. Apesar de a autonomia universitária, consagrada na Constituição, estar sendo atacada diariamente por este governo, isso parece não estar preocupando os gestores. Prova é essa ‘tentativa’ de se adequar”, critica Tânia.

Ascísio Pereira, vice-presidente da Sedufsm, entende que a metodologia da UFSM “não está resolvendo o problema”. Segundo ele, “não temos garantia de que nos conselhos não haverá indicação de outros nomes. Não se sabe se os três nomes da chapa inscrita serão os referendados”. Portanto, avalia ele, existe uma “insegurança jurídica e política sobre essa questão, pois os conselheiros têm, do ponto de vista legal, o direito de indicar nomes de fora da chapa inscrita para a pesquisa”. E conclui: “entendemos que a democracia na instituição precisa ser vivida, ter o envolvimento das pessoas, para que o processo tenha legitimidade do início ao fim”.

Democracia enfraquecida

Para o dirigente da Atens, Clovis Senger, “faltou diálogo com a comunidade universitária na busca da melhor alternativa para evitar os arroubos autoritários do governo federal em relação às nomeações nas IFEs”. Na ótica dele, o fato de a condução do processo ter alijado os atores envolvidos numa possível coalizão, enfraquece a democracia interna “frente a uma possível intromissão antidemocrática por parte do governo”.

Na visão de Alejandro Schwarzkopf, do Sinasefe, o formato de consulta à comunidade da UFSM representa um “paliativo” e avalia que “talvez não seja suficiente para manter as Universidades e os Institutos Federais longe dos ímpetos antidemocráticos do governo de Jair Bolsonaro”. Isso porque, segundo ele, já existe um controle do governo sobre as instituições, que se verifica através dos cortes nos repasses das verbas federais, o que limita sobremaneira as ações educativas. “Além disso, nada nos garante que, para o ano de 2022, o qual se vislumbra ser de intensas polarizações políticas em função das eleições federais e estaduais, as escolhas das comunidades universitárias sejam respeitadas”, complementa.

Então, afinal, a tentativa de “drible” da UFSM na postura autoritária do governo Bolsonaro soluciona a questão da democracia interna?

Luiz Eduardo Bonetti, do DCE, afirma que “com toda a certeza, não”. Para ele, caso dê certo essa tentativa, evitando uma intervenção (do governo), isso se refletirá na manutenção, para os próximos quatro anos, em uma gestão legítima perante a comunidade acadêmica. Contudo, avalia ele, “isso não resolverá, por exemplo, os cortes no orçamento, e os ataques das mais diversas formas às Universidades Federais por parte de Bolsonaro e seu governo.

Para o dirigente estudantil, é importante destacar que, para além desses cortes, ainda há um outro ponto importante que se refere à disponibilidade de verba para a UFSM, que deverá se dar, conforme Bonetti, a partir de acordos a serem firmados com o MEC, que “vem adotando uma política de chantagens com as Universidades”. Nesse sentido, acrescenta ele, somente uma “gestão que seja forte programaticamente e que tenha como pilares a defesa incontestável da Universidade Pública, Gratuita, de Qualidade e que paute a construção desta, conforme os interesses do povo brasileiro, será capaz de superar essa lógica de destruição das nossas Universidades. Uma gestão subordinada ao governo apenas irá contribuir para a privatização e destruição da UFSM”.

Nesta terça 22, às 15h, a Sedufsm promove uma live para debater a democracia e a autonomia universitária, que terá transmissão pela página da Sedufsm no Facebook e pelo canal do sindicato no Youtube. Como é usual, o debate terá o acompanhamento de intérpretes de libras.

A pesquisa

A única chapa inscrita para a pesquisa de opinião, no formato virtual, junto aos segmentos da UFSM, é liderada pelo atual vice-reitor da instituição, professor Luciano Schuch, e pelas professoras Martha Adaime (departamento de Química) e Cristina Nogueira (departamento de Bioquímica Molecular). A pesquisa, que ocorrerá na quinta, 24 de junho, se dará através da plataforma “Helios Voting”, regulamentada na Universidade através da Instrução Normativa UFSM N. 001/2021. 

 

Entrevistas e texto: Fritz R. Nunes
Imagens:UFSM
Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

 

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