UFSM recebe intervenções artísticas e rodas de debate sobre violência de gênero SVG: calendario Publicada em 26/11/15 21h10m
SVG: atualizacao Atualizada em 17/12/15 19h07m
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Atividades ocorreram nesta quarta-feira, 25

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No Dia da Não-Violência Contra a Mulher, lembrado na última quarta-feira, 25, a UFSM recebeu diversas atividades que visaram trazer à tona, mais uma vez, debates como opressão de gênero, saúde da mulher e violência doméstica. Ao meio dia, uma intervenção teatral e uma roda de conversa preencheram parte do hall do Centro de Tecnologia (CT), enquanto ao fim da tarde foi a vez do Centro de Educação (CE) sediar nova apresentação artística – dessa vez, no formato de dança – e mais um debate com a comunidade acadêmica. As ações de mobilização foram pensadas para dar corpo, na universidade, à campanha internacional dos 16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra a Mulher.

O início do calendário desta quarta foi marcado pela apresentação da peça teatral ‘Desculpa, mas eu não pertenço a esse mundo’, concebida pela Cia Teatro no Buraco, grupo local de artistas que, em suas produções, procura abordar problemáticas sociais, tais como racismo, violência infantil e corrupção. A peça apresentada no hall do CT tinha como mote a violência contra as mulheres, especialmente aquela sofrida no espaço privado e que tem, na lógica da submissão ao homem, um dos principais alicerces. Fazendo referência a princesas que permeiam o imaginário infantil – como Cinderela e Branca de Neve -, a peça parte do grau máximo de idealização e chega até a realidade do chão de casa: num primeiro momento, a personagem sonha com um príncipe que virá resgatá-la e trará, junto ao anel de noivado, a felicidade há tanto esperada. Tudo parece perfeito, até que começam as agressões domésticas, as quais são tratadas, a princípio, com naturalidade pela vítima.

Mas a constância e intensidade da violência tornam-se insuportáveis a tal ponto que levam a mulher a agredir física e ferozmente o agressor. Foi a única via encontrada para sua libertação. A peça desconstrói o ideário de que a mulher precisa de um homem para ser completa. E mais: escancara a verdadeira face de muitos dos príncipes, desenhados como homens perfeitos, mas que fazem do lar e do matrimônio uma prisão que aplica, cotidianamente, as mais perversas formas de punição. “No Brasil, uma mulher é espancada a cada três ou quatro minutos. Isso quer dizer que, durante esse nosso breve encontro, foram seis ou sete”, encerrou o ator.

Agressão privada e silenciosa

Indo ao encontro do que foi problematizado na peça de teatro, a doutoranda em Enfermagem na UFSM, Laura Ferreira Cortes, reforçou que a maior incidência de violência contra a mulher é encontrada dentro de casa. Ela, que em sua tese trabalha com a rede de atenção às mulheres vítimas de violência, cita as ameaças, a dependência financeira e o envolvimento emocional como fatores que levam mulheres a não denunciarem os agressores ou, por vezes, mostrarem-se ambivalentes: num momento procuram ajuda, no outro desistem de externar o sofrimento. Para Laura, as mulheres ainda estão em posição de desvantagem em relação aos homens, sendo a desigualdade salarial um dos exemplos disso.

Outra intervenção, essa realizada pela psicóloga Lucia Martis, trouxe o recorte de etnia para o debate de gênero. Machismo e racismo são opressões que, conjugadas, colocam as mulheres negras como as principais vítimas de violência. E os dados trazidos por ela corroboram a afirmação: entre 2003 e 2013, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil aumentou 19,5%, enquanto a taxa de homicídios contra mulheres brancas diminuiu 11,9%.

Tanto Laura quanto Lucia compõem o Fórum de Mulheres de Santa Maria, órgão que foi parceiro na elaboração das atividades desta quarta, 25 de novembro. Outros coletivos feministas como El@s; Educação e Gênero e Núcleo de Estudos Mulheres, Gênero e Políticas Públicas (NEMGeP) também estiveram na construção do calendário. As primeiras atividades do dia foram uma parceria entre esses grupos e estudantes que organizam a I Semana Feminista do Centro de Tecnologia da UFSM.

Ainda ao meio dia, duas alunas do curso de Medicina que compõem a Liga de Infectologia explicaram sobre os diferentes métodos contraceptivos que podem ser usados pelas mulheres, seus eventuais riscos e ainda demonstraram como se usa o preservativo feminino. Para Maria Celeste Landerdahl, diretora da Sedufsm, o preservativo feminino é o método contraceptivo que mais empodera a mulher, tendo em vista que sua utilização concede total autonomia.

Tassiane Moreira, uma das acadêmicas, acredita que as taxas de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s) em Santa Maria só cairão quando o assunto deixar de ser tabu. Dados provenientes do Ministério da Saúde apontam que, entre 2009 e 2013, o município ocupou o 10º lugar no ranking das cidades com mais de cem mil habitantes no que se refere à incidência do vírus HIV.

.As faces de Nayara

Encerrando as atividades dessa quarta (e ainda dentro da programação dos “16 dias de ativismo” na UFSM), o espetáculo de dança “As faces de Nayara” foi o ponto de partida para mais um espaço de discussão sobre a violência contra as mulheres.  Encenado no hall do Centro de Educação, prédio 16B, a apresentação de dança saltava aos olhos de quem por lá passava, bagunçando o cotidiano do ir e vir dos corredores. E a intenção era justamente essa. Dirigido por Pedro Henrique Machado e apresentado pelas professoras do curso de Dança da UFSM, Marcia Feijó e Tatiana Wonsik, juntamente com a estudante também do curso de dança, Liana Cunha, “As faces de Nayara” é um espetáculo intenso. Criado a partir da Língua Brasileira de Sinais e mesclando dança moderna, dança contemporânea e dança-teatro, o espetáculo expõe a discussão sobre as relações de gênero, os conflitos entre os papéis sociais históricos, a opressão, a violência e, finalmente, a solidariedade e a libertação. “Com certeza essas coisas vivenciadas e vistas, tanto nessa dança quanto nessa conversa, vão ficar ecoando daqui pra frente. E um dos principais objetivos dessa atividade era justamente nos fazer pensar”, destacou a secretária-geral da Sedufsm, Márcia da Paixão, uma das organizadoras da atividade.

E além da reflexão, o reconhecimento foi uma das tônicas da conversa que se seguiu após a apresentação. No bate papo, muitas foram as mulheres presentes no hall do CE que afirmaram terem se identificado com o que acabaram de ver. E essa proximidade, segundo a professora Marcia Feijó, não é uma exclusividade de quem assiste o espetáculo, já que as próprias mulheres envolvidas na construção e execução da apresentação encaram questões muito íntimas em “As faces de Nayara”. “Voltam todas as nossas lembranças de mulher e, mesmo quando a gente está ensaiando, é um momento de reflexão dessas questões”, afirma Marcia, que complementa dizendo que após a apresentação do espetáculo completo, realizada no Theatro Treze de Maio (nessa quarta, no CE, a apresentação foi adaptada em apenas uma parcela do espetáculo), ouviu de uma espectadora que “isso é a vida de todas nós”. Para a professora Tatiana, ainda há outra questão de fundo, que se soma à opressão de gênero, que é o fato de a Dança também sofrer preconceito enquanto área do conhecimento. A essa questão a professora Marcia Feijó complementa: “Para nós a dança também é um ato de libertação”.

O papel da Universidade

Conforme destacou a diretora do Centro de Educação, Helenise Sangoi, que esteve presente acompanhando a apresentação, atividades como essa explicitam algumas questões importantes de se discutir dentro da universidade. Para Helenise, espaços como esse são fundamentais, mas deveriam ser acompanhados de uma política de gênero institucional. “O professor deveria ser preparado para isso. O debate de gênero deveria perpassar todo o tempo dos estudantes na universidade, deveria estar no currículo”, ressalta Helenise. Além disso a diretora lembra que, no caso do Centro de Educação, a formação é justamente em profissionais da educação, professoras e professores que possivelmente, e infelizmente, enfrentarão situações de violência de gênero no seu trabalho. “A gente só se liberta da opressão pelo conhecimento. Não tem outro jeito”, declara Helenise Sangoi. Para a diretora da Sedufsm, Márcia da Paixão, é fundamental que institucionalmente o debate seja reconhecido. Contudo, enquanto se luta por isso sem obter efetivamente resultados, espaços como esse, construídos de maneira independente, têm um grande valor. “Eu acho que em pequenas rodas como essa a gente também faz o movimento de mudança”, destacou Márcia. E ao final esse era um sentimento latente entre as pessoas presentes. A ideia de que um bom caminho já foi percorrido, mas um longo e árduo percurso ainda há pela frente. E especialmente que possamos seguir avançando, abrindo caminho através das pinhas, assim como em “As faces de Nayara”.

O espetáculo “As faces de Nayara” é de responsabilidade do Grupo de Pesquisa Linguagem, Arte do Movimento e Estudos da Dança (Lamed/UFSM).

 

Texto e fotos: Bruna Homrich e Rafael Balbueno

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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